Obras de arte milionárias recuperadas de roubo estão com amigo da família da vítima
Antes da transferência, os quadros chegaram a ser levados para a Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti)
Todas as onze obras de pintores famosos — como quadros de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral — que pertencem à viúva do colecionador Jean Boghici, morto a sete anos, e que tinham sido roubadas pela filha da vítima, a atriz Sabine Coll Boghici, foram encaminhadas para uma galeria de arte ainda na noite desta quarta-feira (10) — horas após a prisão da mulher e de integrantes da quadrilha responsável pelo golpe.
Duas pessoas continuam foragidas. Em três anos de crime, o grupo roubou mais de R$ 724 milhões da idosa, de 82 anos. O local, que não foi revelado, pertence a um marchand amigo da família e abrigará o acervo até ser entregue para a proprietária. Antes da transferência, os quadros chegaram a ser levados para a Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti).
Nesta quarta (10), pouco depois das 20h, a idosa e seu advogado estiveram na sede da Deapti e reconheceram os quadros. A vítima fez questão de acompanhar todo o translado das obras de arte até a galeria para onde foram levadas.
Segundo o chefe do Serviço de Perícias de Merceologia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), Nilton Thaumaturgo Rocha Júnior, após analisar 14 obras apreendidas com suspeitos, afirmou em entrevista ao Globo, que 11 das obras que estavam na listagem da Deapti, além de outras três não identificadas, “preliminarmente são verdadeiras”.
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— Inicialmente foi feita uma perícia na parte macroscópica. A análise laboratorial será feita posteriormente. Estou tratando as obras como autênticas pelo que temos agora, nesse momento. Realmente, os produtos são compatíveis com os originais. Mas todas as análises serão feitas — explica o perito.
As telas ficavam escondidas embaixo de uma cama na casa de Rosa Stanesco Nicolau, uma vidente conhecida como Mãe Valéria de Oxossi, em um prédio de luxo de Ipanema. Rosa e Sabine, segundo a Polícia Civil, têm uma união estável. Ele lembrou que todas as peças estavam devidamente embaladas como se já estivessem prontas para a venda.
— Durante as buscas, as obras foram encontradas embaixo de uma cama de casal. Na verdade, elas estavam escondidas entre o estrado e o colchão. Todas elas estavam devidamente embaladas com plástico bolha, papel manteiga e fita crepe, como se já estivessem prontas para venda. A única obra que estava com o pacote rasgado era justamente a “Sol Poente”, a princípio a obra mais cara do acervo. Era como se ela tivesse sido embalada como as outras, mas em algum momento o plástico houvesse sido rasgado para que alguém visse ou fizesse uma foto para vender e voltaram a guardar — conta Nilton Thaumaturgo.
Ele observou que uma das obras estava com a moldura danificada e outra tinha uma espécie de ralado na tela. O perito preferiu não especificar quais eram e seus respectivos pintores.
— Há apenas uma obra com a moldura danificada e outra que tem uma pequena escarificação (um ralado na tinta). Isso não a compromete. As outras, a princípio, estão em estado normal. Elas serão depositadas em uma galeria e posteriormente devolvidas à vítima.