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cúpula DO BRICS

O que a ausência de Putin na cúpula do Brics diz sobre a Rússia e a guerra na Ucrânia?

Cada vez mais isolado, e com mandado de prisão do TPI, presidente russo é o único líder a não participar presencialmente do encontro, que começa nesta terça

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de reunião com o presidente da Suprema Corte no Kremlin de MoscouPresidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de reunião com o presidente da Suprema Corte no Kremlin de Moscou - Foto: Mikhail KLIMENTYEV / POOL / AFP

A ausência do presidente russo, Vladimir Putin, na cúpula do Brics, em Johanesburgo, evidencia o isolamento da Rússia e os horizontes cada vez menos amplos para Putin, um ano e meio após a invasão da Ucrânia. Todos os outros líderes do bloco — o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa; o líder chinês Xi Jinping; o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva; e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi — estão presentes no evento, que começa nesta terça-feira, enquanto o russo, que tem um mandado de prisão contra ele do Tribunal Penal Internacional (TPI), é representado por seu chanceler, Sergei Lavrov.

Desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, Putin se depara com opções de viagens cada vez mais limitadas: o líder russo hoje tem as portas abertas apenas em Pequim, nos países na Ásia Central e no Irã, além, claro, na Bielorrússia, seu grande aliado.

Em março deste ano, o TPI emitiu um mandado de prisão para Putin por um suposto esquema para deportar crianças ucranianas para a Rússia, o que limitou ainda mais seu roteiro internacional. No caso do Brics, a África do Sul é signatária do tratado que rege o tribunal de Haia, o que a obrigaria a prender indivíduos indiciados pelo tribunal. Em 2015, no entanto, o então presidente sudanês Omar al-Bashir, indiciado por crimes de guerra e crimes contra a Humanidade ligados ao genocídio em Darfur, visitou o país, sem ser preso.

No mês passado, o gabinete de Ramaphosa disse que Putin não compareceria “por acordo mútuo”. Até agora, a África do Sul se absteve de condenar a invasão, em uma atitude que chegou a ser interpretada como apoio a Moscou.

O Kremlin se irrita com qualquer insinuação de que Putin está fugindo da cúpula do Brics por conta do mandado do TPI. Seu porta-voz, Dmitry Peskov, ameaçou que a Rússia consideraria a prisão de Putin como uma “declaração de guerra”.

No fim de julho, o presidente russo disse a jornalistas que não achava que sua presença no Brics seria “mais importante do que na Rússia nesse momento”. De acordo com uma fonte do governo sul-africano, ouvida pelo The New York Times, as instabilidades internas na Rússia, provocadas principalmente pelo motim do Grupo Wagner, contribuíram para a ausência.

Mas a ausência física de Putin, , que participará apenas virtualmente da cúpula, está sendo sentida. Na semana passada, Lula da Silva disse que seria "muito importante" a presença do russo, em entrevista ao jornal sul-africano “Sunday Times”. Um dos principais temas sobre a mesa será a ampliação do número de membros do bloco.

"Lavrov é um diplomata muito importante e experiente, mas seria muito importante que a Rússia participasse desta reunião com seu presidente. Vamos discutir importantes questões globais, como a paz e a luta contra desigualdade, e eu gostaria muito de poder discuti-los pessoalmente com o presidente Putin" disse Lula.

O presidente brasileiro também adiantou que iria propor alternativas para uma moeda de referência para transação comerciais entre os países, sem depender de uma moeda de um terceiro país, como é o caso do dólar — tema que é de extrema importância para Moscou.

Ordem multipolar
Putin é defensor do que chama de “ordem mundial multipolar ”, promovendo outros organismos, entre eles o Brics, como um contrapeso às instituições lideradas pelos EUA e Ocidente. Moscou tenta avançar com uma campanha que apresenta a Rússia como uma potência firmemente anticolonial que apoia uma ordem mundial mais justa e equitativa.

Nos últimos dois anos, Putin vem tentando atrair particularmente sul global. Para o líder russo, a África do Sul é a porta estratégica para um continente que se tornou um campo de batalha diplomático.

"Concordo que o conceito de dominação ocidental promovido pelos Estados Unidos e países subordinados não prevê o desenvolvimento harmonioso de toda a humanidade" disse Lavrov, em uma entrevista recente.

Esse foi um dos principais objetivos da recente cúpula Rússia-África, no mês passado, quando Putin anunciou a assinatura de acordos de cooperação militar com mais de 40 países do continente e a doação de até 50 mil toneladas de grãos a aliados. Mas a baixa participação de líderes africanos pode ter decepcionado o Kremlin, já que menos da metade dos chefes de Estado compareceram ao evento, em relação à última edição antes da pandemia, em 2019.

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