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BRASIL

Novo voo com brasileiros deportados dos EUA chegará em Fortaleza; governo vê teste para protocolos

Previsão é que a maior parte dos deportados depois siga para Belo Horizonte por meio de um voo da FAB

Brasileiros que foram deportados dos EUA em aeroporto de Manaus, AmazonasBrasileiros que foram deportados dos EUA em aeroporto de Manaus, Amazonas - Foto: Michael Dantas/AFP

O terceiro voo deste ano com deportados brasileiros vindo dos Estados Unidos é visto como um teste para representantes do grupo de trabalho, formado por representantes dos governos do Brasil e dos EUA, criado na semana passada. Segundo interlocutores do Itamaraty, o trajeto será acompanhado passo a passo e ajustes serão feitos, se forem necessários.

Um diplomata brasileiro foi designado para acompanhar o embarque dos deportados. A previsão era de uma escala técnica em Porto Rico, com chegada em Fortaleza na parte da tarde, onde se espera que os passageiros desçam da aeronave sem algemas e correntes nos pés. O destino final será Belo Horizonte (MG), em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

 

Será montado, em Fortaleza e Belo Horizonte, um esquema de recepção dos brasileiros, com atendimento da equipe do Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM). A Polícia Federal atuará nos procedimentos migratórios e de segurança aeroportuária.

Segundo informações do governo do Ceará, será fornecida assistência psicológica aos brasileiros que desembarcarem no aeroporto de Fortaleza. A Secretaria de Direitos Humanos do estado diz que serão 135 pessoas no voo, sendo 80% deles de Minas Gerais.

O Ministério das Relações Exteriores negocia com o governo dos Estados Unidos uma forma de ajustar as condições do voo para que os brasileiros não sofram maus tratos.

Por meio de nota, o governo federal disse que “atua para garantir regresso digno e seguro” e que a “dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valor inegociável”.

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), disse nesta quinta-feira que Fortaleza foi escolhida como destino dos deportados por uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quis evitar a possibilidade de os imigrantes sobrevoarem território brasileiro algemados. A previsão é que os próximos voos também tenham a capital cearense como primeira parada.

– A decisão do presidente Lula é que, no momento que esse avião entra no Brasil, o avião tem que pousar no local mais próximo para que o brasileiro não fique no avião algemado. Portanto, eles vão pousar em Fortaleza, que é o local mais próximo. Toda a nossa solidariedade aos brasileiros e brasileiras que estavam nos Estados Unidos lutando pela vida. Vamos recebê-los como patriotas que somos – declarou o governador durante uma evento em Fortaleza.

A criação de um grupo de trabalho foi motivada por um incidente considerado grave e inaceitável pelo governo brasileiro. Na noite de 24 de janeiro, 88 brasileiros deportados pelos Estados Unidos desembarcaram em Manaus (AM) algemados e com correntes nos pés. Também relataram maus-tratos sofridos dentro da aeronave.

O governo brasileiro determinou a retirada imediata das algemas e das correntes e enviou um avião da FAB, para levar os nacionais até Belo Horizonte. O Itamaraty também convocou o encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, Gabriel Escobar, para pedir explicações sobre o ocorrido.

Em entrevista ao GLOBO, publicada no último sábado, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que o Brasil negocia com os EUA algumas medidas para a vinda dos brasileiros. Uma delas seria a realização de voos diretos, ou seja, sem escaladas em outros países, como Porto Rico e Panamá.

Desde 2018, há um acordo bilateral que permite a deportação de brasileiros em situação irregular nos EUA que não têm mais como recorrer à Justiça americana para permanecer no país. A ideia é evitar que essas pessoas fiquem em presídios e possam voltar ao Brasil.

Na negociação, ficou claro que os brasileiros poderiam ser algemados durante o voo, caso as autoridades americanas assim decidissem, por questão de segurança. Mas o que causou indignação, no dia 24 deste mês, foi o tratamento dado aos deportados que desceram do avião em Manaus, com algemas e correntes.

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