Logo Folha de Pernambuco

Zoom

Novo coronavírus traz diferentes riscos de contágio em cada lugar

Apesar de a principal forma de transmissão ocorrer no contato entre pessoas, sabe-se que o micro-organismo se espalha facilmente em qualquer superfície.

Aglomerações aumentam risco no transporte públicoAglomerações aumentam risco no transporte público - Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Com um saldo de mais de 9 milhões de casos e 220 mil mortes confirmadas, a pandemia provocada pelo novo coronavírus completa, no final deste mês, um ano no Brasil.

Foi na última Quarta-Feira de Cinzas, 26 de fevereiro de 2020, que o Governo de São Paulo confirmou o diagnóstico de um homem de 61 anos que, poucos dias antes, havia retornado de uma viagem à Itália, um dos primeiros países ocidentais a sofrer com a escalada da crise sanitária enquanto por aqui se brincava o Carnaval. Como se um aviso do destino nos dissesse para aproveitar, ao máximo, qualquer dose de folia antes que os difíceis novos tempos chegassem.

Onze meses depois, a rotina continua restritiva. Só em Pernambuco, os números de casos diários atingem a casa dos milhares, enquanto os de mortes variam de uma a três dezenas.
 
São altos. Depois de um período de estabilidade e queda no segundo semestre, permitindo uma flexibilização nas restrições nos diversos setores econômicos, a curva voltou a subir em dezembro, comprometendo as festas de Natal e Ano-Novo.

É nesse contexto que o País começa a vacinar a população, o que, de fato, traz uma projeção de saída da pandemia. Mas isso não vai se concretizar nem tão cedo, visto que a entrega de insumos e a distribuição de doses seguem um ritmo lento.

Até agora, menos de 2% dos brasileiros tomaram a vacina - muito longe dos 70% necessários para se atingir a imunidade coletiva. Por isso, até que se retorne a uma situação de maior segurança sanitária, os cuidados de prevenção à Covid-19, em especial o uso de máscara, a lavagem das mãos e o distanciamento social, devem ser mantidos.

Por outro lado, desde novembro, vigora no Estado o “novo normal”. Isso significa que a maioria dos escritórios, estabelecimentos comerciais e áreas de serviço e lazer - além das escolas, que voltaram a funcionar nesta semana - têm permissão para abrir desde que cumpram protocolos baseados naqueles cuidados mencionados no parágrafo anterior. Daí vem o alerta.

Agente infeccioso transmitido por vias respiratórias, o Sars-Cov-2, nome científico do novo coronavírus, se espalha com facilidade por qualquer lugar, em superfícies das mais diversas, inclusive em pisos e paredes, embora a principal forma de transmissão continue sendo de uma pessoa para outra, por meio de tosse, espirro e fala, com a liberação de gotículas de saliva.

Em estudo divulgado em maio do ano passado, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) procuraram avaliar a presença do vírus em locais de grande circulação próximos a unidades de saúde em Belo Horizonte. Foram analisados cerca de mil pontos em paradas de ônibus, calçadas e praças. Em 50 deles, o micro-organismo foi encontrado.

“Não sei dizer se é uma taxa baixa ou alta porque foi a primeira análise desse tipo”, pondera o professor de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da instituição, Jônatas Abrahão. “O que o estudo mostra não é necessariamente o risco de transmissão por superfície, mas que pessoas infectadas estão circulando nessa região e contaminando os aparelhos públicos”.

Para detectar essa presença, foram coletadas amostras por uma metodologia semelhante à do exame RT-PCR, em que é extraído um fragmento de secreção de um paciente suspeito por meio de um cotonete inserido no nariz.
 
“Utilizamos uma haste com algodão na ponta e passamos em uma área de dez centímetros quadrados. Depois, levamos o material ao laboratório, e a análise é bem parecida com a do teste. Extraímos o material genético com um kit”, explica Abrahão.

Embora não haja uma precisão sobre o quanto de carga viral em uma superfície seria suficiente para contaminar alguém, sabe-se que manter a higiene das mãos e evitar tocar o rosto são determinantes para se evitar a infecção.
 
“Existe um risco [pelo contato com objetos], mas a gente não sabe medir. O que a gente sabe é que uma pessoa infectada pode compartilhar um ponto de ônibus com alguém não infectado, e aí a transmissão pode acontecer pelo ar”, diz o professor Jônatas Abrahão.

Mesmo em lugares abertos, como o Parque da Jaqueira, é preciso usar máscaraMesmo em lugares abertos, como o Parque da Jaqueira, no Recife, é preciso caminhar de máscara (Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco)

Pontos de risco
Como a principal forma de contaminação ocorre pelas vias respiratórias, o grau de exposição ao vírus em cada lugar depende de fatores sociais. Pesquisadores de universidades norte-americanas projetaram uma escala, dividida por “risco baixo”, “médio” e “alto”, para os tipos de ambiente e atividade comuns no dia a dia (veja no infográfico abaixo). Entre os critérios que servem de base para a classificação, estão a ventilação dos espaços e a possibilidade de gerar aglomerações.

A escala parte de locais abertos, como parques e praias, onde atividades como caminhada, corrida de bicicleta e piquenique ao ar livre são consideradas de baixo risco. Pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE) e chefe do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) do Hospital das Clínicas de Pernambuco (HC-UFPE), o infectologista Paulo Sergio Ramos lembra, porém, que, mesmo nesses lugares, não se pode relaxar nos cuidados.
 
