Logo Folha de Pernambuco

violência

Violência contra torcedores israelenses em Amsterdã foi organizada em aplicativos de mensagens

Usuários coordenaram ações violentas em grupos no WhatsApp e Telegram; vítimas dizem que agressores sabiam 'de tudo', incluindo locais de hospedagem e ruas em que os torcedores judeus passariam na semana

Manifestantes pró-Palestina participam de ato em Amsterdã Manifestantes pró-Palestina participam de ato em Amsterdã  - Foto: Jeroen Jumelet / ANP / AFP

A onda de violência contra torcedores de futebol israelenses em Amsterdã na semana passada foi organizada em aplicativos de mensagens populares, como WhatsApp e o Telegram, publicou o Wall Street Journal. Segundo autoridades holandesas, a campanha foi coordenada, e os agressores estavam equipados com fogos de artifícios. Eles se movimentavam rapidamente, atacando torcedores israelenses com agressões rápidas e fugindo na sequência. Agora, a polícia local diz investigar quem instigou os ataques e como eles foram coordenados.

As agressões se desenrolaram durante dias em torno de uma partida de futebol na última quinta-feira entre o Ajax, um time holandês, e o Maccabi, um time israelense. As tensões, no entanto, já estavam altas muito antes da disputa na cidade, que tem grande população muçulmana e vivencia um poço de raiva em relação à guerra em Gaza: apenas este ano, as autoridades de Amsterdã permitiram cerca de 2,7 mil protestos relacionados ao enclave palestino. A maioria foi pacífica, mas alguns se tornaram turbulentos. Um deles interrompeu a cerimônia de abertura do novo museu do Holocausto na cidade, e outro causou mais de US$ 4 milhões em danos à Universidade de Amsterdã.

Foi em meio a este cenário que, na quarta-feira, o estopim aconteceu: alguns torcedores do Maccabi arrancaram uma bandeira palestina de um prédio e a queimaram em uma praça, e o carro de um taxista muçulmano foi atacado com ele dentro. Nos vídeos que circularam era possível ouvir, ao fundo, a torcida ecoando cânticos sobre a guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Em outra gravação, que mostrava multidões de torcedores do Maccabi descendo uma escada rolante do metrô, eles cantavam em hebraico: "Que as Forças Armadas de Israel vença. Que se danem os árabes, que se dane a Palestina".

"Caça aos judeus"
Vários torcedores do Maccabi disseram à imprensa que as boas relações com o Ajax e seus torcedores, que frequentemente descrevem a si mesmos como "super judeus", eram um dos motivos pelos quais estavam animados pela partida de quinta-feira. Na mesma noite, no entanto, a cidade vizinha de Alkmaar também sediava um jogo de futebol: o clube local jogava contra o time turco Fenerbahce. Isso significava que muitos torcedores pró-Palestina, em especial do Fenerbahce, estavam circulando por Amsterdã. Nos aplicativos de mensagens, os torcedores israelenses viraram assunto, e os usuários pediam uma "caça aos judeus".

A polícia disse que houve um apelo na internet para que motoristas de táxi se mobilizassem no Holland Casino e enfrentassem os cerca de 400 torcedores do Maccabi que estavam reunidos no local. Dentro do cassino, centenas de israelenses aguardavam a chegada da polícia para serem levados de volta aos seus hotéis. Um torcedor israelense, que concordou em ser identificado apenas pelo primeiro nome, Barak, contou ao New York Times que encontrou um jovem no cassino com cortes na mão e no rosto após ter sido emboscado por homens.

Do lado de fora do estabelecimento, Shachar Bitton, um torcedor do Maccabi de 30 anos, disse ter visto cerca de 200 pessoas muitas delas falantes de árabe, segundo ele esperando que os torcedores israelenses deixassem o local. Dezenas de táxis e carros de aplicativos também estavam reunidos nas proximidades, e a polícia posicionada na região, de acordo com Bitton, recusou-se a escoltar ele e seus amigos até o hotel. Os policiais teriam dito ao grupo de torcedores do Maccabi para que continuassem andando e que "o que tiver que acontecer, acontecerá".

