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Guerra

O que é a Unifil, missão de paz da ONU no Líbano que foi alvo de ataques de Israel

Estabelecida em 1978 durante a ocupação israelense do Líbano, mais de 9 mil soldados da ONU tentam pacificar a fronteira israelense-libanesa e apoiar o trabalho humanitário na região

Veículo da Unifil, missão de paz da ONU no LíbanoVeículo da Unifil, missão de paz da ONU no Líbano - Foto: AFP

O quartel-general da missão de paz das Nações Unidas no Líbano (Unifil) denunciou, nesta sexta-feira, ter sofrido o segundo ataque em 48 horas por parte de forças israelenses, que lutam contra combatentes do movimento xiita Hezbollah na fronteira entre os dois países.

Ao todo, quatro soldados de paz, conhecidos como "capacetes azuis", ficaram feridos nas duas ações, que foram alvo de fortes escrutínio da comunidade internacional. Hoje, cerca de 9.500 soldados de mais de dez países diferentes estão destacados para a missão.

A Unifil está posicionada entre o rio Litani, o mais extenso do Líbano, e a fronteira libanesa-israelense. Seu principal quartel-general fica em Ras al-Naqoura, perto da divisa com Israel, mas há postos de observação e patrulhas espalhadas por todo o sul do Líbano.

Indonésia, Índia, Gana, Nepal, Itália, Malásia, Espanha, França, China e Irlanda são os dez países que mais contribuem com tropas para a missão. Nesta sexta-feira, o governo italiano, que contribui com cerca de 900 militares, acusou Israel de possíveis "crimes de guerra" em razão do ataque a Unifil, enquanto a França, por outro lado, convocou o embaixador israelense no país.

A Espanha, que lidera a missão e mantém 650 militares no Líbano, adotou um tom ainda mais duro: seu primeiro-ministro, Pedro Sánchez, exortou a comunidade internacional a cortar o suprimento de armas a Israel, diante da escalada do conflito com o Hezbollah.

Origem da missão
A Unifil foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), em 1978, quando tropas israelenses invadiram o sul do território libanês sob a alegação de estar protegendo o norte do seu país de combatentes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), uma organização política e paramilitar fundada nos anos 1960. Na época, 6 mil soldados foram enviados para a missão de paz.

Apesar da presença da missão, as tropas israelenses, com o apoio de falanges cristãs maronitas libanesas, estenderam os confrontos contra a OLP e o Hezbollah, milícia xiita que surgiu naquela época, até a capital Beirute, permanecendo na região de 1982 a 1985.

Nesse período, o Conselho de Segurança ordenou, por meio da resolução 425, que Israel retirasse suas forças de todo o Líbano, mas o país só deixou o território libanês em 2000.

Com o fim da ocupação israelense, a Unifil — que até então fazia um trabalho paliativo para assistir aos civis que viviam em meio ao conflito — se estabeleceu no sul do Líbano, na fronteira com o norte de Israel.

Todo ano, o mandato da missão é renovado pelo Conselho de Segurança. Desde a instituição Unifil, 334 capacetes azuis morreram durante o trabalho.

Os ataques desta semana ecoam o massacre de Qana, em 1996, quando tropas israelenses abriram fogo contra um complexo da ONU que abrigava cerca de 800 civis libaneses numa área de atuação da Unifil.

Ao todo, mais de 120 civis foram mortos e 500 ficaram feridos. Quatro capacetes azuis também se feriram durante a ação, que foi objeto de investigação pelo conselheiro militar do secretário-geral das Nações Unidas. O relatório sobre o caso foi encaminhado depois para o Conselho de Segurança.

Guerra de 2006 e hoje
Desde a brutal guerra entre Israel e Hezbollah em 2006, a Unifil exige a implementação da resolução 1701 do Conselho de Segurança, que encerrou o conflito. De acordo com o texto, ambos os lados se comprometiam a cessar as hostilidades transfronteiriças e apenas o Exército libanês e as forças de paz da ONU poderiam atuar no sul do Líbano. Suas determinações, no entanto, nunca foram completamente cumpridas, mantendo a necessidade das tropas da ONU na região até hoje.

Na prática, o Hezbollah manteve sua presença na região, e especialistas acreditam que o grupo tenha criado uma rede robusta de túneis subterrâneos, alguns capazes de alcançar o território israelense. Em 2020, a Unifil solicitou ao Líbano acesso aos túneis, sem sucesso.

Antes da nova escalada entre Israel e Hezbollah, iniciada em outubro do ano passado, as hostilidades entre os dois lados continuaram de maneira limitada, com ataques pontuais a regiões despovoadas, como as Fazendas de Shebaa, na tríplice fronteira entre Israel, Líbano e Síria.

Desde 8 de outubro de 2023, no entanto, o nível de tensão mudou. Um dia depois do Hamas lançar o pior ataque terrorista a Israel das últimas décadas, o Hezbollah começou uma troca de disparos contra o norte de Israel que forçou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas nos dois lados da fronteira.

O conflito escalou no mês passado, quando Israel direcionou o foco da sua guerra contra os tentáculos do Irã no Oriente Médio para o Líbano, matando diversas lideranças do Hezbollah, incluindo o seu secretário-geral, Hassan Nasrallah.

Além de bombardeios e ataques baseados em inteligência, como a explosão de pagers e walkie-talkies usados por pessoas ligadas ao grupo, o Estado judeu iniciou uma incursão terrestre contra o sul do Líbano.

Embora o foco da missão de paz da ONU na região seja apoiar os esforços humanitários, a Unifil tem poder para “decidir sobre qualquer ação necessária em relação ao posicionamento de suas forças, a fim de garantir que sua área de operações não seja usada para atos hostis”.

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