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Crise Climática

Onda de calor obriga corpo humano a suar para se autorregular; entenda e veja dicas

Riscos para doenças cardiovasculares aumentam e exercícios físicos ao ar livre devem ser evitados nos piores horários do dia; saiba quais são

Na última terça, São Paulo registrou sua temperatura máxima às 15h (33,4°C) e Cuiabá às 16h (40,3ºC), no Rio de Janeiro a estação da Vila Militar registrou o pico do calor ao meio-dia (34,9°C).Na última terça, São Paulo registrou sua temperatura máxima às 15h (33,4°C) e Cuiabá às 16h (40,3ºC), no Rio de Janeiro a estação da Vila Militar registrou o pico do calor ao meio-dia (34,9°C). - Foto: Divulgação

A onda de calor, que já colocou São Paulo em alerta vermelho por sua duração acima de cinco dias, torna as pessoas mais vulneráveis a uma série de riscos de saúde, da desidratação ao aumento na possibilidade de infartos e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Quando a temperatura ambiente fica acima de 32ºC, o corpo humano desencadeia um conjunto de mecanismos de termorregulação para manter-se na temperatura adequada. Em geral, a recomendação é evitar a exposição ao sol entre 10h e 16h, mas dentro dessa faixa o pior período vai das 14h às 16h, quando, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) são registradas as temperaturas máximas do dia. Mas há exceções.

Na última terça-feira, por exemplo, enquanto São Paulo registrou sua temperatura máxima às 15h (33,4°C) e Cuiabá às 16h (40,3ºC), no Rio de Janeiro a estação da Vila Militar registrou o pico do calor ao meio-dia (34,9°C). E mesmo depois das 17 horas os termômetros marcavam acima de 32ºC em várias capitais.

- As temperaturas começam a evoluir para a máxima por volta de meio-dia, mas é nessa faixa de 14h e 16h que a radiação aumenta e as estações meteorológicas costumam registrar o pico de calor do dia -- explica Andrea Ramos, pesquisadora na Instituto Nacional de Meteorologia (INmet)

A temperatura interna de equilíbrio do corpo humano fica entre 36,5ºC a 37,5ºC e o máximo que ela pode alcançar é entre 40ºC e 41ºC, explica a cardiologista Cristina Milagre, do HCor. O mecanismo de compensação entre a temperatura ambiente e a do corpo humano é a evaporação — ou seja, o suor. Segundo Cristina, nas ondas de calor o melhor cenário é que o ar fique seco, pois a umidade do ar dificulta a sudorese.

Estudos mostram que o aumento de 1°C na temperatura ambiente é suficiente para aumentar o estímulo da transpiração em 10 vezes.

Nos locais onde as altas temperaturas são combinadas com altas taxas de umidade do ar, a situação complica. A cardiologista lembra que corridas de rua são canceladas sempre que os termômetros alcançam 30ºC e as taxas de umidade do ar ficam acima de 50%.

Exercício físico aumenta calor do corpo
No geral, são desaconselhadas atividades físicas a céu aberto durante os horários mais quentes do dia. Cristina afirma que o melhor é praticar exercícios no início das manhãs ou nos fins de tarde, quando a temperatura começa a cair.

O exercício físico aumenta em até 20 vezes a taxa de produção de calor do corpo, dependendo da intensidade dele, forçando o sistema de termorregulação a manter o equilíbrio — diz ela.

A taxa de produção de calor é uma corrente gerada dentro do organismo pelo trabalho muscular. Essa corrente flui para a pele, para trocar calor com o meio ambiente na forma, principalmente, de suor.

Quanto mais úmido o ambiente, maior dificuldade de o corpo humano fazer essa troca, dificultando o resfriamento do corpo. Quando a umidade do ar está muito baixa ocorre o contrário, um excesso de evaporação e, em geral, as pessoas não percebem o excesso de suor e essa perda de líquido favorece a desidratação.

A cardiologista explica que a perda de água obriga o corpo a consumir mais oxigênio, agravando os riscos de doenças vasculares.