A polícia de Amsterdã se recusou a comentar o relato, afirmando que, na sexta-feira, evitou confrontos maiores escoltando muitos torcedores.

Às 3 da manhã, Bitton contou que saiu do cassino em um grupo de 40 torcedores do Maccabi. Por mais de uma hora, os homens caminharam em silêncio pelas ruas, seguidos por homens em bicicletas que os xingavam e gritavam "Palestina Livre," contou ele. Eles também teriam sido seguidos por táxis e sedãs Mercedes-Benz, típicos de serviços de aplicativos na cidade. Os motoristas filmaram o grupo enquanto caminhavam, publicou o Wall Street Journal. O torcedor disse que os grupos sabiam "de tudo", incluindo locais de hospedagem e em quais ruas os israelenses passariam durante aqueles dias.

Tudo estava bem organizado, bem preparado relatou Bitton.

O cassino disse que demitiu um segurança após tomar conhecimento das mensagens que ele enviou mais tarde naquela noite. Em uma captura de tela da conversa postada online, o segurança promete alertar aos membros de um grupo caso os torcedores israelenses "apareçam novamente." Alguém responde: "Depois do jogo, amanhã à noite, parte 2 da caçada aos judeus". Outra mensagem agradecia a um membro do grupo em árabe por enviar atualizações sobre as movimentações dos israelenses, acrescentando em holandês: "irmão, sua dica valeu ouro."

Ao Journal, o WhatsApp afirmou que usar o aplicativo para organizar violência vai contra as suas regras. Disse, ainda, que responderia a qualquer solicitação legal válida. Já o Telegram afirmou que estava pronto para cooperar com as autoridades holandesas, e que não tolera apelos à violência em sua plataforma.

"Baixo número de presos"
Entrevistas com testemunhas oculares e autoridades locais, bem como capturas de tela de trocas de mensagens nas redes sociais e vídeos online verificados pelo New York Times, sugerem que os atacantes visaram especificamente israelenses e judeus. Algumas vítimas relataram ter sido paradas e perguntadas se eram israelenses ou judeus. Vídeos verificados pelo The Times mostraram outras pessoas sendo questionadas sobre seus passaportes ou tentando escapar dizendo que não eram judias.

Mais de 60 pessoas foram presas antes e durante a partida de futebol, segundo promotores. Quatro suspeitos, incluindo dois menores, permanecem sob custódia por suspeita de participação na violência. Na manhã de sexta-feira, a polícia informou que cinco pessoas haviam sido hospitalizadas, e que dezenas mais estavam feridas, sendo algumas com pernas quebradas. Autoridades de Amsterdã declararam uma espécie de estado de emergência no sábado, o que proibiu qualquer protesto público e deu poder à polícia para revistar pessoas nas ruas.

Os eventos abalaram as comunidades judaica e muçulmana de Amsterdã e geraram indignação internacional, incluindo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e dos líderes de Israel. Nesta segunda-feira, o novo ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, estimou que o número de detenções após os confrontos era "muito baixo". Ele acrescentou que o Estado judeu ofereceu sua ajuda para as investigações. A polícia de Amsterdã deve apresentar um relato mais detalhado sobre o assunto na próxima semana, antes de um debate convocado no Conselho Municipal sobre antissemitismo.

Autoridades israelenses organizaram voos para levar centenas de torcedores do Maccabi de volta para Israel. Ao desembarcar, alguns torcedores e aqueles que os receberam no aeroporto repetiram os cânticos contra árabes e palestinos, de acordo com um vídeo verificado pelo The Times.

Veja também

Alerta laranja do Inmet aponta risco de chuvas intensas e ventos de até 100 km/h em 12 Estados
TEMPO

Alerta laranja do Inmet aponta risco de chuvas intensas e ventos de até 100 km/h em 12 Estados

Entre disputas de poder, a Bolívia está afundando no caos
bolívia

Entre disputas de poder, a Bolívia está afundando no caos

Newsletter