“Esses locais, por serem arejados, fazem com que as pessoas tenham uma tendência a frequentá-los sem máscara”, afirma. “Além disso, superfícies de cadeiras, mesas e bancos compartilhados por muitos usuários podem também aumentar o risco”. O documento dos pesquisadores estadunidenses recorda ainda o potencial de atrair multidões, o que precisa ser evitado.

Os locais a que se deve ter mais atenção, e classificados como de risco alto do ponto de vista epidemiológico, são os ambientes fechados e capazes de juntar muita gente em uma área pequena. É o caso de cinemas, teatros, templos religiosos, avião e transporte público, mas também de boates e casas de festas e shows, onde o consumo de bebida alcoólica favorece o descuido com os protocolos de segurança.

À parte, ficam as escolas, que congregam diferentes tipos de espaços de convivência e reúnem pessoas de diversas faixas etárias. Por isso, as instituições obedecem a protocolos específicos, sempre levando em conta a necessidade do uso de máscara e o distanciamento social.

Infográfico - Riscos de contágio por covid-19

Cuidados
Para entender como as pessoas estão buscando se prevenir do coronavírus, a Folha de Pernambuco percorreu espaços de grande circulação no Recife. Morador de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, o comerciante Jean Rildo da Silva Júnior, de 20 anos, vai todos os dias à praia de Boa Viagem, na cidade vizinha, onde vende lanches e bebidas.
 
Com máscara e borrifador de álcool nas mãos, ele conta que perdeu um tio para a Covid-19 e que a avó, a dona da barraca onde trabalha, também teve a doença e chegou a ficar entubada.

Desde então, redobra os cuidados. “Aqui os clientes só entram de máscara”, afirma. “A circulação é muito grande, e o vento também. Às vezes, a pessoa passa, dá uma tossida, sem máscara, não vê, bate em outra pessoa, que esfrega o rosto sem querer. Tem que ter sempre cuidado. Então, quando eu chego em casa, já deixo a máscara de molho e vou direto para o banheiro”.

O estudante Elias Germano de Oliveira Júnior, 23, costuma caminhar pela orla de Boa Viagem. Mesmo andando ao ar livre, ele diz que não deixa de usar a máscara. “Tem perigo e, de certa forma, grande, porque a gente passa e respira perto de muitas pessoas”, comenta.

Outro espaço que preocupa é o transporte público. Profissional de saúde que atua no atendimento a pacientes com Covid-19, a técnica de enfermagem Iara Amaral, 37, usa o ônibus e o metrô para sair de casa, em Jaboatão, para os dois locais de trabalho, em Santo Amaro, Zona Norte do Recife, e em Olinda.
 
No trajeto, ela identifica muitos passageiros que não seguem os protocolos. “Eu encontro muitas pessoas que não usam máscara e não se cuidam. Acho que não dão muito crédito a esse vírus. Mas a gente vê a realidade nos hospitais e muitas famílias perdendo parentes por conta desse descuido”, avalia.

Por meio de nota, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que está com 50% da demanda de usuários e que, na linha Centro, circulam dez trens com intervalo de oito minutos e pediu a compreensão dos passageiros para que, caso a lotação fique “acima do normal”, esperem a próxima composição.
 
O órgão destacou ainda ter reforçado a limpeza das estações e dos trens durante a pandemia e que o uso de máscara é obrigatório em todo o sistema de metrô. A empresa também disse realizar, desde março do ano passado, uma campanha educativa contra o coronavírus.

O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (GRCTM) também se manifestou por nota, dizendo que a fiscalização do uso de máscara dentro dos terminais é feita de forma educativa e que já distribuiu 38 mil peças para quem não tinha o protetor.
 
Já dentro dos ônibus, o órgão informou que o motorista tem o poder de solicitar o uso do acessório aos passageiros e as empresas operadoras devem instruir motoristas, fiscais e cobradores sobre a importância do uso do item de proteção. Sobre a lotação dos veículos, o consórcio afirmou que, desde 25 de janeiro, 100 coletivos voltaram a circular, reforçando a frota das linhas mais movimentadas, e que, na próxima semana, mais 50 ônibus estarão novamente à disposição dos usuários.

Por medo do contágio, há quem prefira fazer exercícios ao ar livre do que em academias fechadas. O autônomo Anderson Oliveira, 36, é uma dessas pessoas. Ele mora no bairro da Torre e, quatro vezes por semana, atravessa a ponte para se exercitar na Jaqueira, Zona Norte da Cidade.
 
“Eu acho melhor porque é mais ventilado”, comenta. Aluno da Academia Recife no parque, Carlos Barbosa, 32, vai todos os dias. “A gente só pode entrar de máscara e, na entrada, recebe álcool e um pano [para passar nas máquinas]”, conta. “Quando eu chego em casa, deixo os sapatos fora, boto a roupa para lavar e tomo um banho”.

Infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), o médico Bruno Ishigami avalia que o risco de contágio pela roupa é pequeno e, por isso, não requer um cuidado diferente do que já se toma cotidianamente ao colocar as peças para lavar.
 
“O mais importante é que a gente consiga manter o foco no uso de máscara de forma adequada, cobrindo boca e nariz, para garantir uma vedação e impedir que o vírus chegue às vias respiratórias”, argumenta.

Veja também

Dez membros da mesma família morrem em acidente aéreo em Gramado
Trágédia

Dez membros da mesma família morrem em acidente aéreo em Gramado

Paulista: dívida de R$ 25 milhões com empresa pode deixar cidade sem coleta de lixo no fim de ano
GRANDE RECIFE

Paulista: dívida de R$ 25 milhões com empresa pode deixar cidade sem coleta de lixo no fim de ano

Newsletter