- As pessoas não infartam apenas porque uma veia entupiu, mas também pela oferta de oxigênio. Quando ocorre um desequilíbrio por desidratação, por exemplo, o coração tem de trabalhar mais.

Um estudo feito pelo Instituto Robert Koch, a agência pública alemã para controle e prevenção de doenças, afirma que o calor pode agravar condições pré-existentes, como doenças do sistema cardiovascular, do trato respiratório ou dos rins e desencadeiam efeitos colaterais potencialmente prejudiciais para vários medicamentos. O documento cita estudo científico no qual calculou-se que a morbidade de doenças cardiovasculares aumenta 2,2% por aumento de 1°C na temperatura do ar durante um evento de calor.

"Pessoas com diabetes também correm maior risco de serem hospitalizados durante eventos de calor. Semelhante à doença pulmonar, esses pacientes têm capacidade de resposta termorregulatória prejudicada nos pulmões a nível vascular, como exposição ao calor afeta a autorregulação dos vasos sanguíneos, levando a um tendência aumentada para formar coágulos", diz o estudo.

A redução do volume sanguíneo associada a quadros de desidratação pode causar danos para os rins. Em regiões de climas quentes, observa o estudo, pessoas que trabalham ao ar livre são mais suscetíveis a fibrose renal (cicatrizes nos rins) e doença renal crônica.

Mas como saber se a hidratação é suficiente?
Cristina Milagre dá a dica: a coloração da urina tem de estar transparente. Se estiver amarela, é sinal de falta de água no corpo. Em geral, diz ela, o ideal é tomar diariamente 35 ml de água por quilo de peso, mas as quantidades podem variar de acordo com cada pessoa.

- A necessidade de água não é igual para todo mundo. Essas medidas servem como orientação geral, mas o mais fácil é: olhe a cor de sua urina. Se estiver transparente, você está hidratado. Se estiver amarela, tome mais água - afirma.

A cardiologista explica que se a temperatura corporal atingir 41 graus o corpo pode entrar em colapso pelo calor e a pessoa pode perder a consciência, sendo necessário adotar medidas de emergência, como banhos de imersão em água fria, uso de mantas frias e administrar soro por via intravenosa.

Crianças são mais expostas ao calor
Sentir tontura, sono excessivo, moleza devem ser sinais para procurar um médico. Cristina alerta que em períodos de muito calor a pressão sanguínea pode baixar, exigindo mudança na prescrição de medicamentos, por exemplo.

-- Quem tem pressão alta toma medicamentos para controle, mas devem ficar atentas aos sinais. Em alguns casos, é preciso reduzir o medicamento para ajustar o nível de pressão -- diz ela.

Idosos e crianças são sempre mais sensíveis.

-- O básico é aumentar a oferta de líquidos, pois é mais difícil que a criança procure se hidratar. A criança desidrata mais rápido porque o mecanismo para se defender do aumento de temperatura é menor. Elas têm uma superfície corpórea maior em relação ao adulto e são mais exposta a capturar o calor. Além disso, têm menor capacidade de produzir suor — explica a pediatra Raffaela Nicodemo Lemos.

Além de evitar a exposição das crianças ao sol e atividades físicas extenuantes nos horários mais quentes do dia, a pediatra recomenda o uso de barreiras de proteção, como roupas com proteção UV (ultra violeta) e chapéus. As atividades ao ar livre, recomenda, devem ser feitas onde houver sombras disponíveis.

O uso de roupas, segundo a pediatra, deve cobrir o máximo possível a pele exposta. Chapéus devem proteger rosto, cabeça, pescoço e orelhas.

Raffaela lembra que a Sociedade Brasileira de Pediatria orienta sobre uso de protetores solares. Para crianças com menos de 6 meses, o melhor é evitar a exposição direta ao sol e usar protetores mecânicos, como sombrinhas, guarda-sóis, bonés e roupas. Dos 6 meses aos 2 anos, podem ser usados filtros solares inorgânicos, que têm menos capacidade de provocar alergias. A partir dos 2 anos podem ser utilizados os filtros solares infantis com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que têm menor potencial de causar alergias.

