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Guerra

ONU acusa Israel de matar e enterrar 15 paramédicos palestinos em vala comum na Faixa de Gaza

Desde 7 de outubro de 2023, pelo menos 1.060 profissionais de saúde morreram em Gaza, de acordo com dados das Nações Unidas

Os trabalhadores, incluindo pelo menos um funcionário da ONU, foram enterrados em uma vala comum Os trabalhadores, incluindo pelo menos um funcionário da ONU, foram enterrados em uma vala comum  - Foto: Divulgação / Crescente Vermelho

Forças israelenses mataram 15 membros de equipes médicas e de resgate palestinos no sul da Faixa de Gaza no dia 23 de março, afirmou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).

Os trabalhadores, incluindo pelo menos um funcionário da ONU, foram enterrados em uma vala comum na região de Tel al-Sultan, em Rafah, segundo as autoridades humanitárias.

De acordo com o Ocha, os paramédicos do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) e integrantes da Defesa Civil estavam em missão de resgate quando seus veículos, claramente identificados, foram atingidos por "fogo pesado israelense".

As equipes, segundo o jornal britânico Guardian, tentavam salvar colegas feridos por ataques anteriores no mesmo dia.

— Sete dias atrás, a defesa civil e as ambulâncias do PRCS chegaram ao local. Um por um, eles foram atingidos. Seus corpos foram reunidos e enterrados nesta vala comum — afirmou Jonathan Whittall, chefe do Ocha na Palestina, em uma declaração em vídeo. — Estamos desenterrando-os em seus uniformes, com suas luvas.

Eles estavam aqui para salvar vidas. Em vez disso, acabaram em uma vala comum. Segundo ele, até mesmo ambulâncias e veículos da ONU foram enterrados sob areia.

O chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, confirmou que um de seus funcionários está entre os mortos.

"O corpo do nosso colega morto em Rafah foi recuperado ontem, junto com os trabalhadores humanitários do [Crescente Vermelho Palestino], todos eles descartados em covas rasas, uma profunda violação da dignidade humana", escreveu Lazzarini nas redes sociais.

O Crescente Vermelho disse que o distrito de Tel al-Sultan havia sido considerado seguro e o movimento ali era normal, “não exigindo coordenação”.

Já o militares das Forças de Defesa de Israel (IDF) alegam que veículos se aproximaram “de forma suspeita” e sem sinalização adequada. Segundo as IDF, a área era uma “zona de combate ativa”.

As IDF também afirmaram ter matado nove militantes do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina na região, mas não esclareceram se essas mortes ocorreram durante os ataques às ambulâncias ou em outro momento.

A missão de resgate
De acordo com o Crescente Vermelho, uma ambulância foi enviada para recolher as vítimas do ataque aéreo nas primeiras horas de 23 de março e chamou uma outra de apoio.

A primeira chegou ao hospital em segurança, mas o contato com a ambulância de apoio foi perdido. Um relatório inicial mostrou que ela havia sido alvejada e os dois paramédicos dentro dela haviam sido mortos.

Um comboio de resgate, com cinco veículos, incluindo ambulâncias, caminhões da Defesa Civil e carros do Ministério da Saúde, foi enviado posteriormente e também foi atacado.

Oito dos mortos eram do Crescente Vermelho, seis da Defesa Civil e um era um funcionário da ONU.

O médico Bashar Murad, diretor de programas de saúde do PRCS, revelou que um dos paramédicos ainda conseguiu relatar via telefone que estava ferido e precisava de ajuda.

— Alguns minutos depois, durante a ligação, ouvimos o som de soldados israelenses chegando ao local, falando em hebraico. A conversa era sobre reunir a equipe, com declarações como: "Reúna-os no muro e traga algumas amarras para amarrá-los". Isso indicou que um grande número da equipe médica ainda estava vivo — contou o médico ao Guardian.

Younis al-Khatib, presidente do Crescente Vermelho Palestino, afirmou que as forças israelenses impediram a coleta dos corpos por vários dias.

A retirada só foi permitida após melhora das “circunstâncias operacionais”, segundo as IDF.

“Os corpos foram recuperados com dificuldade, pois estavam enterrados na areia, com alguns mostrando sinais de decomposição”, informou o Crescente Vermelho.

— É um horror absoluto o que aconteceu aqui — disse Whittall. — Isso nunca deveria acontecer. Os profissionais de saúde nunca deveriam ser um alvo.

Jens Laerke, porta-voz do Ocha, afirmou que “as informações disponíveis indicam que a primeira equipe foi morta pelas forças israelenses em 23 de março, e que outras equipes de emergência e ajuda foram atingidas uma após a outra ao longo de várias horas enquanto procuravam seus colegas desaparecidos”.

Ataque mais letal desde 2017
Segundo a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC), trata-se do ataque mais letal contra suas equipes desde 2017.

— Estou de coração partido. Esses dedicados trabalhadores de ambulância estavam respondendo a pessoas feridas. Eles eram humanitários — lamentou o secretário-geral da entidade, Jagan Chapagain.

Desde 7 de outubro de 2023, pelo menos 1.060 profissionais de saúde morreram em Gaza, de acordo com dados das Nações Unidas. O PRCS contabiliza 27 funcionários mortos em serviço nesse período.

O número total de mortos na ofensiva israelense, intensificada após o colapso do cessar-fogo em 18 de março, já ultrapassa 921 palestinos em menos de duas semanas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

De acordo com a CNN, apenas entre o domingo de manhã e esta segunda-feira, cerca de 85 pessoas foram mortas por ataques israelenses.

A ONU anunciou que vai reduzir em um terço sua equipe internacional em Gaza, devido à escalada dos riscos à segurança de sua equipe.

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