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DECLARAÇÃO

''O convite de Milei a Bolsonaro não vai no bom sentido'', diz embaixador do Brasil na Argentina 

Júlio Bitelli afirmou que ''os canais estão abertos'' com membros da equipe do presidente eleito

Julio Glinternick Biele é embaixador do Brasil na ArgentinaJulio Glinternick Biele é embaixador do Brasil na Argentina - Foto: Pedro França/Agência Senado

São dias tensos para o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Júlio Bitelli, que passa pela terceira vez em sua carreira pela sede diplomática na Argentina. Desde que Javier Milei foi eleito presidente do país por ampla maioria, uma pergunta se instalou em matéria de relação bilateral: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá ou não à posse, prevista para 10 de dezembro?

Os convites ainda não foram enviados, e hoje a tendência do governo brasileiro é de que Lula, que foi atacado por Milei durante a campanha, não viaje para Buenos Aires.

A decisão do presidente eleito de convidar o ex-presidente Jair Bolsonaro e vários membros de sua família, admitiu Bitelli, "não é um gesto que vá no bom sentido". Mas as tratativas continuam e a decisão de Lula, frisou o embaixador, ainda não foi tomada.

"Seria importante ter alguns gestos positivos por parte do novo governo argentino", assegurou o embaixador.

O fato de o ex-presidente Jair Bolsonaro ter sido convidado pelo presidente eleito Javier Milei para estar em sua posse dificulta a eventual presença de Lula?
A questão dos convites para a posse ainda é objetivo de discussão entre o governo atual argentino e o governo futuro. Os convites ainda não foram expedidos, o presidente Lula ainda não foi convidado, e entendendo que nenhum chefe de governo foi ainda convidado. O convite, sobre o qual soubemos pela imprensa, do Milei ao ex-presidente Bolsonaro é uma decisão pessoal, e não deve necessariamente afetar a relação entre os Estados.

Mas a presença de Bolsonaro dificulta a eventual presença de Lula?
É um elemento a mais que tem de ser levado em consideração. Há uma série de gestos que seriam importantes, gestos que poderiam facilitar ou dificultar uma decisão do governo brasileiro a respeito do nível de participação na posse do novo governo argentino. Haverá uma delegação oficial brasileira e a composição dessa delegação será uma decisão que virá do presidente Lula.

O gesto, por parte de Milei, de convidar Bolsonaro, não facilita… Não é um gesto que vá no bom sentido, eu diria.

O que significaria se o senhor representasse o Brasil na posse?
Em diplomacia, tudo tem um símbolo e essa escolha de qual será o nível de participação na posse terá um valor simbólico importante. Mas é uma decisão que ainda não está tomada. Insisto, seria importante ter alguns gestos positivos por parte do novo governo argentino. Há uma expectativa de que isso possa acontecer, esperemos que aconteça. Quem decidirá é o presidente Lula.

Como está a situação nesse momento?
Está em evolução.

Que tipo de gesto o Brasil está esperando?
O gesto, se acontecer, todos reconhecerão.

Como estão evoluindo as conversas com a equipe de Milei?
Os canais estão abertos, nós estamos buscando formas de fazer com que o relacionamento comece da melhor maneira. A relação bilateral é de tal forma densa e importante, que vai continuar, não há dúvida. Mas é do interesse dos dois países que ela comece, já no novo governo, em boas condições. O Brasil está trabalhando nesse sentido.

A sensação entre fontes do governo brasileiro é de que será mais difícil a relação entre Milei e Lula, do que foi entre Bolsonaro e Fernández…
Acho que essas comparações tendem a ser simplificadoras. São fenômenos diferentes, circunstâncias regionais e em cada um dos países diferentes, temos de esperar. Com cautela, vamos esperar ver o governo [Milei] começar a funcionar. O tempo dirá até que ponto será necessária uma acomodação mais ou menos trabalhosa.

Que sinalizações os colaboradores de Milei estão dando ao Brasil?
Não temos de dramatizar a relação do presidente eleito argentino com o ex-presidente Bolsonaro. É uma relação que tem uma afinidade de ideias, e isso deveria ser menor dentro de um processo de tomada de decisões sobre relações entre Brasil e Argentina. Esse não é o ponto central, de maneira nenhuma.

O Mercosul está em risco?
A própria retórica do Milei em relação ao Mercosul evoluiu na campanha. Num primeiro momento ele falou em sair o Mercosul, destruir o Mercosul. Ultimamente e agora ele passou a falar em mudar, modernizar o Mercosul. O que corresponde aos quatro membros do Mercosul é sentar e escutar quais são os interesses do novo governo argentino. Qualquer coisa que busque aprimorar o Mercosul é do interesse dos quatro membros.

O acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) corre mais risco com Milei como presidente?
Não acho, são dois trilhos que estão em paralelo. O processo negociador com a UE tem sua dinâmica própria. Há uma expectativa de que ele possa ser assinado, mas independentemente da mudança do governo argentino.

Os empresários argentinos e brasileiros estão preocupados. Que recado o senhor está dando a eles?
Estou mais ouvindo, sobretudo dos argentinos, confirmações muito enfáticas de que a relação com o Brasil é fundamental. Ouvi de um grande empresário argentino uma frase que acho que é ilustrativa, ele disse que para a indústria argentina não haverá divórcio com o Brasil.

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