SAÚDE

OMS: explosão de cólera cresceu com mudanças climáticas, e não há doses suficientes de vacina

Nos últimos meses, doença tem provocado surtos 'sem precedentes' em países de baixa renda

Vírus ebolaVírus ebola - Foto: wikipedia

A explosão de casos de cólera no mundo, cenário sem precedentes nas últimas décadas, foi acentuada pelas mudanças climáticas e pela escassez de vacinas, alertou a Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta sexta-feira.

— Os fatores que causam o cólera são sempre os mesmos. Mas este ano temos um fator ainda mais importante: o impacto direto das mudanças climáticas, com uma sucessão de grandes secas, inundações sem precedentes em algumas partes do mundo e ciclones que amplificam a maioria dessas epidemias — afirmou o epidemiologista responsável da organização pela luta contra a cólera, Philippe Barboza.

Ele diz que a OMS e autoridades nacionais de saúde estão atuando no combate da doença em 29 países. Por ser relacionada com a falta de acesso à água potável segura e a adequadas instalações sanitárias, a cólera é um problema sanitário que afeta principalmente países de baixa renda.

— O mapa está quase vermelho em todos os lugares — afirma o epidemiologista, citando países como Haiti, Paquistão, Líbano, Síria, Quênia, Etiópia e Malawi. — Se não controlarmos a epidemia agora, a situação vai piorar.

No Haiti, onde nenhum caso havia sido registrado em três anos, a situação se deteriorou rapidamente em um contexto de violência que torna ainda mais difícil o acesso a cuidados médicos já precarizados. No país, a doença causou mais de 280 mortes desde outubro.

Recentemente, a OMS entregou ao Haiti a primeira remessa com 1,2 milhão de doses da vacina oral contra a cólera, e a campanha para administrá-las começará nos próximos dias. No entanto, o estoque não é suficiente para enfrentar os surtos.

As reservas mundiais de vacinas para enfrentar emergências estão quase esgotadas, e as 36 milhões de doses contra a cólera que são fabricadas a cada ano já foram distribuídas, explicou Barboza.

Como não há laboratórios suficientes, apenas cerca de 2,5 milhões de doses são fabricadas por mês. Segundo o epidemiologista, serão necessários vários anos para aumentar consideravelmente essa capacidade de produção.

Além disso, ele ressalta que o imunizante para a doença é "muito menos atraente" para as farmacêuticas por se tratar de "uma vacina para países pobres".

Estratégia de emergência
O cenário de desabastecimento levou a OMS a recomendar de forma excepcional a mudança do esquema vacinal de duas doses – que protege durante vários anos – para uma única aplicação, que confere menos proteção, mas alcança mais pessoas.

O temor é relacionado especialmente com a forma como a doença tem evoluído para formas graves. Barboza diz que a taxa de mortalidade da epidemia está extremamente alta na maioria dos países dos quais o órgão de saúde possui dados.

— Não é aceitável no século 21 que as pessoas morram de uma doença conhecida e fácil de tratar — lamenta o especialista.

A cólera é uma doença causada pela bactéria Vibrio cholerae. A toxina liberada pelo microrganismo se liga às paredes intestinais, alterando o fluxo normal de sódio e cloreto do corpo. Essa alteração faz com que o organismo secrete água em grandes quantidades, na forma de diarreia e vômitos. As complicações decorrem do esgotamento do corpo.

Ela é mais comum em crianças e idosos. A transmissão é por meio da água e dos alimentos contaminados pelas fezes ou mãos de pessoas infectadas. O período de transmissão dura enquanto o doente estiver eliminando a bactéria nas fezes.

A reidratação rápida é muito importante. Ela pode ser feita com soro caseiro ou de farmácias. Antibióticos e remédios para controlar a diarreia podem ser utilizados, com orientação médica. A doença é curável, desde que o tratamento seja precoce. No entanto, muitas pessoas nos países afetados não têm acesso oportuno às ferramentas necessárias.

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