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Opinião

O líder Churchill, por Boris - um exemplo à humanidade

De antemão, informo que não conheço ninguém com o sobrenome Churchill. Com o nome Boris, conheço, mas desconheço se algum deles possui o sobrenome Johnson. O inusitado início deste artigo é uma cautela, em tempos estranhos e ideológicos. Tempos carentes de líderes de verdade, não caricatos.

Boris Johnson (Alexander Boris de Pfeffel Johnson, 1964), político, escritor, jornalista, ex-prefeito de Londres e atual primeiro-ministro do Reino Unido, lançou, com êxito, o livro, de sua autoria, “O Fator Churchill, como um homem fez história” (2014), um daqueles que sempre permanece atual. Nesse tipo de missão literária, é natural que o autor seja um pesquisador, que observe qualidades ímpares, uma grandeza singular, no protagonista, nesse caso, o político, escritor, pintor, jornalista e ex-primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill (Winston Leonard Spencer-Churchill, 1874-1965). No entanto, esse reconhecimento não é exclusivo, pois o maior charuteiro inglês tornou-se uma das figuras mais conhecidas e admiradas do mundo, desde os anos de 1940.

Churchill teve uma longa e intensa vida. Participou de acontecimentos importantes da história política do Reino Unido e da Europa e de situações vitais para a humanidade, tais como: as duas grandes guerras e as mudanças da geopolítica europeia, impactada, nas primeiras décadas do século XX, pelos interesses econômicos e disputas expansionistas, pelo surgimento de governos ideologizados, além da acelerada modernidade que influenciava o comportamento das sociedades. O hábil manejo dessa conjuntura, e de suas consequências, estava talhado para figuras raras, à altura das complexidades que os ambientes exigiam, para alcançar as melhores soluções.

Aos 25 anos, Churchill já tinha participado de batalhas, trabalhado como jornalista, o “mais bem remunerado do seu país”, e escrito cinco livros, “alguns deles campeões de venda”. Também foi eleito, pela primeira vez, para o parlamento, Casa dos Comuns, como deputado conservador (Nada haver com as distorções do conceito político conservador no Brasil corrente). 

Na vida pública, ”Churchill decidiu, desde muito cedo, que criaria uma posição política que estava de certa forma acima da esquerda e da direita, corporificando os melhores pontos de ambos os lados e, desse modo, encarnando a vontade da nação”. Muitos de seus projetos implantados são considerados progressistas: As “Juntas das Profissões”, básica para um salário mínimo, e as “Centrais de Emprego”; sendo ainda o “progenitor do seguro-desemprego” e o denunciador da “infâmia do direito de hereditariedade no Parlamento”. Vale destacar que Churchill “acreditava na ciência e no progresso tecnológico, e na promoção e proteção do bem-estar do povo” (Visão coerente, de um líder que se preza).

Foram nos períodos dos conflitos internacionais que se sobressaíram as virtudes de Churchill. O aprimorado olhar crítico e estratégico. O espírito de liderança. A capacidade de diálogo. A sensibilidade para antever disposições. O poder de decisão. Ademais, era arguto e conciliador, sabia animar e convencer sobre suas teses - “tinha o dom da linguagem”, possuía um excelente domínio da língua inglesa; “escreveu textos de jornalismo e livros de história e biografia” (Incomparável, a pseudos líderes toscos). 

Durante a Primeira Guerra Mundial (Jul 1914 - Nov 1918), quando ocupava cargos no alto escalão inglês, Churchill se destacou como ministro das Munições. No final da contenda, tornou-se ministro de Estado da Guerra e do Ar - um nome cotadíssimo. Por sua iniciativa, tinham sido criados o tanque de guerra e a “Real Força Aérea” (RAF) - pilotava, ficou visto como um dos pioneiros da aviação. ...A carreira e o respeito só faziam crescer.