Thales Araújo, gerente médico do Pronto-Socorro do hospital infantil Sabará, afirma que um dos principais problemas do calor excessivo é a insolação, que pode ser percebida pela alta temperatura corporal (maior que 39 graus), dores de cabeça, náusea, tontura e confusão mental. Para ele, mesmo na sombra, os pais devem evitar levar as crianças para brincar em parquinhos das 10h às 16h.

Outra recomendação importante é não deixar os filhos dentro do carro: o interior de um carro pode ficar perigosamente quente em pouco tempo, mesmo com as janelas abertas.

Veja dicas para se proteger no calor
A temperatura interna do corpo humano é em torno de 37ºC. Quanto maior a temperatura do meio ambiente, maior o esforço do organismo para se autorregular. Evite se expor ao sol das 10h às 16h. O pior horário é entre 14h e 16h, quando são registradas as temperaturas máximas de cada dia. Mas fique de olho na temperatura da sua cidade, o pico do calor pode variar de horário de acordo com vento, radiação etc.

Nos períodos de maior calor, se possível fique em lugares com ar-condicionado ou busque ambientes frescos.

O ar-condicionado resfria o ambiente, mas também torna o ar mais seco. Ao ligar o aparelho, o ideal é colocar um recipiente com água no cômodo. Outra medida é a regulagem da temperatura, que deve variar entre 21º C e 23º C

Para evitar desidratação, beba água várias vezes ao dia. Evite grandes quantidades de uma só vez. Cada corpo exige uma quantidade e o melhor teste é a cor da sua urina. Se ela estiver transparente, você está hidratado. Se estiver amarela, está faltando água no organismo

O calor provoca vasodilatação e aumenta a chance de problemas cardiovasculares, como infarto e AVC. Há casos em que a pressão sanguínea abaixa e quem toma medicamentos deve procurar o médico para ajustar dosagens, caso ele considere necessário

O suor é o principal recurso do corpo humano para manter sua temperatura em equilíbrio e ela não pode passar de 40ºC ou 41ºC. Um aumento de 1°C na temperatura é suficiente para aumentar o estímulo da transpiração em 10 vezes. Use roupas leves, que permitam a liberação do suor, de preferência de tecidos de algodão

Para diminuir a temperatura corporal, tome um banho frio.

Além da onda de calor, o tempo está seco na maioria das cidades atingidas. O ressecamento das vias aéreas causa problemas alérgicos como rinites, sinusites, bronquites etc. Umidifique o ar colocando pela casa recipientes com água fresca ou toalhas molhadas.

Fique de olho na temperatura e na taxa de umidade do ar. Quanto mais alta a umidade, maior a dificuldade de o corpo humano equilibrar sua própria temperatura por meio da liberação de suor. Em geral, corridas de rua são canceladas quando a temperatura ambiente atinge 30ºC e a umidade do ar fica acima de 50%

No início da manhã e no início da noite a brisa costuma ficar mais fresca. Aproveite para se exercitar. Em casa, abra as janelas e deixe o ar entrar para ventilar a casa e refrescar os ambientes

Quem tem condições pré-existentes, como doenças do sistema cardiovascular, do trato respiratório ou dos rins podem ter mais problemas com o calor. O Instituto Robert Koch, da Alemanha, afirma que um estudo científico calculou que a morbidade de doenças cardiovasculares aumenta 2,2% por aumento de 1°C na temperatura do ar durante um evento de calor.

Quem trabalha em exposição direta ao sol, de forma prolongada, precisa usar protetor solar de duas em duas horas, com fator acima de 50. Use chapéu ou bonés e proteja o corpo com roupas leves

As crianças devem brincar ao ar livre, mas procure lugares com sombra e evite exposição ao sol nos períodos mais quentes do dia. Elas têm maior superfície corpórea em relação ao adulto e ficam mais expostas a capturar o calor

Não deixe crianças dentro de carro, mesmo com as janelas abertas. A temperatura interna do veículo sobe rapidamente.

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