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Pandemia

Oito capitais têm mais de 80% de UTIs ocupadas

Em Manaus, 366 dos 379 leitos de UTI da rede pública estão ocupados, uma taxa de 96%

Profissionais da saúde em atendimento em ManausProfissionais da saúde em atendimento em Manaus - Foto: Michael Dantas / AFP

A região Norte, com UTIs lotadas em Porto Velho e Manaus, reflete a preocupação com a alta de pacientes graves internados no país. Oito capitais brasileiras estão com mais de 80% de seus leitos de UTI para a Covid-19 ocupados, segundo levantamento da Folha de S. Paulo com os governos estaduais.
 
A história do trabalhador marítimo José Azevedo Melo, 57, resume a situação limite em Porto Velho, que chegou a transferir às pressas pacientes para outros estados, e em Manaus, com falta de oxigênio nas unidades de saúde no início do ano.
 
Melo esperou cinco dias para conseguir ser transferido da Upa Sul de Porto Velho para a UTI do hospital Regina Pacis, administrado pelo governo de Rondônia. Com o quadro bastante grave, ele não resistiu e morreu um dia depois de acessar a vaga de UTI.
 
Morador de Manaus, trabalhava numa balsa que fazia o trecho entre Amazonas e Rondônia. De acordo com familiares, contraiu a Covid-19 no trabalho e, com o sistema de saúde de Manaus em colapso, foi atendido em Porto Velho.
 
No dia 23 de janeiro, ele deu entrada na Upa com cansaço. Foi direto para o oxigênio. Um dia depois, precisou ser intubado. Os médicos informaram à família que ele precisava ser transferido imediatamente para uma UTI, mas não havia mais vagas na rede pública.
 
"Só conseguimos vaga no dia 29 de janeiro. Ele não resistiu e morreu. A demora na transferência agravou muito a situação. O pulmão já estava bastante prejudicado", disse o filho Davi Nobre Melo, que chegou a mandar mensagens para servidores do Ministério da Saúde relatando o drama vivido pelo pai.
 
O sistema de saúde de Rondônia segue em colapso. Todos os 151 leitos de UTI para a Covid-19 da rede pública na capital estão ocupados.
 
Pacientes chegam a esperar até uma semana para acessar uma vaga. Sem espaço para todos, uma parte dos infectados está sendo encaminhada para outros estados. Desde o dia 25 de janeiro, 42 doentes com sintomas da Covid-19 foram transferidos para Porto Alegre, Curitiba, Campo Grande e Cuiabá.
 
Deste total, 12 deles necessitavam de cuidados intensivos e foram levados em UTI aérea. Nesta semana, 22 leitos de UTI/Covid-19 foram ativados na rede estadual. Todos eles foram ocupados imediatamente.
 
O estado encontra dificuldade de abrir mais vagas de UTI porque não há médicos intensivistas disponíveis. Diante da gravidade da situação, o Ministério Público Federal solicitou a antecipação da formatura de alunos de Medicina de Rondônia para atuarem na linha de frente.
 
Em Manaus, 366 dos 379 leitos de UTI da rede pública estão ocupados, uma taxa de 96%. O maior gargalo é no atendimento ao público adulto em geral, setor em que a taxa de ocupação de leitos de UTI é de 101%: há 288 leitos disponíveis e 285 pacientes internados.
 
Com a crise de oxigênio nas unidades de saúde temporariamente estabilizada e com limitações da capacidade de atendimento, o maior problema no Amazonas agora é a falta de leitos. Na última segunda (1), a fila da transferência para um leito nas unidades de referência da capital tinha 568 pessoas, 120 delas à espera de uma vaga na UTI.
 
Para desafogar a rede estadual de saúde, o Ministério da Saúde informou que 1.500 pacientes precisam ser transferidos dos hospitais de Manaus para unidades de saúde de outros estados brasileiros. Até esta terça (2) foram transferidos pouco mais de 400 pacientes.
 
No Rio de Janeiro, o número de internações vem diminuindo nas últimas semanas, segundo especialistas devido ao encerramento das festas de fim de ano. Nesta segunda, 65% das UTIs públicas estavam cheias no estado, e a média de espera por um leito era de seis horas em média. Na capital, porém, o índice era maior: 87%.
 
No Nordeste, o Ceará enfrenta um aumento no número de casos da Covid-19 e de hospitalizações em decorrência da doença e atingiu a marca de 87% dos leitos públicos de terapia intensiva ocupados nesta segunda-feira (2).
 
Apesar do patamar alto de ocupação, o governo do estado avalia ter margem para reabrir novos leitos exclusivos para o tratamento da Covid-19 em caso de necessidade. A abertura de novos leitos no estado será feita de acordo com a pressão da demanda. No estado de São Paulo, das primeiras semanas de janeiro até o primeiro dia de fevereiro houve um aumento de cerca de 9% nas UTIs (a média móvel de sete dias delas passou de 8.098 para 8.844) disponibilizadas para pacientes com Covid-19, com leve oscilação para cima de ocupação.
 
Levando em conta só a capital paulista, o número de UTIs para Covid cresceu pouco mais de 4% (a média móvel de leitos foi de 2.957 para 3.091) e a ocupação também sofreu leve oscilação para cima.
 
Janeiro foi o mês com mais casos de Covid-19 (310.727) no estado de São Paulo desde o início da pandemia, com o mesmo se repetindo para o país como um todo. O estado também registrou 6.237 mortes nesse período.
 
