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Obesos lutam por cirurgia no SUS

Serviços de operação bariátrica do Estado estão com restrição para novos pacientes em tratamento operatório

Everalda entrou em desespero ao ter procedimento desmarcadoEveralda entrou em desespero ao ter procedimento desmarcado - Foto: Brenda alcântara

Há um ano e dois meses a autônoma Everalda Maria de Araújo, 43 anos, deveria ter entrado na sala de cirurgia para uma operação bariátrica, a conhecida redução de estômago. Chegou a ficar internada 17 dias para garantir um pré-operatório mais cuidadoso, já que pela obesidade mórbida não conseguia sequer se locomover. Era hipertensa e apresentava desconforto respiratório. Beirava os 170 quilos. Depois de 1 ano e meio de ambulatório no Imip, havia chegado o “grande dia”. Mas o sonho de 28 de julho virou pesadelo em instantes, com a desmarcação injustificada da operação e a alta da paciente. Everalda deveria aguardar em casa pela ligação do hospital recrutando-a para a bariátrica. Até hoje o telefone não tocou. O quadro de saúde vem se agravando, assim como o peso: 1 quilo por centímetro de altura.

A situação de Everalda, na espera pela cirurgia, infelizmente não é exceção. Apenas 14% dos procedimentos realizados em Pernambuco são na rede pública. A fila nos principais hospitais do Estado tem restringido até mesmo o primeiro acesso. Para atender a demanda já cadastrada, algumas unidades estão fechadas para novos obesos. Até para quem já está inscrito, o caminho é complicado. “Fiquei muito frustrada e deprimida. Engordei ainda mais. Eu não estou aguentando esse peso. Se não fosse a ajuda do meu marido não sei o que seria de mim. A obesidade é um problema sério de saúde e deveria ser tratada com mais prioridade”, desabafou.

O pedreiro Francisco da Silva, 58 anos, virou o cuidador e quem tenta espantar o desespero da esposa. A autônoma tem pavor de ter mesmo destino da irmã e uma prima que faleceram por complicações relacionadas à obesidade. O Imip disse que, atualmente, tem 47 pacientes cadastrados para se submeterem ao procedimento e 32 deles já estão com as cirurgias bariá­­­tricas agendadas. Nessa lista, Everalda já perdeu a preferência por­­­­que os exames realizados anterior­­­­mente estão desatualizados e ela precisará repetir tudo. No Brasil, estima-se que mais de 3,5% da população tenha obesidade mórbida. Já o número de cirurgias, tanto da rede pública quando da privada, foi de 100,5 mil no ano passa­­­­do, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCB). O volume foi 7,5% maior que 2015. O cenário apenas “parece” animador.

Em Pernambuco, a SBCB estima que sejam realizadas por mês 200 operações, o que dá uma média de 2,4 mil por ano. Contudo, os quatro hospitais habilitados para as cirurgias - Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), Hospital das Clínicas (HC), Hospital Agamenon Magalhães (HAM) e Imip, só realizaram, em 2016, 333 procedimentos bariátricos no ano, segundo relatório do Ministério da Saúde. Nas contas dos próprios hospitais a soma é ainda menor 259. Na desconformidade de dados, por exemplo, o HC informou que em 2015 fez 48 operações contra 56 apontadas pelo MS. Já em 2016 as cirurgias teriam sido 37, mas o Governo Federal fala em 49. A justificativa do hospital foi de que o MS incluiu as operações plásticas na conta. No HUOC, a contabilidade do MS também foi a mais. Em 2015, 81 pacientes operados e em 2016 foram 133, contudo o MS fala em 117 e 203 respectivamente. O serviço pernambucano alegou que entram na conta federal muitas reoperações, que é quando os pacientes precisam de mais de uma intervenção cirúrgica. Em ambos os casos, o Governo Federal não respondeu.

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