Novo monarca dá novo estímulo ao debate sobre a independência da Escócia
Uma pesquisa do grupo "British Future" mostrou em junho que 45% dos escoceses apoiam a monarquia, contra 36% que desejam uma república
A morte da rainha Elizabeth II na Escócia associa o território à transferência da coroa a um novo monarca, mas o falecimento também reaviva o debate sobre a independência escocesa do Reino Unido.
Milhares de pessoas aguardaram por horas no domingo para observar a passagem do caixão da rainha de 96 anos, que foi levado do Castelo de Balmoral ao Palácio de Holyroodhouse, em Edimburgo, e a proclamação formal de Charles III como rei.
Como a Escócia tem uma forte tendência republicana, algumas vaias foram ouvidas no meio da multidão.
Uma mulher de 20 anos foi detida por exibir um cartaz com uma frase obscena contra a monarquia antes da proclamação do novo rei, momento em que também foram registradas vaias.
Para algumas pessoas na multidão, Elizabeth II e seu filho, o rei Charles III, representam a força do Reino Unido da Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e Gales.
"Ela era uma das coisas que mantinha o Reino Unido junto", disse Archie Nicol, 67 anos, que compareceu ao Castelo de Balmoral para prestar homenagem à monarca.
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Mas outros que expressaram a admiração pera rainha falecida explicaram que o sentimento é algo separado da vontade de ser um país independente.
"Está claro que a rainha respeitava a Escócia", disse Nicola Sandilands, uma professora de 46 anos.
"Mas talvez a morte de Elizabeth II facilite a transformação em uma república", acrescentou.
"Alguns escoceses considerarão o fim desta era como o momento natural para um novo começo", escreveu o jornalista escocês Alex Massie no jornal The Times.
Rainha dos escoceses
O governante Partido Nacionalista Escocês (SNP), que deseja organizar outro referendo sobre a independência - apesar da vitória do "Não" em 2014 -, não exige uma república.
O fundador do partido, Alex Salmond, estabeleceu uma relação próxima com Charles e foi que cunhou o termo "rainha dos escoceses".
E a atual líder do SNP e primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, expressou "profundas condolências" após a morte da rainha, além de elogiar sua "extraordinária dedicação e serviço".
Mas a transição para outro monarca baseado na Inglaterra, embora educado em um internato escocês e apaixonado por kilts escoceses, corre o risco de desfazer os laços.
"A união provavelmente corre mais perigo agora que ela não está mais aqui", escreveu o veterano jornalista Andrew Neil no Daily Mail.
"O rei Charles amará a Escócia tanto como a rainha, mas simplesmente não tem sua autoridade", completou.
Uma pesquisa do grupo 'British Future' mostrou em junho que 45% dos escoceses apoiam a monarquia, contra 36% que desejam uma república.
A pesquisa também mostrou 51% desejam permanecer como parte do Reino Unido.
Discrição
Antes de ser rei, Charles falava com frequência sobre vários temas, como a mudança climático, uma postura elogiada pelo jornal escocês Daily Record, que fez um apelo para que ele transforme o meio ambiente em sua missão como rei.
Mas como um monarca constitucional, ele deverá evitar temas políticos, em particular a independência.
"A transferência da coroa é um momento de fraqueza, talvez até de fragilidade", alertou Adam Tomkins, advogado constitucional e professor da Universidade de Glasgow, no jornal The Herald.
Ele destacou que a pergunta é saber se Charles III pode "emular sua mãe em manter a discrição com a qual a monarquie se mantém ou cai".
Elizabeth II nunca se pronunciou sobre a independência, embora antes do referendo de 2014 tenha afirmado que esperava que os escoceses "pensassem com muito cuidado sobre o futuro".
Charles III terá nesta segunda-feira (12) a primeira audiência com Sturgeon ao retornar à Escócia para liderar a procissão do caixão de sua mãe até a catedral de St. Giles, em Edimburgo.
O caixão será transportado de avião na terça-feira para (13) Londres, para o velório antes do funeral de Estado em 19 de setembro.
Charles III visitará Irlanda do Norte e depois Gales para completar as viagens pelas quatro nações do Reino Unido.
Em Edimburgo, a recepcionista Theresa Brown, 51 anos, disse que está feliz que Charles permaneça como rei da Escócia.
"Eu quero a independência de Westminster (sede do Parlamento). A família real não me incomoda", afirmou.