CRIPTOMOEDAS

O que esperar da mineração de Bitcoin na América do Sul?

A mineração de Bitcoin está se tornando uma das indústrias mais importantes da região

Foto: Pexels

A América do Sul tem atraído grandes investimentos nesse setor nos últimos anos. O continente, conhecido por sua riqueza em recursos naturais, oferece condições favoráveis para a mineração de criptoativos, como energia renovável em abundância e custos operacionais competitivos. No entanto, os países sul-americanos têm diferenças que influenciam esse mercado, como a realidade econômica, política e regulatória de cada nação.

O Brasil, embora seja a maior economia da América do Sul, enfrenta dificuldades para se estabelecer como um polo de mineração de Bitcoin. O principal obstáculo é o custo elevado da energia. A tarifa média de eletricidade no Brasil em 2023 é de cerca de R$ 618,28 por megawatt-hora (MWh), um valor considerado inviável para a mineração em grande escala. Isso faz com que muitas empresas optem por soluções alternativas, como operações off-grid ou parcerias com geradores privados de energia.

O mercado brasileiro de criptomoedas é um dos maiores do mundo, o que mostra o potencial do país nesse setor. No primeiro semestre de 2023, os brasileiros movimentaram aproximadamente R$ 110,5 bilhões em criptomoedas, um aumento de 31,7% em relação ao mesmo período de 2022. Esse volume foi impulsionado principalmente pelas stablecoins, com o USDT (Tether) representando 82% das transações, somando R$ 90,5 bilhões.

Além disso, No terceiro trimestre de 2023, o país registrou o maior percentual de investidores cripto do mundo, com 28% da população investindo nesse mercado. A média dos brasileiros que alocam seus investimentos em criptoativos chegou a 72%, bem acima da média global de 61%. Dado esse cenário promissor, muitos investidores têm voltado sua atenção para estratégias mais especializadas, como investir em pré-vendas de cripto, que oferecem a oportunidade de adquirir ativos antes de sua valorização no mercado.

Apesar dos desafios, o Brasil tem um enorme potencial para desenvolver fontes alternativas de energia, especialmente em biogás e biometano. Essas fontes renováveis, geradas a partir de resíduos orgânicos, são abundantes no país e oferecem uma oportunidade para operações de mineração de Bitcoin mais sustentáveis. Segundo dados da ABiogás (Associação Brasileira de Biogás), o Brasil tem potencial para gerar 120 milhões de metros cúbicos de biogás por dia, o que poderia alimentar as operações de mineração e também atender à demanda energética de várias indústrias.

Embora a regulamentação do mercado de energia no Brasil ainda seja complicada, já que o sistema tributário do país é complexo e há muitas barreiras para a importação de equipamentos de mineração que dificultam a entrada de novos players no mercado, há movimentação para melhorar isso. Por exemplo, iniciativas governamentais e parcerias com o setor privado estão sendo discutidas para facilitar o desenvolvimento de projetos off-grid, que permitiriam a mineração de criptomoedas de maneira mais econômica.

O potencial do Paraguai como centro da mineração de Bitcoin

Entre os países sul-americanos, o Paraguai é um dos mais promissores para a mineração de Bitcoin. Graças à abundante oferta de energia hidrelétrica, principalmente gerada pela usina de Itaipu, o país tem atraído diversas empresas internacionais de mineração. A energia barata e sustentável é um dos principais atrativos para investidores, que encontram no Paraguai um ambiente propício para o desenvolvimento de operações de larga escala.

De acordo com Javier Giménez, ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, os mineradores de Bitcoin pagam até três vezes mais pelo megawatt de energia em comparação ao Brasil. Isso torna a venda de energia para mineradores uma opção mais lucrativa para o Paraguai do que as tradicionais exportações de eletricidade para países vizinhos. Em 2022, as exportações de energia para o Brasil totalizaram cerca de US$ 1,5 bilhão, enquanto as estimativas indicam que o setor de mineração de criptomoedas tem potencial para gerar receitas ainda maiores para o Paraguai nos próximos anos.

Entretanto, o país enfrenta algumas dificuldades com a regulação do setor. O Congresso paraguaio está em debate sobre a regulamentação da mineração de criptomoedas, com setores contrários alegando preocupações ambientais e de segurança energética. Mesmo assim, empresas como Bitfarms e Penguin estão expandindo suas operações, confiantes no futuro promissor da mineração no país.

Argentina inova com a mineração de Bitcoin

A Argentina, outro grande player sul-americano, está cada vez mais favorável para a mineração de Bitcoin, especialmente devido à melhora na segurança jurídica e ao aumento do interesse do governo em regular a atividade. O país, que há décadas enfrenta crises econômicas e políticas, encontrou na mineração de Bitcoin uma forma de atrair investimentos e gerar emprego em áreas rurais.

Uma das regiões de destaque na Argentina é a reserva de Vaca Muerta, conhecida pela exploração de petróleo e gás. Empresas de mineração de Bitcoin têm se aproveitado do gás metano excedente, que muitas vezes é queimado diretamente nas operações de extração de petróleo. Ao invés de desperdiçar esse recurso, as mineradoras estão utilizando o metano para alimentar suas operações, o que, além de reduzir o impacto ambiental, contribui para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

Com um cenário de energia barata e a disposição do governo argentino em incentivar essa nova indústria, o país pode ser um dos grandes centros de mineração de Bitcoin na América Latina. No entanto, a inflação e a instabilidade cambial ainda são preocupações a serem superadas para que o setor continue crescendo.

As informações contidas neste artigo não refletem a opinião do Jornal Folha de Pernambuco e são de inteira responsabilidade de seus criadores. 

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