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Coronavirus

OMS já admite não atingir meta de entregar 2,4 bilhões de doses da vacina contra Covid em 2021

A meta era vacinar até 20% da população de todos os países que assinaram o acordo da Covax, mas a capacidade de produção e o fornecimento de imunizantes são as principais entraves

Dispositivo Covax, aliança internacional com objetivo de acelerar a produção e distribuição de vacinas contra Covid-19Dispositivo Covax, aliança internacional com objetivo de acelerar a produção e distribuição de vacinas contra Covid-19 - Foto: AFP

A OMS (Organização Mundial da Saúde) esperava distribuir 2,4 bilhões de vacinas contra Covid-19 via consórcio Covax Facility em todo o mundo até o final de 2021, mas já admite a possibilidade de não atingir essa meta.

A distribuição, por meio da Aliança Global de Vacinação (Gavi), se destina principalmente a países de renda média e baixa, os mais afetados na campanha de vacinação já que não conseguiram fazer acordos multimilionários para compra de imunizantes diretamente com as produtoras.

A meta da OMS era vacinar até 20% da população de todos os países que assinaram o acordo da Covax, mas o principal gargalo hoje para a distribuição dessas doses é a capacidade de produção e o fornecimento de imunizantes das produtoras para o consórcio.

A distribuição global de vacinas contra Covid-19 enfrenta vários desafios, como atrasos na produção, falta de insumos e de seringas e agulhas para aplicação, além de dificuldades logísticas que impedem que o imunizante chegue aos braços do maior número possível de pessoas em um curto espaço de tempo.

No último domingo (2), o Brasil recebeu um novo lote de 2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca via Covax, totalizando até o momento pouco menos de 4 milhões de doses distribuídas pelo consórcio de um total de 42,9 milhões que foram acordadas pelo governo federal no valor de U$ 150 milhões.

Inicialmente, a previsão era que o consórcio enviasse ao país 9,1 milhões de doses até maio. No entanto, o país havia recebido apenas um lote, com 1 milhão de doses, até o final de abril.

Segundo Katherine O'Brien, diretora de imunização da OMS, a principal consequência dos atrasos é uma vacinação desigual no mundo. Países como o Reino Unido ou Israel têm mais de 60% de sua população já imunizada, enquanto outros, principalmente na África subsaariana e sudeste asiático, apresentam na média menos de 5% da população vacinada.

"Estamos muito distantes da distribuição igualitária das vacinas, que é o que desejamos atingir globalmente, como uma só comunidade. E o gargalo principal para isso é a demanda das produtoras, que apresentam atrasos na produção e oferecem seu produto para países ricos", disse ela em um painel durante o Congresso Mundial de Vacinas em Washington, que neste ano foi totalmente virtual.

"Esse problema está nas mãos dos investidores das farmacêuticas. Eles precisam resolver essa questão de oferta e demanda. Nós podemos atuar na distribuição dessas vacinas, mas, se elas não forem repassadas, não podemos fazer nada."

Para Anuradha Gupta, diretora executiva da Gavi, a produção precisa ser acelerada para fazer com que mais vacinas cheguem aos países que mais necessitam. "A velocidade e a virulência dessa vacina colocam um x na questão. Precisamos ter doses suficientes para garantir que 20% a 30% da população nos países mais vulneráveis esteja vacinada. Há poucos países que vacinaram além dos grupos prioritários e países que não receberam doses. A questão da vacina é política; ela depende de lideranças locais e autoridades de saúde, mas ela também é geopolítica", disse.

Outra questão debatida durante o painel foi a quebra das patentes dos imunizantes. Segundo o professor de políticas públicas em saúde da Insead e da Escola de Medicina de Harvard Prashant Yadav, focar a quebra das patentes agora será inócuo para acelerar a vacinação global, uma vez que, mesmo com a liberação das patentes, os países que enfrentam dificuldades na vacinação não possuem a tecnologia e a infraestrutura necessárias para começar a manufatura desses produtos imediatamente.

"A realidade é que temos que aumentar a escala de produção global. O que precisamos para os próximos seis meses é o aumento de oferta. A pergunta a se fazer é: a quebra das patentes vai nos ajudar a avançar na vacinação nos próximos 12 meses? É preciso conhecimento científico e tecnológico para concluir a transferência das patentes, e isso precisa de tempo.

O foco agora deve ser aumentar a capacidade de produção das fábricas e investir nos parceiros de manufatura certificados que já existem no mundo."

Apesar dos entraves, o programa Covax é visto como a principal estratégia global de vacinação contra Covid e é fundamental para atingir a imunização da população e diminuir o crescimento da pandemia em diversos países.

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