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Onde está Yevgeny Prigojin? Sumiço de chefe do Wagner que se rebelou contra Putin gera especulação

Acordo após rebelião havia determinado que Prigojin se exilasse na Bielorrússia, mas Lukashenko dá a entender que mercenário tem trânsito livre no território russo

Yevgeny Prigozhin grava vídeo em distrito militar do sul da Rússia, na cidade de Rostov-on-DonYevgeny Prigozhin grava vídeo em distrito militar do sul da Rússia, na cidade de Rostov-on-Don - Foto: Divulgação / TELEGRAM/ @concordgroup_official / AFP

O paradeiro do chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigojin, permanece um mistério desde a fracassada rebelião contra o Kremlin nos dias 23 e 24 de junho. Há uma semana, o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou que o líder dos mercenários está na Rússia e transita livremente pelo país. No entanto, o ex-chef de cozinha do presidente russo, Vladimir Putin, não foi visto em público desde o levante contra o líder do Kremlin.

Pelos termos da trégua que pôs fim ao levante, o mercenário aparentemente havia concordado com o exílio em Minsk. No começo desta semana, Moscou afirmou que Prigojin se encontrou com Putin após a investida mercenária. Não foram divulgadas imagens da reunião, que também teria contado com outros comandantes do grupo paramilitar.

De acordo com o tabloide britânico "The Sun", fontes do Kremlin afirmaram que Prijogin está com câncer e, por isso, "não tinha nada a perder" ao lançar a rebelião contra Putin. O chefe do Wagner teria passado anos fazendo tratamento até a remissão da doença. Já Robert Abrams, um general aposentado comandou as forças americanas na Coreia, opinou, em entrevista à ABC News, que o líder mercenário nunca mais será visto em público.

"Acho que ele será colocado na clandestinidade ou enviado para a prisão ou tratado de alguma outra forma, mas duvido que o veremos novamente" disse Abrams, que colocou em dúvida o encontro entre Putin e Prigojin. — Pessoalmente, acho que não [está mais vivo]. Se estiver, está em uma prisão em algum lugar.

Moscou nega rastrear Prigojin
Três dias após o acordo mediado pelos bielorrussos, Lukashenko havia afirmado que Prigojin já estava em Minsk e que havia "garantias de segurança" para que ele permanecesse no país, como havia sido prometido ao presidente Vladimir Putin. Na última quinta-feira (6), contudo, afirmou em uma entrevista coletiva à imprensa internacional que o mercenário estava em território russo.

"No que diz respeito a Prigojin, ele está em São Petersburgo" disse o presidente bielorrusso. "Onde ele está nesta manhã? Talvez nesta manhã ele tenha ido para Moscou" completou, sinalizando que o mercenário tem liberdade de viajar pelo país.

Questionado se Prigojin estava de fato em São Petersburgo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Moscou "não rastreava os movimentos" do ex-aliado de Putin.

"Nós não temos capacidade e nem desejo de fazer isso" disse o representante.

Um jato da Embraer associado a Prigojin pousou em Minsk no dia 27 de junho, mas retornou à Rússia horas depois. A aeronave repetiu o trajeto várias vezes posteriormente, segundo a BBC, mas a última vez que o mercenário foi visto presencialmente foi no banco traseiro de um carro, horas após o fim da rebelião. Era cumprimentado por russos enquanto deixava a cidade de Rostov-no-Don, no sul da Rússia, que o Wagner tomou durante o motim.

Aliado diz ter persuadiado Putin a não matar Prigojin
Lukashenko, que se perpetua poder há 29 anos por meio de pleitos internacionalmente questionados, afirmou ainda que Prigojin não está preso. Disse também ser improvável que o mercenário "levasse uma surra", sugerindo ser improvável que as forças de segurança russas retaliassem contra o mercenário. No fim do mês passado, porém, ele havia afirmado que precisou persuadir Putin para que não ordenasse o assassinato do líder do Wagner.

"O que vai acontecer com ele [Prigojin] agora? Bem, todo tipo de coisa acontece nesta vida. Mas se vocês acham que o Putin é tão maldoso e vingativo a ponto dele 'levar uma surra' amanhã... Isso não vai acontecer" disse Lukashenko, um dos maiores aliados do presidente russo e o maior apoiador internacional da invasão na Ucrânia.

No mesmo dia em que Lukashenko deu sua entrevista coletiva, a imprensa russa divulgou imagens de buscas feitas na casa de Prigojin na mesma São Petersburgo, capturadas em uma varredura durante o motim. Nelas aparecem perucas, lingotes de ouro e armas na enorme e luxuosa mansão, com helicóptero no jardim.

Pelos termos que haviam sido divulgados do pacto, Lukashenko havia concordado em se mudar para a Bielorrússia e os russos, a suspender quaisquer acusações criminais contra os líderes do Wagner. Moscou anunciou ter feito isso no mesmo dia em que a chegada de Prigojin em Minsk foi anunciada.

O acordo também determinava que os integrantes do grupo mercenário que não participaram do levante fossem incorporados ao Ministério da Defesa russo, abandonassem as armas e voltarem para a Bielorrússia, segundo o próprio Putin. De acordo com o presidente bielorrusso, os mercenários ainda estão em suas bases perto da linha de frente da guerra, supostamente na região de Donetsk. Ele afirmou que seu país não está construindo instalações para abrigá-los, mas oferecerá acampamentos militares.

O Wagner ganhou protagonismo com seu papel-chave para a conquista de Bakhmut em maio, a batalha mais sangrenta e prolongada da guerra. O triunfo foi a maior conquista russa neste ano, e é indissociável da atuação do grupo paramilitar, que superava os adversários numericamente com as ondas de recrutamento nos presídios russos, adotava táticas que ignoravam o alto custo humano e era abastecido por armas pelo Kremlin. Prigojin estima ter perdido 20 mil homens apenas ali.

O destaque, contudo, gerou tensões na alta cúpula militar russa, e críticas de que estavam perdendo o monopólio da violência e enfraquecendo a autoridade estatal na nação é que dona do maior arsenal nuclear do mundo. Prigojin, por sua vez, demandava mais munições, homens e fazia críticas vorazes às ações do Ministério da Defesa que buscavam pôr rédeas no Wagner, chegando a anunciar (e depois voltar atrás) que deixaria Bakhmut.

A gota d'água, segundo informações da inteligência ocidental, foram tentativas de para integrar os paramilitares às Forças Armadas regulares, o que na prática significaria que o Wagner não poderia mais formar um exército privado de mercenários. Depois do levante, o líder mercenário chegou a dizer que suas ações não buscavam derrubar Putin, mas sim mostrar as fragilidades do Ministério da Defesa e do responsável pela pasta, Sergei Shoigu.

Também há indícios de que o Wagner continua suas operações em países como o Mali e a República Centro-Africana, após o próprio Kremlin afirmar que não iria desmobilizá-lo em uma região onde são fundamentais para a Rússia exercer influência sem deslocar seus soldados.

Ex-empresário de catering — um tipo exclusivo de serviço de buffet — que disse ter fundado o grupo Wagner na primeira guerra da Rússia na Ucrânia, em 2014, Prigojin enviou tropas para ajudar o Kremlin a fortalecer o regime sírio de Bashar al-Assad. Conforme o foco ocidental voltava-se para conter a ascensão chinesa, percebida pelos americanos como uma ameaça à sua hegemonia, os paramilitares russos aproveitaram-se de um vácuo para construir uma rede na África, onde são acusados de cometer abusos e explorar recursos naturais.

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