O acordo de paz de Versalhes foi rigorosíssimo com a Alemanha, considerada a responsável pela eclosão da Primeira Guerra. Winston Churchill dizia que os “severos termos do acordo seriam impossíveis de serem cumpridos”. Portanto, o clima na Europa seguiu intranquilo e se exacerbou com a ascensão do fascismo, na Itália (1922), e do nazismo, na Alemanha (1933), à frente os belicosos Benito Mussolini e Adolf Hitler, futuros aliados em nova carnificina mundial. Nesse intervalo, Churchill sempre foi uma voz destoante às pretensões nazistas e quanto à complacência diplomática europeia para com o Fürer do Terceiro Reich.
 
A Segunda Guerra Mundial (Set 1939 - Set 1945) já estava deflagrada, após a invasão da Polônia pela Alemanha, em setembro de 1939. Outras nações foram invadidas, nos primeiros meses de 1940, quando Churchill assumiu o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, em maio, tinha 65 anos. Instante do epicentro da grave crise continental. De há muito ele alertava. “Compreendia a ameaça que os nazistas representavam para o mundo”, que vários países do continente europeu “estavam todos em perigo”. A rigor, vinha se preparando, a “Inglaterra - o Império Britânico - estava sozinha”, para uma resistência isolada, todavia o pesado fardo caiu nas mãos do novo líder dos ingleses; certamente acendeu um charuto da caixa. 

Com a concretização de fatos antevistos, Churchill teve a convicção para rejeitar qualquer famigerado acordo de não agressão entre a Inglaterra e a Alemanha, seria uma capitulação, vindo de que lado fosse. Contrariando até importantes nomes da política inglesa, ele confrontou Hitler. Estava certo, um acordo seria “uma armadilha que colocaria a Inglaterra à mercê nazista”; ele evitou, de certa forma, o domínio total da Europa com reflexo global - “lutar e não negociar” contra “o abismo de uma nova era de trevas” (O obscurantismo e as atrocidades nazistas começavam a aparecer - abra-te os olhos). 

Graças aos posicionamentos de Churchill foi possível: o Reino Unido se equipar; reunir na Ilha forças das nações invadidas; fazer os EUA entrar no conflito; e o principal, sem as posições do charuteiro, “não teria havido a perspectiva do Dia D (Jun 1944), e a libertação do continente”, a vitória, com a derrocada nazista (Maio 1945).

No pós-guerra, Churchill continuou trabalhando para a nova realidade do mundo. Trata-se de presença vetorial em diversas negociações globais. De sensível importância, pois fora “indispensável para a vitória em duas guerras mundiais”, e ”um de seus maiores talentos é o de ser pacificador”. Perde a cadeira de primeiro-ministro, em meados de 1945, sem afetar sua evidência, mas reconquista a mesma em 1951.

Intermediou ações delicadas no âmbito da Europa e na Ásia, e na distensão política internacional. Liberdade e democracia guiavam as pautas. Em seus escritos e discursos, além de frases que marcaram uma época, lançou neologismos... “Conferência de Cúpula, Oriente Médio, Cortina de Ferro”.  São 31 livros publicados - um Prêmio Nobel, e mais 18 volumes de 8.700 páginas de discursos, e de um milhão de memorandos e cartas em 2.500 caixas.

Este é o Fator Churchill que Boris Johnson procura demonstrar no seu ótimo livro. Que nunca um homem participou, com qualidade, de tantas coisas, por tanto tempo, em prol do seu povo e da humanidade. Que não escondia suas excentricidades. Que bebia, fumava e pintava. Que aprendia com as falhas cometidas. Que foi o “maior político de sua era”. Um líder humano, visionário, capaz, vitorioso, agregador, dedicado, produtivo, sério e pacifista - exemplo que jamais será esquecido. Por fim, podemos dizer que o legado churchilliano continua vivo, não é apenas político, aplicasse às mais diversas áreas. 

P.S. - Parabéns ao novo imortal da Academia Brasileira de Letras, eleito em 25/11/2021, o escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho.  *Uma curiosidade: Assim como Winston Churchill, o novo imortal é adepto do charuto.


*Administrador de empresas e escritor
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