Onda de violência antipalestina na Cisjordânia após assassinato de um jovem israelensem
O Exército cercou e os colonos atacaram meia dúzia de cidades e feriram vários moradores
A Cisjordânia ocupada vive uma onda de violência contra aldeias palestinas, desencadeada pelo desaparecimento e morte de um adolescente israelense que o Exército atribuiu a uma ação "terrorista".
Os ataques às aldeias palestinas ao norte de Ramallah desde o desaparecimento, na sexta-feira, de Benjamin Achimeir, um pastor de ovelhas, de 14 anos, se agravaram e se espalharam neste sábado (13), depois que sua morte foi anunciada ao meio-dia.
O Exército cercou e os colonos atacaram meia dúzia de cidades e feriram vários moradores, um deles baleado na cabeça, informaram as autoridades palestinas e a mídia palestina.
"Dezenas de colonos atacam a cidade e queimam tudo em seu caminho", disse à AFP o prefeito de Al Mughayyir, Amir Abu Alia.
Nuvens de fumaça emanam de casas, campos, edifícios e máquinas agrícolas queimadas e sobem pelas colinas e vales, observaram correspondentes da AFP.
- Apelo à calma -
Benjamin Achimeir desapareceu na manhã de sexta-feira perto de Al Mughayyir enquanto pastoreava as suas ovelhas, que voltaram à sua fazenda sem ele.
Leia também
• Jovem israelense desaparecido na Cisjordânia foi assassinado por "terroristas", diz Exército
• Adolescente israelense desaparecido na Cisjordânia foi "assassinado"
• Irã cria rotas de contrabando para enviar armas à Cisjordânia
O Exército lançou imediatamente uma ampla operação e centenas de civis, muitos deles colonos, espalharam-se para tentar encontrá-lo.
O corpo do adolescente foi localizado ao meio-dia deste sábado próximo ao local.
"Benjamin Achimeir foi morto em um ataque terrorista", afirmaram o Exército, a polícia e o serviço de inteligência nacional Shin Bet em um comunicado.
As forças de segurança israelenses continuam "a intensa perseguição aos desprezíveis assassinos e a todos aqueles que colaboraram com eles", afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, denunciando "um crime atroz".
O líder apelou também à calma, pedindo "a todos os cidadãos israelenses que permitam que as forças de segurança façam o seu trabalho sem obstáculos".
O seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, alertou contra qualquer "ato de vingança".
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, por sua vez denunciou "a violência dos colonos" e considerou-a uma "perigosa violação da lei".
O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohamed Mustafa, também condenou os ataques dos colonos. "Eles não vão dissuadir o nosso povo de permanecer nas suas terras", declarou ele em um comunicado.
- Restos carbonizados -
Desde sexta-feira, o Ministério da Saúde da Autoridade Palestina e o Crescente Vermelho palestino registraram pelo menos uma morte e dezenas de feridos na Cisjordânia, muitos deles por disparos.
Al Muhayyir mostrava as consequências da violência neste sábado. Um fotógrafo da AFP viu restos carbonizados de carros, vans e máquinas agrícolas perto de casas e galpões com paredes enegrecidas pelas chamas.
Segundo o prefeito de Douma, perto de Nablus (centro), a Cisjordânia "está vivendo um verdadeiro estado de guerra". Só na sua cidade, 15 casas e dez fazendas foram queimadas desde sexta-feira, disse ele à AFP.
Estes confrontos ocorrem em um contexto de tensão crescente na Cisjordânia desde o início da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, desencadeada em 7 de outubro pelo ataque sangrento do movimento islamista palestino em território israelense.
Pelo menos 462 palestinos morreram na Cisjordânia por soldados ou colonos israelenses desde o início da guerra, segundo a Autoridade Palestina, que exerce controle administrativo limitado sobre este território palestino ocupado por Israel desde 1967.
A relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos ocupados, Francesca Albanese, instou na sexta-feira a ONU a "autorizar a implantação de uma presença de proteção" nos territórios.