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ESPANHA

Número de mortos em 'inundação do século' na Espanha sobe para 211; equipes buscam desaparecidos

Madri desloca mais 10 mil soldados e policiais para garantir segurança na região afetada após relatos de saques; autoridades recomendam que os cidadãos se refugiem 'em pontos altos' em meio a risco de novos temporais

Pessoas tentam limpar uma rua coberta de lama em 31 de outubro de 2024 após enchentes repentinas afetarem Paiporta, em Valência, leste da Espanha Pessoas tentam limpar uma rua coberta de lama em 31 de outubro de 2024 após enchentes repentinas afetarem Paiporta, em Valência, leste da Espanha  - Foto: Jose Jordan/AFP

As inundações que ocorreram durante a noite de terça para quarta-feira no sudeste da Espanha causaram pelo menos 211 vítimas, de acordo com o novo relatório divulgado neste sábado pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Os esforços de socorro realizados nas zonas de desastre já “localizaram e registraram 211 mortes”, declarou o chefe do governo durante uma declaração institucional, especificando que as operações continuavam para encontrar as pessoas desaparecidas.

 

Sánchez anunciou o envio de mais 10 mil solados e policiais para os trabalhos na região. Numa mensagem transmitida pela televisão, desde o Palácio da Moncloa, o chefe de governo afirmou ter acolhido o pedido das autoridades regionais de Valência para enviar mais cinco mil soldados e informou um novo destacamento de cinco mil policiais para garantir a segurança. A medida vem horas depois de relatos de saques na região.

Os satélites da Nasa, a agência espacial americana, conseguiram registrar como ficou a paisagem afetada pela tempestade. Nas imagens, é possível ver como Albufera, a costa marítima, transbordou, e os territórios vizinhos a sul ficaram completamente inundados numa diferença de apenas 24 horas, entre terça e quarta-feira.

29 de outubro
 

Costa espanhola antes de fenômeno Dana Costa espanhola antes de fenômeno Dana — Foto: Planet Labs / AFP


30 de outubro
 

Costa espanhola inundada, após fenômeno Dana Costa espanhola inundada, após fenômeno Dana — Foto: Planet Labs / AFP


Imagens registradas por satélite da Nasa e do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) também mostraram os impactos de Dana na região de Valência. As fotos foram captadas pelo Landsat 8, em diferentes momentos do mês de outubro, antes e depois da catástrofe.

13 de outubro
 

Região de Valência em 13 de outubro Região de Valência em 13 de outubro — Foto: Sentinel Hub / AFP


30 de outubro
 

Região de Valência em 30 de outubro Região de Valência em 30 de outubro — Foto: Sentinel Hub / AFP


Imagens captadas em 8 de outubro e 30 de outubro pelo satélite do USGS também exibem os danos ao ecossistema da região e a escala do desastre no Leste da Espanha.

Várias regiões da Espanha foram afetadas, nos últimos dias, por um fenômeno conhecido como Depressão Isolada em Níveis Altos (Dana), que provocou chuvas intensas que continuarão ao longo da semana, conforme informou a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet). Essas condições climáticas que assolam a região desde segunda-feira causaram destruição e grandes inundações.

Os municípios mais afetados são os da Comunidade Valenciana, o Levante peninsular, Andaluzia e Castilla-La Mancha, abrangendo uma ampla área do sul e do leste do país.

Conforme relatado pelo jornal espanhol El Mundo, a Dana é um “sistema de baixa pressão nos níveis altos da atmosfera, que se separou completamente do fluxo zonal em altura”. “Tipicamente, essas depressões isoladas em níveis altos situam-se, no hemisfério norte, ao sul do fluxo estabelecido em altura”, explicaram.

