Onda de indignação por morte de jornalista e indigenista, defensores do meio ambiente
O motivo do crime, bem como as circunstâncias da morte, aparentemente com arma de fogo, ainda não foram apurados
ONGs internacionais e familiares manifestaram sua indignação com o aparente assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira enquanto trabalhavam em defesa dos povos indígenas e do meio ambiente na Amazônia brasileira, onde a investigação sobre o caso continua nesta quinta-feira (16).
Após dez dias de intensas buscas, a investigação sobre o desaparecimento de ambos deu um salto na quarta-feira com a confissão de um dos dois detidos, Amarildo da Costa de Oliveira, que conduziu a polícia ao local onde disse ter enterrado os corpos, próximo da cidade de Atalaia do Norte, na remota região do Vale do Javari, na fronteira com o Peru.
A Polícia Federal (PF) encontrou ali restos humanos, que chegaram na noite desta quinta-feira de avião em Brasília para sua identificação. Os resultados das análises serão divulgados na semana que vem.
O caso ainda tem diversos pontos a serem esclarecidos: o motivo do crime, as circunstâncias da morte, aparentemente com arma de fogo, o papel exato que tiveram os dois presos, Amarildo e seu irmão Oseney, e seus possíveis cúmplices e mandantes.
"Ato brutal de violência"
Phillips, de 57 anos, trabalhava em um livro sobre a preservação da Amazônia. Pereira atuava como seu guia nessa região onde vivem 26 povos indígenas, muitos deles isolados, e onde atuam traficantes de drogas, garimpeiros, pescadores e madeireiros ilegais.
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O especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai) recebeu ameaças desses grupos por seu trabalho em defesa das terras indígenas.
Diante deste "ato brutal de violência", a ONU pediu ao Brasil para "acrescentar seus esforços para proteger os defensores dos direitos humanos e os povos indígenas" por parte de "atores estatais e não estatais", disse em Genebra o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.
A Amazônia está "à mercê da lei do mais forte, sob a qual a brutalidade é recorrente", lamentou a WWF nesta quinta-feira, expressando sua "indignação" pelo fracasso do Estado em proteger os "povos da floresta e seus defensores".
O Greenpeace afirmou que nos últimos três anos o Brasil se configurou como a terra da lei do "vale tudo", alimentada pelas "ações e omissões" do governo de Jair Bolsonaro.
"Não há problema em invadir e tomar terras, não há problema em proliferar a mineração, não há problema em extrair madeira ilegalmente, não há problema em fazer qualquer conflito territorial... e vale a pena matar para garantir que nenhuma dessas atividades criminosas seja impedida", denunciou a ONG.
"Crime político"
O desaparecimento de Phillips, repórter do The Guardian, e de Pereira, alimentou críticas ao governo Bolsonaro, acusado de incentivar invasões de terras indígenas com seu discurso a favor da exploração econômica da floresta.
O presidente causou indignação nos últimos dias com várias declarações, quando disse que a incursão de Phillips e Pereira era uma "aventura não recomendada" e que o repórter britânico era "malvisto" na região amazônica por suas reportagens sobre atividades ilegais.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), cujos integrantes participaram ativamente das buscas, qualificou o assassinato como "crime político", já que ambos eram "defensores dos direitos humanos". "Sabemos que eles fazem parte de um grupo maior", acrescentaram.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que nos últimos anos o trabalho de jornalistas e ambientalistas tem servido para mostrar os "recordes" de crimes ambientais na Amazônia, assim como os assassinatos de ativistas e os cortes nos órgãos de controle ambiental.
Em 2020, 20 assassinatos de ativistas ligados à causa ambiental foram cometidos no Brasil, segundo o Greenpeace. "Paralelamente, o presidente e seus aliados se tornaram protagonistas dos ataques à imprensa", disse a Abraji.
Falando à AFP em Londres, Jonathan Watts, colega de Phillips no The Guardian, disse esperar que esses assassinatos "monstruosos" incentivem e não impeçam a mídia de continuar seu trabalho sobre crimes ambientais.
"Coração partido"
O chefe da PF no estado do Amazonas (noroeste), Eduardo Alexandre Fontes, assegurou na quarta-feira que é muito provável que os restos mortais encontrados no local indicado por Oliveira "correspondam a Phillips e Pereira", embora para confirmar devam ser submetidos a testes de identificação.
Os restos mortais chegarão a Brasília nesta quinta-feira para serem identificados pelo Instituto de Criminalística. Os resultados sairão na próxima semana, segundo a imprensa local.
A família de Phillips no Reino Unido disse estar "com o coração partido" ao saber da morte dele e de Pereira e agradeceu aos participantes das buscas, "especialmente aos indígenas".
A investigação continua para determinar o papel exato desempenhado pelos dois irmãos presos e seus eventuais cúmplices. A imprensa afirma que haveria outros três suspeitos, entre eles um que possivelmente ordenou o crime, informação não confirmada oficialmente pela PF
Em 2020, 20 assassinatos de ativistas ligados à causa ambiental foram cometidos no Brasil, segundo o Greenpeace. "Paralelamente, o presidente e seus aliados se tornaram protagonistas dos ataques à imprensa", disse a Abraji.
Falando à AFP em Londres, Jonathan Watts, colega de Phillips no The Guardian, disse esperar que esses assassinatos "monstruosos" incentivem e não impeçam a mídia de continuar seu trabalho sobre crimes ambientais.
Bolsonaro reage no Twitter
O presidente Bolsonaro reagiu às mortes de Pereira e Phillips nesta quinta-feira com uma curta mensagem no Twitter: "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!".
Bolsonaro causou indignação nos últimos dias com várias declarações, quando disse que a incursão de Phillips e Pereira era uma "aventura não recomendada" e que o repórter britânico era "malvisto" na região amazônica por suas reportagens sobre atividades ilegais.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), cujos integrantes participaram ativamente das buscas, qualificou o assassinato como "crime político", já que ambos eram "defensores dos direitos humanos".
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que nos últimos anos o trabalho de jornalistas e ambientalistas tem servido para mostrar os "recordes" de crimes ambientais na Amazônia, assim como os assassinatos de ativistas e os cortes nos órgãos de controle ambiental.
No terreno, a Polícia Civil cumpriu três mandados de busca e apreensão, que terminaram sem detidos. As autoridades buscavam sem sucesso a embarcação em que Phillips e Pereira viajavam quando foram vistos pela última vez no rio Itaquaí indo em direção a Atalaia do Norte, confirmou um jornalista da AFP.
A imprensa afirma que haveria outros três suspeitos, entre eles um que possivelmente ordenou o crime, informação não confirmada oficialmente pela PF.