Logo Folha de Pernambuco

Clima

O delicado tema das "perdas e danos" provocados pelo clima em debate na COP26

Os países ricos desejam que as perdas e danos integrem a adaptação à mudança climática em termos de financiamento

COP26COP26 - Foto: Andy Buchanan/ AFP

Além da ajuda financeira para combater a mudança climática, os países em desenvolvimento querem que a COP26 de Glasgow avance em outro tema delicado: as perdas e danos que já estão sofrendo.

Os países ricos prometeram em 2009 às nações mais pobres e expostas à mudança climática uma ajuda anual de 100 bilhões de dólares, que deveria ter sido cumprida em 2020.

Mas ainda falta 20% do valor. Os países ricos se comprometeram a regularizar o valor em dois anos. 

Mas a mudança climática, afirma grupos de países como os pequenos Estados insulares do Pacífico, já afeta seus territórios, com alagamentos de terras de cultivo e alterando significativamente seus planos de desenvolvimento, inclusive sua sobrevivência a longo prazo.

"Vocês são os primeiros a sofrer e os últimos que recebem ajuda", reconheceu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, durante uma reunião na conferência de Glasgow do Fórum de Países Vulneráveis ao Clima (CVF).

O oitavo capítulo do Acordo de Paris contra a mudança climática, assinado em 2015, é especificamente dedicado às "perdas e danos relacionados com os efeitos adversos da mudança climática, incluindo os fenômenos meteorológicos extremos e os fenômenos de evolução lenta".

Para isto foi criado o denominado Mecanismo Internacional de Varsóvia, em 2019, que até o momento não passa de um portal na internet no qual supostamente devem chegar a um acordo Estados, instituições e seguradora.

"Existe o temor, para não dizer a paranoia, sobre as questões de responsabilidade e as compensações", declarou à AFP Yamine Dagnet, do Instituto de Recursos Mundiais. "Mas não se trata disso, e sim do que acontecerá quando estas pequenas ilhas desaparecerem".

Os países mais vulneráveis podem sofrer uma queda de mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, segundo um relatório publicado nesta segunda-feira pela organização não governamental Christian Aid.

Dos 65 países estudados, a queda média do PIB por habitante seria de 19,6% em 2050, caso persista a trajetória atual de aquecimento do planeta, e de 63,9% até o fim do século.

Mas para seis dos 10 países mais vulneráveis na lista, a queda pode superar 80% no fim do século.

Oito das 10 nações estão na África e duas, Suriname e Guiana, na América do Sul.

Os países ricos desejam que as perdas e danos integrem a adaptação à mudança climática em termos de financiamento. 

Mas o dinheiro para a adaptação à mudança climática representa apenas 25% do previsto, enquanto a mitigação representa os 75% restantes. 

E é justamente "o fracasso do financiamento da adaptação que se transformou em perdas e danos" explica Abul Kalam Azad, emissário da presidência bengalesa do CVF.

Financiamento adicional

"Precisamos de um financiamento adicional e separado do objetivo anual (de 100 bilhões de dólares)" insiste Aiyaz Sayed-Khaiyum, ministro da Economia e Mudanças Climáticas das ilhas Fiji.

E este financiamento não deve ser adicionado à dívida dos países vulneráveis, adverte.

"Fazer com que paguemos por juros sobre o dinheiro destinado a aumentar nossa resiliência seria cruel. Como nos fazer pagar à máfia das energias fósseis responsável pelo terror que esta crise nos inflige", disse.

A redução da dívida externa em troca de investimentos na adaptação é uma das soluções mencionadas.

Uma solução, por outro lado, também proposta por países como o Equador para preservar áreas naturais. 

A Aliança de Pequenos Estados Insulares (AOSIS) pede que as "perdas e danos" figurem no "balanço mundial (de financiamento) a partir de agora, e com objetivos quantificados

"A tensão aumentou durante as primeiras conversas entre negociadores na COP26", destaca Yamine Dagnet.

Este é o discurso do reverendo James Bhagwan, da Conferência de Igrejas do Pacífico, para quem o debate está demonstrando "as enormes desigualdades em termos de mudança climática".

"No Pacífico, perdas e danos significa vida ou morte", disse. "Se os países ricos não aceitarem, a única opção será levar o caso à justiça".

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter