Número dois do regime de Maduro nega detenção de María Corina: "Invenção, mentira"
Oposição afirma que líder opositora foi presa após participar de um protesto em Caracas, mas foi solta logo após ser forçada a gravar vídeos
O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, número dois do regime, desmentiu a detenção temporária da líder da oposição María Corina Machado, classificando a informação como "uma invenção, uma mentira".
A oposição venezuelana afirma que a líder foi detida após participar de um protesto em Caracas, organizado na véspera da posse do ditador Nicolás Maduro, mas libertada logo depois de ser forçada a gravar vídeos. A ex-deputada estava na clandestinidade após ser alvo de ameaças de prisão do regime, e fez sua primeira aparição pública na manifestação depois de 133 dias escondida.
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— Eles queriam alarmar toda a Venezuela e, no final, acabaram com o ridículo do ridículo, mentindo, dizendo que o governo havia capturado María Corina — afirmou Cabello no canal estatal VTV durante uma marcha do chavismo — Ela está louca para que o governo a capture, e esse era seu plano: dizer que foi pega, para ver o que ela pode fazer.
A detenção e posterior soltura de María Corina acontecem em meio a um plano militar ativado há dois dias por Maduro, conhecido como Órgão de Defesa Integral da Venezuela (ODI). As Forças Armadas e policiais de todo o país foram mobilizadas sob a alegação de que havia planos para impedir a posse do ditador nesta sexta-feira.
O partido de María Corina, Vem Venezuela, denunciou em uma publicação nas redes sociais que a opositora havia sido “violentamente interceptada” ao sair do protesto. De acordo com assessores, ela era escoltada por um comboio de motos quando o grupo foi atacado a tiros por agentes do regime. Posteriormente, começou a circular um vídeo em que a líder opositora aparece dizendo que "estava bem".
Em uma publicação no X, a coalizão opositora disse que "María Corina Machado foi interceptada e derrubada da motocicleta que pilotava" ao deixar o comício em Chacao, na capital Caracas, na sua primeira aparição pública após 133 dias na clandestinidade. Segundo a coligação, "armas de fogo foram disparadas no incidente" e "ela foi levada à força".
"Durante o período de seu sequestro, ela [María Corina] foi forçada a gravar vários vídeos e foi liberada mais tarde. Nas próximas horas, ela falará ao país para explicar os fatos", disse a oposição.
"Fim do regime"
Durante a manifestação, convocada por ela nas redes sociais, a líder da oposição venezuelana reivindicou a vitória do ex-diplomata Edmundo González Urrutia nas eleições de junho do ano passado, alvo de acusações de fraude por grande parte da comunidade internacional. Em discurso, ela disse que "o regime acabou" e manifestou seu orgulho dos venezuelanos que saíram às urnas.
— O que quer que eles façam, amanhã [sexta-feira] sentenciará o fim do regime. A Venezuela já decidiu, a Venezuela é livre. O regime acabou — disse, pedindo aos apoiadores para que seguissem "com muito cuidado todos os sinais que vamos dar nos próximos dias". — Não tenhamos medo.
González, em exílio na Espanha desde setembro, a substituiu na corrida eleitoral após ela ter sido inabilitada pela Justiça, alinhada ao chavismo, de concorrer a cargos públicos por 15 anos. Nesta quinta-feira, ele visitou a Republicana Dominicana, a última parada da sua tour pela América Latina e prometeu retornar a Caracas para tomar posse nesta sexta.
— Os venezuelanos recuperarão sua liberdade muito em breve — garantiu González. — Nos veremos em breve em Caracas, em liberdade.
Após a repercussão da prisão e desaparecimento de María Corina, González reagiu: “Como presidente eleito, exijo a libertação imediata de María Corina Machado. Para as forças de segurança que a sequestraram, eu digo: não brinquem com fogo”, escreveu em sua conta no X. Além dele, outros líderes e chefes de Estado também pediram a libertação da opositora.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão máximo eleitoral do país, proclamou a vitória de Nicolás Maduro em julho sem apresentar — até hoje — as atas que comprovariam o resultado. A oposição, por outro lado, mostrou cópias de mais de 80% dos boletins das urnas que atestam a eleição de González.
Pesquisadores e observadores internacionais, como o Centro Carter, corroboraram o resultado apresentado pelos opositores. Desde então, diversos países reconheceram o opositor como presidente eleito da Venezuela.
A reeleição contestada de Maduro desatou uma onda de protestos no ano passado que deixou 28 mortos, 200 feridos e mais de 2.400 detidos, incluindo adolescentes. Grande parte dos detidos foram acusados de terrorismo e enviados para prisões de segurança máxima. Cerca de 1.500 já foram libertados.