JAPÃO

O que se sabe sobre a colisão entre duas aeronaves no Japão

Voo 516 da Japan Airlines pousava com 379 pessoas a bordo quando colidiu com um avião da Guarda Costeira; rapidez na saída do Airbus 350 salvou muitas vidas, dizem especialistas

A350 da Japan Airlines em chamas após colisão no Aeroporto Internacional Haneda, em Tóquio A350 da Japan Airlines em chamas após colisão no Aeroporto Internacional Haneda, em Tóquio  - Foto: Richard Brooks / AFP

Um dia depois de um dos maiores terremotos registrados nos últimos anos, de magnitude 7,6, que deixou mais de 60 mortos e provocou um alerta de tsunami, o Japão foi novamente cenário de um desastre na terça-feira: durante o pouso no aeroporto de Haneda, em Tóquio, um Airbus A350-600, com 379 pessoas a bordo, colidiu com uma aeronave de pequeno porte da Guarda Costeira.

Cinco pessoas, todas a bordo do avião da Guarda, morreram, e todos os passageiros e tripulantes da Japan Airlines (JAL) saíram em segurança, em uma operação rápida e que foi elogiada por autoridades e especialistas.

Citado pela rede NHK, o Ministério de Terras, Infraestruturas, Transportes e Turismo apontou que houve uma falha na comunicação entre os controladores de terra e as aeronaves. O órgão afirma que a aeronave da Guarda Costeira, que seguiria para as regiões afetadas pelo terremoto de segunda-feira, havia recebido autorização para entrar na pista. Contudo, o voo 516 da Japan Airlines, proveniente da ilha de Sapporo, no Norte, também recebeu sinal verde para pousar na mesma pista, algo confirmado pela empresa em comunicado horas depois do acidente. Este será o ponto central das investigações: descobrir se alguém passou uma ordem errada, se os pilotos entenderam errado as orientações, ou se foi uma combinação desses dois fatores.

"De acordo com entrevistas com a equipe operacional, eles reiteraram e repetiram [que receberam] a permissão de pouso do controle de tráfego aéreo, e então continuaram com os procedimentos de aproximação e pouso", diz o texto da Japan Airlines.
 

Minutos depois, as duas aeronaves se chocaram, produzindo uma enorme bola de fogo em um dos aeroportos mais movimentados da Ásia. Dentro da aeronave da Guarda Costeira, um De Havilland Canada DHC-8, cinco tripulantes morreram. No avião da Japan Airlines, iniciou-se uma corrida contra o tempo: afinal, parte do Airbus A350, entregue em 2021, estava pegando fogo, a fumaça dominava os corredores e era questão de tempo até que as chamas consumissem a aeronave.

— Estava ficando quente dentro do avião, e pensei, para ser honesta, que não sobreviveria — disse uma passageira à NHK.

A tripulação, seguindo à risca o treinamento, conseguiu que todos deixassem o avião em menos de dois minutos, mesmo com apenas três saídas de emergência disponíveis.

— Um anúncio da cabine disse que as portas traseiras e do meio não poderiam ser abertas, então todos desembarcaram pela parte da frente — disse outro passageiro à NHK. O sucesso da operação contou ainda com a colaboração dos passageiros, que cumpriram a ordem de deixar para trás malas e bolsas, agilizando a saída de todos.

Catorze pessoas sofreram ferimentos leves, e apenas uma precisou de maiores cuidados médicos.

— O fato de não ter havido vítimas entre passageiros e tripulantes neste voo quase lotado da JAL é o resultado da atitude calma do capitão, da tripulação e dos passageiros — disse ao Asahi Shimbun o ex-capitão da Japan Airlines Hiroyuki Kobayashi.

Falhas de comunicação entre aeronaves e a torre de controle estão entre os piores pesadelos de profissionais da aviação. Sempre que incidentes do tipo acontecem, vem à memória a lembrança do desastre no aeroporto de Tenerife (Espanha), em 1977, quando dois Boeings 747 colidiram, deixando 583 mortos — 61 pessoas, todas a bordo do avião da hoje extinta Pan Am, sobreviveram. Na outra aeronave, da holandesa KLM, todos morreram.

O acidente levou a uma série de modificações na operação das torres e na rotina das tripulações antes, durante e depois dos voos. Como todas investigações de incidentes aéreos, o novo inquérito deverá, além de apontar responsabilidades, fornecer sugestões para incrementar a segurança de passageiros e profissionais da aviação.

Já nesta quarta-feira, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes enviará seis investigadores para os primeiros passos do inquérito, que deverá se centrar neste primeiro momento nas comunicações entre as aeronaves e as torres de controle. Em comunicado, a Airbus declarou que fornecerá assistência aos investigadores do Japão e do Escritório de Investigações e Análises (BEA), da França, que também participará dos esforços conjuntos para revelar o que de fato aconteceu em Haneda no dois de janeiro de 2024.

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