O que esperar do segundo mandato de Donald Trump
Analistas afirmam que propostas do novo presidente podem provocar verdadeira convulsão
Para Donald Trump, "o Dia da Independência dos Estados Unidos" será em 20 de janeiro (e não no 4 de julho), quando assumirá o cargo de presidente para cumprir suas promessas de campanha: deportar milhões de migrantes, excluir militares transgêneros, impor tarifas alfandegárias mais altas, acabar com as guerras em Gaza e na Ucrânia, reduzir impostos e perdoar centenas de apoiadores seus que foram presos após invadirem e depredarem o Capitólio em 2021.
Analistas afirmam que esse programa de governo provocaria uma convulsão sem precedentes nos EUA e no mundo, mas é difícil de cumprir. Saiba o que esperar do novo governo:
Imigração
Trump, que chama de “invasão” a entrada de imigrantes sem visto no território americano e os acusa de envenenar “o sangue” do país, prometeu lançar o “maior esforço de deportação da História dos Estados Unidos”. Ele também quer acabar com o direito à cidadania por nascimento aos filhos de imigrantes irregulares, que considera “ridículo”.
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Calcula-se que cerca de 11 milhões de pessoas viviam em situação irregular nos Estados Unidos em 2022. Para pôr fim a essa situação, Trump planeja declarar estado de emergência nacional assim que tomar posse e mobilizar o Exército.
É provável que ele aja rapidamente para implementar essa política, carro-chefe de sua campanha como medida a ser tomada no primeiro dia de governo. Mas uma rápida remoção de tantas pessoas enfrentará obstáculos, desde a logística básica até desafios legais e políticos.
Além do custo humano, a expulsão de milhões de trabalhadores, que frequentemente realizam ofícios de pouca qualificação, teria um forte impacto na economia do país, especialmente para os setores de construção, hotelaria e varejo.
Indultos
Em 6 de janeiro de 2021, uma multidão de apoiadores de Donald Trump invadiu o Capitólio para tentar impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições. Quase 1.500 das pessoas detidas foram processadas e mais de 900, condenadas, segundo números divulgados em agosto pelo promotor do distrito de Columbia. Em março passado, quando ainda era candidato presidencial, Trump afirmou que uma de suas primeiras decisões, caso vencesse, seria “libertar os reféns presos injustamente” no 6 de Janeiro.
Tarifas alfandegárias
Trump prometeu impor novas tarifas pesadas, visando a uma taxa de 25% sobre todos os produtos estrangeiros e 60% ou mais sobre os produtos provenientes da China. Na campanha eleitoral, ele também ameaçou impor tarifas ainda mais altas sobre países e produtos específicos.
“Em 20 de janeiro, como uma das minhas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre TODOS os produtos que entrarem nos Estados Unidos e suas ridículas fronteiras abertas”, escreveu Trump no fim de novembro em sua rede Truth Social.
Trump não precisa consultar o Congresso para impor as tarifas prometidas, já que uma lei de 1977 lhe dá autoridade para impor tarifas em casos de uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, à política externa ou à economia dos EUA.
Mas tanto o México quanto o Canadá estão vinculados aos Estados Unidos por um acordo de livre comércio, então é válido perguntar se a ameaça é real ou se ele está tentando pressionar mexicanos e canadenses antes de iniciar negociações.
Como alternativa, Trump poderia usar outras disposições legais que invocou em seu primeiro mandato para aumentar algumas tarifas, mas que requerem um período de escrutínio público, o que acarreta um atraso.
Antes de renunciar recentemente ao cargo, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, apressou-se em fazer uma visita à residência do republicano na Flórida. Trump justificou a advertência aos dois países mencionando a chegada de drogas e imigrantes irregulares pelas fronteiras com os vizinhos.
Outro país na mira do presidente eleito é a China, a quem ele ameaçou aumentar em 10% as tarifas alfandegárias, além das que já impôs a certos produtos durante seu primeiro mandato (2017-2021).
Inflação
Uma das principais metas de Trump é o corte de impostos, que dependem da aprovação do Congresso, dominado pelos republicanos nas duas Casas. No entanto, a agenda econômica do novo governo pode muito bem estimular o crescimento e a inflação, afirmam especialistas. Os investidores reagiram à sua vitória com a venda de títulos do Tesouro dos EUA, o que levou uma série de economistas a repensarem suas expectativas sobre a rapidez com que o FED, o Banco Central americano, continuará a reduzir as taxas de juros em 2025. Por outro lado, há dúvida sobre o que o republicano poderia fazer para influenciar mais diretamente o Banco Central. É vedado por lei ao presidente dos EUA o poder de demitir ou rebaixar qualquer um dos chefes sêniores do FED, isto é, seu presidente e vice-presidentes.
Clima
“Drill, baby, drill” (Perfure, querida, perfure), tem sido o lema repetido várias vezes por Donald Trump, um negacionista da mudança climática que quer impulsionar a extração de combustíveis fósseis, que já bate recordes.
— Temos mais ouro líquido do que qualquer país do mundo — afirmou o presidente eleito dos Estados Unidos, o segundo país que mais polui, atrás da China.
Seu retorno ao poder ameaça pôr em risco os esforços globais para combater as mudanças climáticas provocadas pelo homem. Durante seu primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris sobre o clima. O país voltou ao tratado por iniciativa do presidente em fim de mandato, Joe Biden.
Guerras e diplomacia
O presidente eleito prometeu apoio incondicional a Israel em sua guerra contra o movimento palestino Hamas na Faixa de Gaza, devastada por 15 meses de conflito.
“Se os reféns não forem libertados antes de 20 de janeiro de 2025, a data em que assumirei com orgulho o cargo de Presidente dos Estados Unidos, pagarão caro no Oriente Médio e aqueles que perpetraram essas atrocidades contra a Humanidade”, escreveu em dezembro em sua plataforma Truth Social.
Mas, ao mesmo tempo, o republicano pede que a guerra de Gaza acabe, assim como a da Ucrânia, desencadeada em fevereiro de 2022 pela invasão russa.
“Ele pode nos ajudar a parar [Vladimir] Putin. Ele é muito forte e imprevisível”, estimou no início de janeiro o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referindo-se a Trump, apesar de temer as condições que a Rússia possa impor.
Ofensiva contra transgêneros
No fim de dezembro, Trump prometeu “deter a loucura transgênero” e disse que excluirá os transgêneros das Forças Armadas e das escolas de educação primária e secundária.
— A política oficial dos Estados Unidos será que só existem dois gêneros, masculino e feminino — afirmou Trump, que governará um país dividido sobre questões sociais.