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Novos documentos detalham batalha da OceanGate contra funcionário que expôs riscos do submarino

CEO que morreu na implosão tinha sido avisado em 2018 que construção tinha ao menos 25 problemas de segurança; na época, trabalhador que fez o alerta foi demitido

Equipes de resgate expandiram a busca debaixo d'água enquanto corriam contra o tempo para encontrar um submersível turístico de mergulho profundo Titan que desapareceu perto do naufrágio do Titanic com cinco pessoas a bordoEquipes de resgate expandiram a busca debaixo d'água enquanto corriam contra o tempo para encontrar um submersível turístico de mergulho profundo Titan que desapareceu perto do naufrágio do Titanic com cinco pessoas a bordo - Foto: AFP PHOTO / OceanGate Expeditio

Anos antes do submersível da OceanGate implodir a caminho dos destroços do Titanic, em junho, um funcionário já havia alertado os executivos da empresa sobre os problemas na estrutura do Titan.

David Lochridge chegou a ser diretor de operações marítimas da companhia, mas foi demitido em 2018 e processado por ter produzido um relatório sobre o assunto. Agora, a ABC News obteve o documento, que detalha os apelos dele sobre as questões de qualidade e segurança da construção.

Em janeiro de 2018, Lochridge redigiu um relatório de “inspeção de controle de qualidade” endereçado aos executivos da OceanGate. Ele enfatizou a urgência de abordar a questão, e escreveu que era o momento de analisar “adequadamente os itens que possam representar um risco à segurança do pessoal”. Afirmou, ainda, que suas tentativas anteriores de falar sobre os problemas foram “ignoradas várias vezes”, de modo que ele sentia a necessidade de produzir o relatório para ter “um registro oficial”.

Ele concluiu que o Titan não deveria ser tripulado durante nenhum dos próximos testes, e listou 25 problemas que disse ter encontrado. Em um dos casos, Lochridge afirmou que o revestimento da construção era composto por materiais inflamáveis que liberavam “fumaça tóxica”. O ex-funcionário também criticou o casco de fibra de carbono utilizado. Apesar da advertência, o CEO da OceanGate, Stockton Rush acreditava que o material iria baratear os custos do projeto.

Um dia depois de ter enviado o relatório, uma reunião entre Lochridge e os executivos da empresa, incluindo Rush, ocorreu — e o ex-funcionário gravou a conversa. Uma cópia desse registro foi fornecida a funcionários dos Estados Unidos e do Canadá que estão investigando a implosão. O encontrou durou quase duas horas e tratou principalmente do casco e seu sistema de monitoramento, segundo a ABC. A empresa fazia testes com sensores para verificar a integridade do casco, mas Lochridge afirmou que eles não dariam tempo suficiente para um piloto agir.
 

Tempos mais tarde, o advogado dele escreveu em um processo contra a OceanGate que “esse tipo de análise acústica só mostraria quando um componente está prestes a falhar, muitas vezes milissegundos antes de uma implosão”. Naquela reunião, o funcionário solicitou que o CEO encontrasse outra maneira de testar o casco de fibra de carbono.

Demissão foi ‘solução’ para OceanGate
Três dias após a reunião, a OceanGate demitiu Lochridge. Durante aquele encontro, “ficou claro para Stockton que ele e você estavam em um impasse em relação ao casco do Titan, e a única opção era a rescisão de seu emprego”, escreveu Neil McCurdy, então diretor de operações da empresa, para o ex-funcionário. Semanas depois, Lochridge apresentou uma queixa à Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA), alegando que a Lei de Proteção ao Marujo (SPA) foi violada.

Lochridge enviou à OSHA seu relatório de qualidade, publicou a ABC. Em fevereiro de 2018, o órgão enviou uma carta à OceanGate informando que uma investigação preliminar estava em andamento, mas não nomeou o ex-funcionário no comunicado. Os advogados da empresa, porém, responderam com uma carta de cinco páginas detalhando sua versão, incluindo uma cópia de áudio da reunião com Lochridge. A defesa afirmou que ele “foi além do que lhe foi pedido” ao preparar o relatório.

Um mês depois de enviar a resposta, a OceanGate escreveu para Lochridge, ameaçando a ele e sua esposa, Carole, com uma ação legal. Assumindo que ele foi o responsável por apresentar a queixa à OSHA, a empresa solicitou que o ex-funcionário reconhecesse que sua alegação “não era bem fundamentada”, anexando a cópia de um possível processo judicial. Ele e a mulher deveriam, segundo a proposta, pagar cerca de R$ 49 mil em honorários advocatícios da OceanGate, e concordariam em assinar um acordo de confidencialidade.

Lochridge e a mulher se recusaram a assinar o acordo, e a OceanGate prosseguiu com o processo judicial em junho de 2018. O ex-funcionário apresentou uma contra-ação em agosto daquele ano. Em novembro, as duas partes resolveram o litígio fora dos tribunais, sem detalhes sobre o acordo final. Após o processo, a OSHA suspendeu sua investigação, assumindo que o assunto seria resolvido dentro ou fora dos tribunais.

Relembre o caso
Em junho, o mistério em relação ao destino do submersível que desapareceu em expedição rumo aos destroços do Titanic demorou seis dias para chegar ao fim. Os detritos da construção foram encontrados pela Guarda Costeira americana no fundo do oceano, e análises do material indicaram que o veículo teve um final descrito como “catastrófico”. O engenheiro e especialista em submarinos José Luis Martín, inclusive, afirmou que os passageiros podem ter percebido o que ia acontecer cerca de um minuto antes de morrer

As vítimas do acidente são o magnata britânico Hamish Harding, o CEO da OceanGate Stockton Rush, o mergulhador francês Paul-Henry Nargeolet, além do empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Suleman Dawood. Detritos do submersível foram encontrados a cerca de 500 metros da proa do Titanic. Segundo o especialista em salvamento da marinha dos Estados Unidos Paul Hankins, os destroços “eram consistentes com a perda da câmara de pressão”.

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