O que é o WhatsApp GB e por que o aplicativo foi banido?
Sistema chamado de 'cliente alternativo' gera riscos para usuários, que relataram ter os números removidos da rede social
Usuários do WhatsApp que usam o serviço por meio do “Whatsapp GB”, um tipo de “cópia” da plataforma de mensagens da Meta, mas com recursos não encontrados no original, estão sendo banidos da rede social desde a terça-feira (22).
O Whatsapp GB, chamado de “cliente alternativo”, tem entre as funções extras oferecidas pela versão não oficial o agendamento de mensagens, a possibilidade de esconder o status on-line, compartilhamento de vídeos e imagens com maior qualidade, e a conexão de mais de um número de telefone ao mesmo perfil.
Outro recurso disponibilizado pelo Whatsapp GB é o disparo em massa de mensagens para até 600 contatos simultaneamente. De acordo com Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky, essa possibilidade bate de frente com as leis brasileiras feitas para evitar a disseminação de fake news.
"O aplicativo oficial é regulado, o alternativo, não. O Whatsapp sofre grandes pressões de governos sob as leis de fake news. Quando estes apps alternativos são usados, os donos perdem o controle", explica.
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Segundo o analista, os aplicativos que se conectam às redes sociais alterando suas funcionalidades não são novidade. Já houve, no passado, clientes alternativos para o Instagram, Facebook e Telegram, que permitiam ver quem bloqueou ou visitou o perfil do usuário. Para ele, os recursos extras são o maior atrativo para o download.
Os aplicativos desenvolvidos por empresas são regulados e devem atender às normas de segurança e privacidade do usuário, e são vendidos nas lojas oficiais de aplicativos, como a Play Store e a Apple Store. Já os “clientes alternativos”, como se refere Assolini, são feitos por outros usuários que podem permitir a entrada de códigos maliciosos e vírus no aparelho uma vez que é feito o download, além de captar e expor dados pessoais de quem o utiliza.
"Para instalar esse tipo de app, é necessário desinstalar recursos de segurança que protegem o smartphone, como desbloquear os aparelhos e habilitar downloads fora das lojas oficiais, o que deixa o app sensível a falhas de segurança. Depois que esses apps estão instalados, eles poderiam ter acesso aos dados", afirma.
E completa:
"Não é uma empresa que está por trás dos dados, e sim usuários. Não é incomum ouvir casos de pessoas que instalaram este tipo de cliente alternativo e perderam as contas do Facebook e Instagram, por exemplo", cita Assolini.
Por este motivo, há um esforço das empresas em tirar esses apps do ar. O Instagram e o Facebook também já desabilitaram contas que fizeram uso desses aplicativos.
Christian Perrone, Head de Direito e Tecnologia e GovTech do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), explica que as lojas de aplicativos não são meros intermediários na instalação dos apps, mas são essenciais para garantir um “padrão mínimo de qualidade” para o usuário.
"Vemos uma série de aplicativos sendo retirados dessas lojas justamente porque eles não atendem aos padrões mínimos que as lojas determinam. Elas possuem uma auditoria prévia que garante também uma continuidade do monitoramento das plataformas, permitindo que o usuário denuncie erros. É a diferença entre pegar carona na rua e chamar um carro de aplicativo. Nos dois casos um estranho irá dirigir, mas nos apps, você tem o respaldo de uma empresa", compara Perrone.
Se os recursos especiais fazem os aplicativos irregulares tornarem-se atrativos aos usuários, apesar dos riscos à segurança, por que as empresas não se “inspiram” neles para atualizar as plataformas com novas funcionalidades? Para Fabio Assolini, a possibilidade existe. Segundo ele, a Apple é um bom exemplo de empresa que atualizou os dispositivos com recursos exigidos pelo público:
"Se os desenvolvedores das redes sociais não se inspiram nisso para melhorar os apps, deveriam. O iPhone fez isso bem. No início dos iPhones, o uso de mecanismos para retirar a barreira de segurança para instalar recursos de terceiros era bem mais comum que hoje. Por exemplo, usuários que compravam o smartphone em outros países, queriam usá-los em seu país natal, mas para isso, precisavam alterar a funcionalidade do aparelho, deixando-o exposto".
Segundo o Whatsapp, não existe nenhuma outra versão do aplicativo a não ser a oficial (WhatsApp Messenger ou WhatsApp Business). A empresa diz que o Whatsapp GB foi desenvolvido por terceiros e viola os Termos de Serviço da companhia.
"O WhatsApp não é compatível com esses aplicativos porque não podemos validar as medidas de segurança implementadas por eles" disse a empresa em nota, afirmando ainda que os banimentos de usuários do aplicativo não foram uma ordem direta da holding, mas resultados do trabalho constante do sistema de integridade da própria plataforma.