O calvário dos jornalistas palestinos que cobrem a guerra em Gaza
De acordo com seu sindicato, pelo menos 22 jornalistas morreram na Faixa de Gaza desde o início da guerra
Obrigado a fugir dos bombardeios israelenses na Cidade de Gaza, centenas de jornalistas palestinos cobrem a guerra entre o movimento islâmico Hamas e Israel em condições perigosas e arriscando suas vidas.
Alguns trabalham para veículos locais, outros para a imprensa internacional. Mas todas as dificuldades o mesmo calvário para exercer sua profissão.
As redações estão agora em barracas montadas no pátio de um hospital. A noite se transforma em quartos de descanso.
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De acordo com seu sindicato, pelo menos 22 jornalistas morreram na Faixa de Gaza desde o início da guerra, desencadeada por um ataque sem precedentes em Israel lançado pelo Hamas em 7 de outubro a partir deste pequeno território.
No início do conflito, os meios presentes na Faixa trabalharam em escritórios situados na Cidade de Gaza. Mas os intensos bombardeios israelenses os obrigaram a ir para o sul, apesar dos ataques aéreos atingirem o território inteiro.
Centenas de jornalistas, entre eles da equipe da AFP, se instalaram na varanda do hospital Nasser, na cidade de Khan Yunis.
Bebo muito pouco
Homens e mulheres munidos de capacetes de proteção e vêm sem parar, luzindo a palavra "Press" ("Imprensa", em inglês) em seus coletes à prova de balas.
O Hamas afirmou nesta quarta-feira (25) que mais de 6.500 pessoas, a maioria civis, morreram desde o início dos bombardeios israelenses na Faixa, lançados em resposta ao violento ataque do Hamas, que deixou mais de 1.400 mortos em Israel, segundo as autoridades.
Os repórteres sentenciaram o pátio com mais de 30.000 palestinos deslocados pela guerra. Graças aos geradores do hospital, ainda têm eletricidade para carregar seus celulares, computadores e câmeras.
As condições de higiene são básicas. A corrente de água sofre constantes interrupções e muitas se limpam com borrifadores nos banheiros.
Nas barracas, alguns dormitórios diretamente no chão. Para ter mais privacidade, algumas mulheres decidem dormir em seus veículos.
"Faz duas semanas que estamos trabalhando no hospital Nasser. Dormimos no carro. Bebo com muita pouca água para não ter que ir ao banheiro", explicou à AFP Wissam Yassin, correspondente da emissora americana em língua árabe Al-Hurra.
"Os bombardeios não cessam ao nosso redor. Em vários benefícios fomos obrigados a abandonar nossas câmeras e a não entrar no ar para transmitir ao vivo", acrescenta. “Para tomar banho, fui à casa de uma família que não conhecia, ao lado do hospital”, relata.
Não é a primeira intervenção israelense que Yassin cobre em Gaza, mas um jornalista confessa que nunca viveu "condições tão difíceis".
“Às vezes hesito em atender as chamadas de minha filha Bana, de nove anos, porque não aguento seu choro e me sinto incapaz de acalmá-la”, conta.
Fazer meu trabalho
Huda Hiyazi, de 25 anos, cresceu na Espanha antes de se instalar em Gaza há cinco anos, onde trabalha como correspondente para uma emissora espanhola. Atualmente, divide espaço com os outros repórteres instalados no pátio do hospital.
"É a primeira vez que cubro uma guerra desta envergadura. A situação é trágica e faz 15 dias que não vejo minha família. Penso neles o tempo todo e isso aumenta a pressão", suspira.
Hiyazi também tem nacionalidade espanhola e, em teoria, poderá sair da Faixa se o posto de Rafah para reaberto, na fronteira com o Egito.
Contudo, decidiu ficar “para fazer [seu] trabalho”, mas não tem dúvida de que vai retirar a sua família, que ficou na Cidade de Gaza.
Mohamad Daher, correspondente da emissora jordaniana Roya, de 34 anos, retirou sua família da Cidade de Gaza para Nuseirat, no centro da Faixa.
E Nizar Sadawi, de 36 anos e correspondente da rede turca TRT World, lamenta que os problemas de telecomunicações causados pelos bombardeios dificultam as chances de falar com seus familiares.
Todos trabalham com o mesmo medo, de que algo aconteça com seus familiares. O canal de televisão catari Al Jazeera anunciou hoje que sua esposa, o filho e a filha de seu principal correspondente em Gaza, Wael al Dahdhou, estavam morridos "em um bombardeio israelense".