ONU adverte que compromissos climáticos estão muito longe de limitar o aquecimento global
"Para manter vivo o objetivo, os governos devem reforçar os planos agora e aplicá-los nos próximos oito anos", insistiu Simon Stiell
Os compromissos internacionais mais recentes sobre o clima estão muito longe de responder ao objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a +1,5 grau Celsius, advertiu nesta quarta-feira (26) a ONU, a menos de duas semanas da COP27.
Distante de limitar o aumento da temperatura a +1,5ºC ou +2ºC, as duas marcas emblemáticas do tratado, os planos de redução das emissões de gases do efeito estufa das 193 partes signatárias "podem colocar o mundo no caminho de um aquecimento de +2,5 ºC até o fim do século", alerta a agência da ONU
Na COP26, celebrada em 2021 em Glasgow, os signatários do acordo se comprometeram a aumentar a cada ano suas "contribuições determinadas a nível nacional" (NDC), em vez de a cada cinco anos, como estava previsto no acordo assinado em 2015.
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Mas em 23 de dezembro, data limite para a inclusão das novas metas antes da COP27 - que acontecerá de 6 a 18 de novembro na cidade egípcia de Sharm el Sheikh - apenas 24 países haviam apresentado um NDC novo ou ampliado.
Um número "decepcionante", admitiu Simon Stiell, secretário executivo da ONU para Mudanças Climáticas.
"Ainda não estamos nem perto do nível e do ritmo das reduções de emissões necessárias para nos colocar no caminho de um mundo de +1,5 grau Celsius de aumento máximo da temperatura", destacou Stiel.
"Para manter vivo o objetivo, os governos devem reforçar os planos agora e aplicá-los nos próximos oito anos", insistiu.
Revitalizar a luta
De acordo com especialistas das Nações Unidas, as emissões mundiais devem registrar queda de 45% até 2030, na comparação com os níveis de 2010.
Isto permitiria cumprir o objetivo estabelecido em relação às temperaturas médias da era pré-industrial, quando a humanidade começou a explorar em larga escala as energias fósseis, que produzem os gases do efeito estufa responsáveis pelo aquecimento.
O novo resumo das NDC calcula, porém, que os compromissos atuais levariam a um aumento de 10,6% das emissões durante o período.
No entanto, permitiria uma queda das emissões depois de 2030, o que não era o caso no ano passado.
A poucos dias do início da COP27, onde milhares de delegados e mais de 90 líderes de todo o mundo, segundo o governo do Egito, analisarão o futuro climático do planeta, a publicação é um novo alerta.
Os efeitos da mudança climática foram sentidos como nunca em 2022, com muitos países afetados por secas, grandes incêndios, ondas de calor, inundações e outros desastres.
Em um outro estudo sobre as estratégias no longo prazo para a "neutralidade de carbono" publicado nesta quarta-feira, a ONU Clima calcula que as emissões dos países que adotaram tais planos poderiam diminuir 68%, se realmente aplicados. Mas alerta que "muitos" destes planos são "incertos" e sem aplicação concreta.
"A COP27 é uma oportunidade para que os líderes mundiais revitalizem a luta contra a mudança climática", afirmou Stiell, que fez um apelo para que as nações "passem das negociações à aplicação e avancem nas profundas transformações que devem acontece em todos os setores diante da emergência climática".
O relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, publicado em 2021/22, advertiu sobre o pouco tempo que resta para assegurar um "futuro habitável" para a humanidade.
Mas insistindo na necessidade de não permanecer de braços cruzados, os cientistas enfatizam que cada fração de grau de aquecimento evitado conta e pedem aos governos que se comprometam mais com a redução das emissões.
"O relatório sobre as NDC e o documento do IPCC são recordações úteis", afirmou o ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Chukri, que presidirá a COP27.
"É indispensável aumentar as ambições e colocá-las em prática de maneira urgente para nos protegermos de impactos climáticos severos, de perdas e danos devastadores", completou em um comunicado.