Novo primeiro-ministro do Canadá toma posse sob ameaça de guerra comercial e pressão dos EUA
Novo premier assume o cargo em meio a uma tempestade gerada pelas tarifas impostas por Trump, que repetidamente sugeriu que o Canadá poderia ser o 51º estado americano
Após dez anos de governo do canadense Justin Trudeau e em meio a ameaças comerciais e de anexação por parte dos Estados Unidos, Mark Carney, ex-presidente do Banco Central do Canadá, tomou posse nesta sexta-feira como o 24º primeiro-ministro do país.
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Carney foi empossado cinco dias após os membros do Partido Liberal canadense votarem de forma esmagadora para que ele substituísse Trudeau como líder do partido.
Carney, um novato na política que completará 60 anos no domingo, prestou juramento ao cargo em uma cerimônia em Ottawa perante à governadora-geral Mary Simon, representante do rei Charles III, chefe de Estado do Canadá.
O novo primeiro-ministro assume o cargo em meio a uma tempestade gerada pelas tarifas alfandegárias impostas pelo presidente Donald Trump, que repetidamente sugeriu que o Canadá poderia ser o 51º estado americano.
— Os americanos não devem se enganar: tanto no comércio quanto no hóquei, o Canadá vencera. O Canadá jamais fará parte dos Estados Unidos, de forma alguma. Isso nunca vai acontecer — declarou ele em seu discurso de vitória na semana passada, embora também tenha anunciado estar “pronto para sentar com Trump” para negociar um novo acordo comercial e evitar mais conflitos econômicos.
O novo premier trabalhou no banco de investimentos Goldman Sachs antes de dirigir o Banco Central do Canadá durante a crise financeira de 2008-2009 e o Banco da Inglaterra durante o Brexit.
Ele se apresenta como alguém solidamente preparado para liderar um país abalado pela guerra comercial alimentada pelos EUA, que costumava ser seu aliado mais próximo e no qual, disse, o Canadá “não pode mais confiar”.
A ascensão do ex-banqueiro ao cargo de líder do país é notável por várias razões. Ele é o primeiro-ministro canadense a assumir o cargo sem jamais ter ocupado uma cadeira na Câmara dos Comuns ou no Senado, exceto pelo primeiro líder do país, que foi nomeado antes da primeira eleição.
Ele também assume o cargo no que talvez seja o momento mais hostil nas relações Canadá-EUA na história recente.
Trump ameaçou usar a “força econômica” para tentar transformar o Canadá em um estado dos americano e já impôs tarifas elevadas sobre muitos produtos canadenses, com o Canadá retaliando da mesma forma.
As tensões comerciais entre os dois países já dificultaram os planos de negócios e consumo, e tarifas adicionais esperadas para o próximo mês têm o potencial de mergulhar o Canadá em uma recessão ainda este ano.
O canadense nomeou um Gabinete menor que o de seu antecessor — reduzindo de 37 para 24 pessoas — e com uma duração mais curta, já que uma eleição é esperada nas próximas semanas. Ele transferiu o ministro do Meio Ambiente, Steven Guilbeault, para uma pasta de “cultura e identidade canadense”, substituiu o ministro da Imigração, Marc Miller, por Rachel Bendayan e promoveu Anita Anand para a Indústria.
— Hoje, estamos construindo um governo que atende ao momento. Os canadenses esperam ação, e é isso que essa equipe entregará. Um gabinete menor, experiente, que se move mais rápido, garante nossa economia e protege o futuro do Canadá — declarou ele nesta sexta.
Carney planeja viajar para a França e o Reino Unido no início da próxima semana, um sinal de que ele acredita que seu governo precisa reforçar as relações com grandes países europeus que também são alvos da guerra comercial de Trump.
Ele ainda está preparando uma ligação com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy.
A posse de Carney marca o fim da era Trudeau, que foi marcada por programas sociais expansivos que melhoraram algumas medidas de igualdade, mas também viram o crescimento do produto interno bruto per capita ficar abaixo dos concorrentes do país.