O fenômeno se origina a partir de uma corrente de ventos polares muito intensos - entre 150 e 300 quilômetros por hora, aproximadamente - que circulam na parte alta da atmosfera, a 9 mil metros de altitude, e cujo percurso gira em torno do Polo Norte de Oeste a Leste. Ou seja, esses ventos frios se formam na camada superior da atmosfera, depois descem mais perto da superfície e começam a se deslocar, transformando-se em massas de ar, ciclones ou, neste caso, Danas.

Ao contrário dos temporais comuns, uma Dana pode permanecer em uma mesma região por vários dias, o que aumenta os impactos da tempestade.

O fenômeno gerou imagens marcantes, como a de uma vítima que ficou presa pelas inundações e precisou ser resgatada junto com seu animal de estimação por um helicóptero. Em vídeos que se tornaram virais, o agente dos serviços de emergência conseguiu resgatar ambos em meio ao caos.

Em outras imagens que circularam nas redes sociais, o temporal abalou as ruas das cidades, gerando inundações impressionantes e um total descontrole. “As pessoas que estão agora mesmo paradas ou bloqueadas devem saber que estamos chegando, e se ainda não chegamos, não é por falta de recursos, nem de disposição, nem de capacidade, porque temos toda a capacidade para acessar. É ainda uma questão de acesso”, afirmaram as autoridades valencianas.

Na região de Valência, choveram cerca de 490 milímetros em oito horas, quando a média anual nessa área é de 450-500 milímetros.

— Os pesquisadores ainda não sabem se, devido ao aquecimento global, os fenômenos meteorológicos extremos se tornaram mais frequentes, mas estamos certos de que se tornaram mais violentos — explicou Antonello Pasini, físico climático do Conselho Superior de Pesquisas Científicas.

Por sua vez, o presidente espanhol, Pedro Sánchez, falou nesta quarta-feira e assegurou aos afetados que o Estado não os “deixará sozinhos”; no entanto, alertou que o desastre é uma emergência que “continua”. “As administrações públicas estão trabalhando de forma coordenada para fazer tudo o que for possível, e vamos disponibilizar todos os recursos necessários hoje, amanhã e pelo tempo que for preciso para que possamos nos recuperar desta tragédia. Não vamos deixá-los sozinhos”, afirmou o dirigente socialista do palácio de La Moncloa.

A Unidade Militar de Emergências mobilizou mais de mil soldados nas áreas devastadas, onde a água e a lama arrastaram veículos pelas ruas em velocidades perigosas. Por sua vez, a Polícia e os socorristas utilizaram helicópteros para evacuar pessoas de suas casas e carros, já que essa é a única forma de acessar as áreas afetadas.

O Centro de Coordenação Operacional Integrado (Cecopi) anunciou que o número de mortos chegou a 72 pessoas, segundo as informações fornecidas pelas diversas forças de segurança e serviços de emergência que operam na área. Ao mesmo tempo, ressaltaram que este é um “número provisório” e que ainda há dezenas de pessoas desaparecidas.

Em uma das primeiras reações internacionais, o governo da Alemanha ofereceu ajuda à Espanha diante das graves inundações causadas pelo temporal. ”Estamos em contato direto com o governo espanhol para ver se é necessária ajuda nesta terrível catástrofe”, explicou o porta-voz alemão, Steffen Hebestreit. Ele também informou que o chanceler Olaf Scholz e todo o governo alemão estão “profundamente comovidos”.

“Se pudermos ajudar com nosso pessoal experiente em socorro e especialistas em resgate do THW (o serviço de proteção civil), ajudaremos”, acrescentou a ministra do Interior, Nancy Faeser.

O chanceler italiano, Antonio Tajani, também expressou sua “solidariedade e preocupação” com a situação em Valência, acrescentando que, até o momento, não há cidadãos italianos entre as vítimas.

“Estou preocupado com o que está acontecendo na Espanha, expressei minha solidariedade pelos mortos. Até agora, não há italianos envolvidos, mas há mortos e muitos desaparecidos, e a situação é dramática”, afirmou, informando que foi disponibilizado um número de telefone da unidade de crise do Ministério das Relações Exteriores.

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