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SAÚDE

OMS: Medicamentos como Ozempic e Mounjaro podem interromper e reverter pandemia global de obesidade

Organização elabora diretrizes para uso dos remédios, que devem ser publicadas em julho do ano que vem

Remédio Mounjaro é aprovado pela AnvisaRemédio Mounjaro é aprovado pela Anvisa - Foto: Reprodução Internet

A Organização Mundial da Saúde ( OMS) se manifestou pela primeira vez sobre o potencial de impacto dos novos medicamentos para perda de peso, como o Ozempic e o Mounjaro, e afirmou que eles podem “interromper e reverter a pandemia global de obesidade”.

Os remédios fazem parte de uma classe de medicamentos chamada de agonistas do GLP-1, que simulam esse hormônio no corpo. No cérebro, ele ativa a saciedade e, no estômago, reduz a velocidade da digestão. As principais substâncias disponíveis hoje são a semaglutida – presente no Ozempic e no Wegovy, da Novo Nordisk – e a tirzepatida – do Mounjaro e do Zepbound, da Eli Lilly.

Em um artigo publicado na revista científica JAMA, nesta quarta-feira, o cientista-chefe da OMS, Jeremy Farrar; o diretor de Nutrição do órgão, Francesco Branca, e a assessora sênior, Francesca Celleti, falaram sobre os remédios.

No texto, eles destacam que a obesidade, uma doença crônica e recidivante, “já atingiu proporções pandêmicas, com mais de 1 bilhão de pessoas afetadas”, mas que as novas terapias têm “potencial para uma transformação de todo o sistema de saúde que poderia interromper e reverter a pandemia global de obesidade por meio da prevenção e do gerenciamento integrado eficaz”.

Eles citam que os esforços para combater a doença até hoje têm se concentrado em políticas voltadas para dietas saudáveis e atividades físicas, mas que, “embora existam boas evidências sobre a eficácia dessas políticas, é hora de reconhecer que os esforços (...) não conseguiram, até agora, tratar a obesidade ou mudar a maré da pandemia”.

Neste contexto, afirmam que os análogos de GLP-1 podem ser “transformadores” ao passo que os estudos clínicos mostram uma redução de até 25% do peso corporal junto com outros efeitos positivos, como melhora de doenças cardiovasculares, hiperglicemia, disfunção renal e outros agravos de saúde.

“Os sistemas de saúde de todo o mundo agora podem ser capazes de oferecer uma resposta de tratamento integrada com mudanças no estilo de vida que abre a possibilidade de acabar com a pandemia de obesidade”, escrevem os especialistas.

Porém, ponderam que “a medicação isolada não será suficiente”. Afirmam ser “imperativo” que os sistemas de saúde garantam acesso ao tratamento e que os “modelos atuais, que intervêm apenas em indivíduos com obesidade grave ou quando surgem comorbidades relacionadas" sejam substituídos por modelos que "reconheçam a obesidade como uma doença crônica que exige uma resposta social, de saúde pública e clínica”.

No artigo, ressaltam ser uma preocupação da OMS que uma abordagem medicalizada, centrada apenas na oferta dos medicamentos, leve a uma “resposta distorcida, que não é suficientemente abrangente nem equitativa”. “Em curto prazo, por exemplo, nem mesmo as condições básicas para uma resposta farmacológica eficaz (indicação adequada, disponibilidade equitativa em escala, custo acessível e acessibilidade) foram atendidas”, citam.

“Outras preocupações também devem ser abordadas, incluindo o aumento do mercado de produtos falsificados, o alto custo dos produtos atuais, os desafios de produção e fornecimento e uma série de problemas que comumente enfrentam os esforços para aumentar a escala de novos produtos farmacêuticos”, continuam.

Mesmo assim, os especialistas acreditam que o cenário é promissor, já que o momento em relação ao tratamento da obesidade é outro. Explicam que isso acontece, em parte, pelo interesse comercial e político na doença gerado a partir do sucesso dos novos remédios:

“A disponibilidade dos remédios já está gerando uma nova demanda por serviços entre as pessoas com obesidade. Por sua vez, essa demanda está gerando um novo interesse na obesidade por parte de médicos, governos, formuladores de políticas, gerentes de programas e do setor farmacêutico. Esses elementos não existiam anteriormente e impediam uma resposta clínica e de saúde pública global eficaz à pandemia da obesidade”.

Além disso, os membros da OMS lembram que, na Assembleia Mundial da Saúde de 2022, 33 países se comprometeram a reduzir a prevalência da obesidade em 5% até 2030. Por isso, a OMS está trabalhando para desenvolver diretrizes sobre o uso dos análogos de GLP-1 em adultos, esclarecendo sobre indicações clínicas, a aplicação e as considerações programáticas em todo o mundo, contam os especialistas.

As diretrizes estão sendo desenvolvidas com um grupo independente e serão pautadas nas melhores evidências científicas disponíveis. A publicação está prevista para julho do ano que vem. “Acreditamos que a sociedade está em um momento crucial e agora tem as ferramentas para transformar e reduzir os efeitos da obesidade na saúde em todo o mundo. Precisamos aproveitar o momento”, finalizam os autores.

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