Quadrilhas Juninas

O que move uma quadrilha junina? Conheça as origens da dança e histórias de quem ama o São João

Integrantes de quadrilhas juninas de Pernambuco contam suas histórias de amor com o espetáculo

As quadrilhas fazem parte da tradição das festas juninasAs quadrilhas fazem parte da tradição das festas juninas - Foto: Marcos Pastich/PCR

“Olha pro céu, meu amor. Vê como ele está lindo…” Se você é do Nordeste (ou de qualquer outra parte do Brasil), é praticamente certo que conhece essa música e, mais provável ainda, que tenha cantarolado os versos ao ler o início da matéria.

Nessa época junina, em que olhamos para o céu enquanto ouvimos um dos maiores clássicos de Luiz Gonzaga - o mais famoso pernambucano de Exu, Rei do Baião - também olhamos para o chão, para o palco, para o local onde são encenados os mais tradicionais espetáculos desta época do ano. Alguém se arrisca a dizer qual é? 

Pois bem, pergunta fácil para um estado e uma região que ama São João e tudo aquilo que esta celebração tipicamente nossa inclui. Mas, para não restar dúvidas, estamos falando, obviamente, sobre as quadrilhas juninas.

Símbolo da identidade cultural do Nordeste, as quadrilhas chegaram ao Brasil por meio da corte portuguesa, ainda no século 19, e passaram por diferentes processos de transformação até culminarem nas produções que conhecemos hoje.

Como explica o historiador e antropólogo Hugo Menezes, pesquisador de cultura popular e professor do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a dança foi sendo paulatinamente apropriada pela população.

Hugo Menezes, historiador e antropólogo - Foto: Divulgação

A princípio, foi incorporada pelo universo rural e, posteriormente, chegou às cidades, levando consigo uma caricatura da experiência do homem e da mulher do campo. Com o passar dos anos, o viés caricato deu lugar a uma interpretação mais artística e menos jocosa.

“São quadrilhas que querem manifestar arte, então elas abolem, retiram do seu repertório essa caricatura do universo rural e exploram o luxo, a riqueza, a grandiosidade dos espetáculos com as temáticas juninas e referenciados na vivência e na experiência do interior do país, sem ser necessariamente a caricatura borrada, exotizante e exótica da experiência cultural brasileira. Deixa de ser aquela brincadeira que representa o homem do campo, a mulher do campo, como o errado, o atrasado e o feio. E passa a usar os temas que se referem às festas juninas e ao campo para produzir grandiosas óperas juninas, espetáculos que encenam o casamento e fazem um conjunto de muitos pares, compostos por jovens das periferias, celebrarem esse casamento simulado, que é a base do espetáculo”, disse.

“Hoje nós temos grandes espetáculos públicos gratuitos que não deixam nada a desejar aos grandes espetáculos teatrais e de dança das grandes companhias das cidades do Brasil”, completou. 

Para os integrantes das quadrilhas juninas, a palavra, ou sentimento, que mais define a relação com o grupo e o espetáculo é: amor.

Interpretando a noiva da Lumiar, a atriz e administradora Taynara Gomes, 36, encara, todos os domingos, durante a temporada de ensaios, uma viagem de bate e volta, com duração média de seis horas, entre Aracajú e Recife. 

“É uma relação de amor. Tenho muito prazer em fazer parte da Lumiar e do ciclo junino. A arte é tudo em minha vida. É inexplicável”, comentou.

Fábio Andrade e Taynara Gomes, integrantes da Junina Lumiar - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Este ano, um antes de completar 30 de história, a Junina Lumiar tem como tema “A Luz de Tieta”, inspirado na obra de Jorge Amado.

“A quadrilha faz parte da minha vida, é o que dá sentido a tudo. E a nossa maior recompensa é o prazer de ver as pessoas felizes”, contou o cabeleireiro Fábio Andrade, 49, presidente do grupo, marcador e intérprete da personagem Tieta.

Fundada em 1996, a Raio de Sol guia a trajetória da artista e antropóloga Leila Nascimento, 39, que este ano, conta aos risos, interpreta “uma noiva velha, animada e fogosa”.

Minha vida se mistura ao São João. Eu associo os fatos importantes aos temas da quadrilha naquele ano”, disse ela, que também responde pela direção de coreografia do espetáculo.

Leila Nascimento, integrante da Junina Raio de Sol - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Em 2023, a Raio vem com o tema “Brincadeira de Terreiro”, trazendo uma homenagem ao Mestre Salustiano.

“O período junino para nós que somos quadrilheiros começa bem antes do que se é ‘catalogado’. Vivemos São João praticamente o ano inteiro. Se brincar, até dezembro a gente dança”, comentou o designer gráfico Pedro Coelho, 27, diretor de arte visual e que este ano interpreta o noivo, também idoso, da quadrilha.

Pedro Coelho, integrante da Junina Dona Matuta - Foto: Divulgação 

Diretor de cenografia da Dona Matuta, o motorista Alexandre Cortez, 41, também é apaixonado pelo período junino. “São João para a gente é a festa do ano, vale a pena tudo que fazemos, é um momento que lava a alma”, disse.

Alexandre Cortez e Alexandre Henrique, pai e filho, integrantes da Junina Dona Matuta - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

O filho, Alexandre Henrique, 21, que profissionalmente atua como segurança, também faz parte da produção do grupo. “O São João, para mim, representa família. É muito emocionante”, falou.

Para o arquiteto e urbanista George Araújo, cofundador e diretor artístico da Dona Matuta, que este ano traz o tema “Baile Perfumado”, é essencial manter uma renovação da quadrilha.

George Araúdjo, integrante da Dona Matuta - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

“A Dona Matuta tem 17 anos, com uma linda história. Todo ano a jornada se reinicia. Um ciclo se fecha e outro se abre ano a ano”, pontuou.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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