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SÍRIA

Novos dirigentes da Síria tentam tranquilizar comunidade internacional

A comunidade internacional está preocupada com o tratamento que os novos governantes podem reservar às várias minorias que vivem na Síria e muitos países pediram um governo "inclusivo"

Os retratos desfigurados do presidente sírio deposto Bashar al-Assad e do presidente russo Vladimir PutinOs retratos desfigurados do presidente sírio deposto Bashar al-Assad e do presidente russo Vladimir Putin - Foto: Aaref Watad/AFP

Quatro dias após a queda de Bashar al-Assad em uma ofensiva liderada por islamistas, os novos governantes da Síria tentam tranquilizar a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, cujo chefe da diplomacia viajou nesta quinta-feira (12) à Jordânia para pedir uma transição "inclusiva".

Após uma operação relâmpago de 11 dias, uma coalizão de movimentos rebeldes liderada pelo grupo sunita radical Hayat Tahrir al Sham (HTS) derrubou Assad, que fugiu para a Rússia.

A comunidade internacional está preocupada com o tratamento que os novos governantes podem reservar às várias minorias que vivem na Síria e muitos países pediram um governo "inclusivo".

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, desembarcou nesta quinta-feira na Jordânia para abordar a nova situação no país, arrasado e dividido após 13 anos de guerra.

Blinken "vai reiterar o apoio dos Estados Unidos a uma transição inclusiva (...) a um governo responsável e representativo", afirmou o Departamento de Estado ao anunciar a viagem do diplomata.

Também insistirá "na necessidade de respeitar os direitos das minorias, de facilitar a distribuição da ajuda humanitária, de impedir que a Síria sirva de base para o terrorismo ou não constitua uma ameaça para seus vizinhos, e de vigiar para que as reservas de armas químicas permaneçam seguras e sejam destruídas em total segurança", acrescentou a diplomacia americana.

O G7, grupo que reúne as principais potências ocidentais, também afirmou que apoiará uma "transição inclusiva" e exigiu que o novo governo respeite os direitos das mulheres.

Para acalmar os temores, o primeiro-ministro sírio, Mohamad al-Bashir, nomeado até 1º de março, tentou enviar uma mensagem tranquilizadora.

"Garantiremos os direitos de toda a população e de todas as religiões na Síria", prometeu o dirigente, em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera publicada na quarta-feira.

Bashir também pediu aos milhões de sírios no exílio que retornem para "reconstruir" o país, de maioria árabe sunita, mas onde convivem diversas comunidades étnicas e religiosas.

O HTS alega que rompeu com o jihadismo, mas continua na lista de organizações "terroristas" de vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.

Nesta quinta-feira, o novo governo anunciou que vai congelar a Constituição e o Parlamento durante o período de transição, a princípio de três meses.

"Um comitê jurídico e de direitos humanos será formado para examinar a Constituição e introduzir emendas", explicou à AFP o porta-voz de Assuntos Políticos das novas autoridades sírias, Obaida Arnaut.

"À luz do dia"
Quase seis milhões de sírios, ou seja, um quarto da população, fugiram do país desde 2011, quando a repressão violenta dos protestos pró-democracia resultou em uma guerra que deixou mais de 500.000 mortos.

Duzentas pessoas se reuniram nesta quinta-feira no posto fronteiriço turco de Cilvegözü, a quase 50 km de Aleppo, para entrar na Síria, segundo um policial entrevistado pela AFP.

O enviado da ONU para a Síria, Geir Pedersen, afirmou que a transição no país tem que ser "inclusiva" e precisa evitar uma "nova guerra civil".

As novas autoridades sírias agradeceram a oito países, incluindo Egito, Iraque, Arábia Saudita, Jordânia e Itália, pela reabertura das suas missões diplomáticas em Damasco, segundo um comunicado do Departamento de Assuntos Políticos.

Após a queda da dinastia Assad, que governou o país com mão de ferro durante mais de meio século, os moradores de Damasco não escondem a alegria.

"Vendo as pessoas nas ruas, temos a impressão de que estávamos todos presos debaixo da terra e que agora saímos à luz do dia", disse Razan al Halabi, morador da capital, de 38 anos.

As décadas de repressão custaram muitas vidas e milhares de sírios buscam informações sobre parentes.

Desde 2011, mais de 100.000 pessoas morreram nas prisões sírias, calculou em 2022 o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Oportunidade "histórica"
A ONG Human Rights Watch afirmou que a queda de Assad é uma oportunidade "histórica" para a Síria "virar a página" sobre as violações dos direitos humanos e pediu às novas autoridades rebeldes que "deem o exemplo".

Embora a situação pareça mais calma em grande parte do país desde domingo, os combates continuam entre milicianos pró-Turquia e forças pró-curdas na região de Manbij, no norte da Síria, segundo o OSDH.

As Forças Democráticas Sírias (FDS, lideradas por curdos e apoiadas pelos Estados Unidos), que controlam amplas áreas do nordeste da Síria, anunciaram na quarta-feira uma trégua com os grupos pró-Turquia, após a mediação de Washington.

A administração autônoma curda no leste da Síria anunciou que adotará a bandeira com as três estrelas vermelhas usada pela oposição, que assumiu o poder após a derrubada de Assad.

Israel, por sua vez, anunciou centenas de bombardeios contra posições militares estratégicas na vizinha Síria para "impedir que armas caiam nas mãos de elementos terroristas".

O Exército israelense bombardeou alvos militares no litoral sírio na manhã desta quinta-feira, de acordo com o OSDH, que também relatou ataques nas imediações de Damasco.

O Irã, aliado de Assad que usou a Síria para transportar armas e combatentes na direção do movimento islamista libanês Hezbollah, admitiu na quinta-feira que deve enfrentar as novas "realidades" do país e "adaptar sua estratégia".

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