O que se sabe sobre as prisões nos EUA dos dois principais líderes do Cartel de Sinaloa do México
Joaquín Guzmán López teria colaborado com a polícia para a prisão de Ismalel 'El Mayo' Zambada García, segundos fontes; traficantes foram acusados pelo avanço de fentanil nos EUA
Os Estados Unidos prenderam dois dos traficantes de drogas mais procurados do mundo, acusando-os de serem responsáveis pelo crescente avanço de fentanil, droga que tem devastado comunidades no país.
Ismael “El Mayo” Zambada García, de 76 anos, e Joaquín Guzmán López (filho de El Chapo), de 35, foram levados sob custódia na quinta-feira, de acordo com o Departamento de Justiça.
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Os homens lideram o cartel de Sinaloa, uma das maiores organizações criminosas do México, responsável por uma onda de violência que deixou uma cicatriz dolorosa no país nas últimas três décadas.
Veja o que se sabe sobre as prisões e o cartel:
Como os traficantes foram presos?
Zambada García embarcou em um avião na quinta-feira com Guzmán López, que alegou estarem indo visitar propriedades para investimentos, de acordo com duas autoridades policiais americanas que pediram anonimato para discutir o caso.
Zambada García não sabia, disseram os dois agentes, que o avião estava indo para os EUA, onde os policiais estavam esperando para prendê-lo.
Segundo o correspondente da Fox News, Bryan Llenas, também citando fontes policiais, a relação entre Zambada García e Guzmán López "se rompeu" porque Guzmán López "culpa [El] Mayo pela captura de seu pai", Joaquín "El Chapo" Guzmán. Uma autoridade ouvida pela rede CNN explicou que os investigadores exploraram uma brecha no cartel e que Guzmán López estava ajudando na captura de Zambada García.
No passado, mesmo quando os líderes dos cartéis foram presos no México, eles continuaram a administrar suas organizações criminosas.
Isso fez com que as autoridades mexicanas permitissem que os principais líderes fossem extraditados para os EUA.
Zambada García foi indiciado pelo menos cinco vezes no país.
O pai de Guzmán López foi extraditado para os EUA em 2017, onde agora está cumprindo pena de prisão perpétua.
Durante seu julgamento em 2019, seus advogados acusaram Zambada García de subornar "todo" o governo mexicano em troca de viver tranquilamente sem medo de processo, informou a BBC.
— Na verdade, [El Chapo] não controlou nada — disse o advogado de Guzmán López pai, na época, aos juízes. — [El] Mayo Zambada controlou.
De acordo com um trabalhador do aeroporto de Santa Teresa, próximo a El Paso, no Texas (onde eles estão sendo mantidos sob custódia), a prisão dos homens "parecia uma coisa bem calma e organizada".
Ele falou com a agência Reuters sob condição de anonimato. Muitos detalhes da prisão ainda são desconhecidos.
O que é o cartel de Sinaloa?
O cartel foi fundado no final da década de 1980 por Zambada García e Joaquín "El Chapo" Guzmán depois que um dos cartéis mais famosos do México se dividiu em grupos rivais.
Os dois consolidaram o controle sobre as rotas de drogas para os EUA e, nas décadas seguintes, transformaram o cartel em um dos mais violentos e bem-sucedidos do México, controlando empresas que incluíam tráfico de drogas e de pessoas e lavagem de dinheiro.
O Departamento de Estado americano recentemente aumentou a recompensa pela prisão de Zambada García para US$ 15 milhões, destacando seu papel no aumento do fentanil, uma droga sintética produzida no México que mata cerca de 100 mil pessoas por ano no país.
Zambada García manteve um perfil muito mais discreto do que seu cofundador, “El Chapo” Guzmán.
Guzmán era conhecido por cortejar a mídia e era uma espécie de celebridade no México, onde bandas escreviam músicas sobre ele.
O filho de Guzmán subiu ao poder depois da extradição e prisão do pai.
Como o cartel de Sinaloa se tornou tão poderoso?
A maioria dos cartéis do México começou transportando drogas para os EUA através de organizações de tráfico na Colômbia nas décadas de 1970 e 1980.
Nos anos 1990, os cartéis mexicanos começaram a conquistar seu próprio espaço à medida que a influência dos grupos colombianos diminuía.
Os anos de 1990 foram marcados por batalhas entre os cartéis para controlar as rotas de drogas mais lucrativas, e a violência muitas vezes se espalhava pela sociedade.
No início da década de 2000, grupos como Los Zetas, formados por ex-oficiais militares, passaram a rivalizar com os cartéis do Golfo e de Sinaloa.
A luta piorou durante o governo do presidente Vicente Fox no início dos anos 2000, com cidades fronteiriças como Ciudad Juárez ficando sob o controle dos cartéis.
Felipe Calderón Hinojosa, que foi presidente do México de 2006 a 2012, enviou milhares de policiais para o norte do México, onde estão localizados muitos dos cartéis, dando início a uma guerra que matou pelo menos 420 mil pessoas e deixou milhares de desaparecidos.
Os combates e as prisões levaram os cartéis a se consolidarem, e o cartel de Sinaloa chegou ao topo.
Eles continuam poderosos e se infiltraram na sociedade mexicana.
Autoridades do governo, incluindo Genaro García Luna, ex-secretário de Segurança Pública do México, foram presas e condenadas por aceitar subornos desse cartel.
Embora os cartéis mexicanos tenham se concentrado por muito tempo no tráfico de cocaína e outras drogas, eles também se tornaram atores centrais na produção e distribuição de fentanil nos EUA.
O país alertou a China para cortar o fluxo dos principais ingredientes usados para fabricar a droga no México.
O que as prisões significam para o cartel de Sinaloa?
As prisões de líderes de cartéis pouco fizeram para interromper o fluxo de drogas para os Estados Unidos e a Europa.
Normalmente, a morte ou prisão de um líder desencadeia uma violenta batalha pelo controle das rotas lucrativas para os EUA.
Antes de sua extradição para os Estados Unidos, o velho Guzmán havia sido preso pelo menos três vezes desde a década de 1990.
Durante essas três décadas, ele liderou o cartel, muitas vezes da prisão, em um período marcado por extrema violência.
O cartel de Sinaloa já está profundamente fragmentado e, se algo acontecer, as prisões provavelmente levarão a mais disputas internas, disse Falko Ernst, analista sênior do International Crisis Group.