Ofensiva israelense em Rafah aumenta o êxodo de uma população com medo
"Estamos em um estado de muito pânico e medo", diz um morador da cidade
"Nossas mulheres e crianças não param de chorar" e a população está dominada pelo "medo", afirma Ihab Zaarab, um palestino de 40 anos, morador de Rafah, a cidade no sul de Gaza submetida a uma ofensiva terrestre e aérea israelense.
Os habitantes relataram nesta terça-feira (28) a presença de tanques israelenses no centro da cidade e repórteres da AFP viram centenas de palestinos fugindo de Tal al Sultan, a área de Rafah onde um bombardeio israelense matou no domingo pelo menos 45 pessoas, segundo as autoridades do movimento islamista Hamas, que governa o território.
Algumas famílias conseguiram carregar colchões e cobertores em um carro. Em uma foto tirada em Rafah, vê-se uma mulher caminhando com seus pertences pessoais dentro de um saco de lixo.
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Cerca de um milhão de pessoas fugiram desta cidade no extremo sul da Faixa de Gaza nas últimas três semanas, quando se iniciou a operação terrestre do exército israelense, de acordo com a Agência de Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
"Estamos em um estado de muito pânico e medo", diz Ihab Zaarab.
"Ver as pessoas fugindo nos deu mais medo e decidimos nos refugiar nas lojas da [zona costeira de] Al Mawasi. Esperamos que haja lugar", acrescenta.
"Chega de bombardeios"
No centro de Rafah, outros moradores afirmaram à AFP que já não podiam mais sair devido à chegada de blindados israelenses.
"Os tanques estão posicionados perto da mesquita Al Auda, no centro de Rafah", conta Abdel Jatib, acrescentando que ouviu "tiros e explosões".
"As pessoas continuam em suas casas por enquanto, pois quem se move recebe disparos de drones israelenses", diz esse homem de 40 anos.
"Não sabemos para onde ir. Não há nenhum lugar seguro em Rafah", lamenta-se.
Mohammad al Chaer, de 36 anos, que mora a 200 metros de Al Auda, concorda. "Eu e minha família não sabemos para onde ir", afirma.
"Querem nos eliminar. Chega de bombardeios", denuncia após o ataque, que provocou uma onda de comoção internacional e aumentou a pressão para que Israel suspenda sua ofensiva na cidade.
A Corte Internacional de Justiça, mais alto tribunal da ONU, ordenou na sexta-feira que Israel suspendesse suas operações militares em Rafah.
A ofensiva israelense deixou apenas um centro de saúde em funcionamento nessa cidade, segundo as autoridades locais.
"A maternidade do hospital Tal Al Sultan é a única que luta para continuar oferecendo cuidados aos pacientes de Rafah", indicou o Ministério da Saúde de Gaza em um comunicado.
Um representante da Defesa Civil de Gaza informou à AFP que suas equipes não haviam conseguido chegar às regiões do sul e do leste da cidade.
A guerra entre Israel e Hamas eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, em sua maioria civis, no sul de Israel, de acordo com um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Os combatentes também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem retidas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma ofensiva aérea e terrestre contra a Faixa, que já deixou até 36.096 mortos, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.