Algumas cidades do interior do estado, já nas primeiras semanas de janeiro, registraram recordes de casos da doença. Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto e outros municípios viram suas ocupações de UTI superarem os 70% -alguns chegaram a 100%- no mês.
 
Em Pernambuco, o número de pacientes permanece muito elevado. Nesta segunda-feira (1), havia 832 doentes graves recebendo cuidados intensivos. A taxa de ocupação dos leitos, mesmo com ampliação contínua da oferta, é de 84%.
 
A situação da UTI no Maranhão piorou, especialmente nas proximidades das capitais. Na região de São Luís, aumentou o total de leitos, de 89 para 111 desde 11 de janeiro, com a ocupação subindo de 66% para 84%, enquanto em Teresina o percentual de utilizados foi de 49% para 75%.
 
Nesta terça-feira (2), o governador Flávio Dino (PCdoB) descartou a imposição de um novo lockdown no estado, mesmo com o crescimento de casos constatados. Ele prometeu ampliar os leitos e tomar outras providências. Defensores públicos haviam pedido novas medidas de isolamento social.
 
Na região Sul, Santa Catarina diminuiu a taxa de ocupação de quase 80% para 73% nas últimas semanas. Oito regiões do estado estão classificadas com risco potencial gravíssimo para a Covid-19, outras sete aparecem no nível grave da pandemia e uma região está em risco alto para a doença.
 
A capital Florianópolis, que aparece com risco grave no mapa do estado, está com 82% das UTIs ocupadas - percentual um pouco acima do registrado no último levantamento, de 75%. Algumas escolas particulares da cidade retomaram as aulas presenciais nesta segunda-feira (1º). As instituições podem manter 100% dos alunos nas salas, desde que tenham espaço físico para cumprir com o distanciamento e regramentos estabelecidos pelo governo estadual.
 
O Paraná, que prorrogou pela terceira vez o toque de recolher entre 23h e 5h -medida que passa a vigorar até 31 de janeiro- registra 80% das UTIs ocupadas. O porcentual é o mesmo registrado em Curitiba, que na última semana retomou a bandeira amarela, a mais branda em relação às medidas de combate à pandemia.
 
Já em Porto Alegre, a taxa de ocupação caiu, de 86% para 76%, mas, no mesmo período, houve um acréscimo de 60 leitos disponíveis. No estado, o volume de leitos com paciente é de 75%. Os números são reflexo da ampliação das restrições por duas semanas em dezembro, segundo a secretária de Saúde, Arita Bergmann.
 
"Em janeiro, estamos observando queda nos indicadores, mas ainda são dados elevados, se comparados com os do meio do ano passado. O Rio Grande do Sul está numa situação, de certa forma, em equilíbrio, mas a preocupação é permanente", disse na última semana.
 
Em Roraima, um dos estados com forte presença indígena que criou estratégia de imunização para este grupo, há 62 leitos de UTI para a Covid-19, e 79% estão ocupados. Como em outros estados da região Norte, há ameaça de interrupção no fornecimento de oxigênio.
 
Em Belo Horizonte, houve reabertura do comércio na capital esta semana, após três semanas de fechamento. Até o dia 1º de fevereiro, 77,9% dos 303 leitos de UTI reservados para Covid-19 na rede SUS estavam ocupados – no total, somando rede suplementar, BH chega a 585 leitos reservados para a doença, com taxa de ocupação de 75,7%. A prefeitura diz que abriu 56 novos leitos de UTI em janeiro.
 
No Acre, em menos de um mês, a ocupação dos leitos intensivos para Covid-19 saltou de 57% para 80%. Na capital Rio Branco, a taxa de ocupação está em 76%. Já os leitos clínicos na rede SUS do estado têm ocupação de 95%.
 
Diante da piora no cenário, o governo anunciou nesta segunda-feira (1°) a mudança da classificação do estado para o nível de emergência (bandeira vermelha). Com isso, todos os estabelecimentos não essenciais deverão permanecer fechados.
 
Em Natal, somando vagas estaduais e do hospital de campanha gerido pelo município, a taxa de ocupação dos 86 leitos chega a 72,9%. Entre as internações, estão pacientes vindos de Manaus.
 
No Amapá, estado que atravessou apagão no fim do ano passado, o governador Waldez Goés assinou decreto, nesta segunda (1º), vetando consumo de bebida alcoólica nos fins de semana de fevereiro e suspendendo o ponto facultativo no Carnaval, como medida de contenção à pandemia.


"São medidas necessárias, principalmente após o alerta de uma possível nova variante do coronavírus aqui no Amapá", afirmou Góes. O estado está com 63,7% das 80 vagas de UTI públicas para Covid-19 ocupadas.
 
O Distrito Federal estava com 62% dos leitos de UTI ocupados nesta terça-feira (2). São 285 vagas exclusivas para pacientes com Covid-19 -177 estava preenchidas. Das 108 vagas restantes, seis estavam bloqueadas e e aguardavam liberação na rede pública.
 
A taxa de ocupação, entretanto, é menor que a de 11 de janeiro, quando 76% dos leitos estavam ocupados. Desde o período, foram criadas 113 vagas de leitos de UTI.
 
O Distrito Federal registrou 277.907 casos de Covid-19. Morreram por causa da doença até esta terça 4.564 pessoas.

 

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