ONU alerta sobre desnutrição 'sem precedentes' na região de Tigré
A região de Tigré está imersa em combates desde novembro passado
Grávidas e lactantes da região de Tigré, na Etiópia, sofrem de uma desnutrição "sem precedentes", após dez meses de guerra - advertiu o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), na quinta-feira (30), pouco depois de Adis Abeba anunciar a expulsão de sete funcionários da ONU.
Em um relatório publicado online, o OCHA (na sigla em inglês) também descreve a desnutrição "alarmante" entre as crianças.
"Das mais de 15 mil grávidas e lactantes que foram acompanhadas durante o período do estudo, mais de 12 mil, ou em torno de 79%, foram diagnosticadas com desnutrição grave", disse o OCHA.
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O nível de desnutrição moderada entre crianças menores de cinco anos "também supera os níveis de emergência, fixados em 15%, e chega perto de 18%, enquanto a proporção de crianças gravemente desnutridas chega a 2,4%", acima do limite de alerta de 2%, acrescenta o informe.
Ontem, o governo etíope anunciou a expulsão, em até 72 horas, de sete funcionários de agências da ONU acusados de "interferência" em seus assuntos internos. Entre eles, estão membros do OCHA e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
"De acordo com as cartas dirigidas a cada um dos sete indivíduos listados a seguir, todos devem abandonar o território da Etiópia nas próximas 72 horas", declarou o Ministério etíope das Relações Exteriores, em um comunicado publicado em sua página do Facebook, nomeando os sete funcionários ordenados a deixarem o país.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse ter-se surpreendido com a decisão, ressaltando que "todas as operações humanitárias das Nações Unidas se baseiam nos princípios fundamentais de humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência".
Diplomatas informaram que uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU será realizada a portas fechadas nesta sexta-feira (1).
A região de Tigré está imersa em combates desde novembro passado, quando o primeiro-ministro Abiy Ahmed enviou tropas do Exército etíope para esta área, com o objetivo de derrubar as autoridades regionais da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF). Ahmed acusa o grupo de orquestrar ataques a campos militares federais.
O conflito deu uma pausa de alguns meses até que os combatentes pró-TPLF recuperaram o controle da região no final de junho, e as tropas do governo se retiraram.
Desde então, os combates se ampliaram, chegando às regiões vizinhas de Afar e Amhara.
Segundo a ONU, 400 mil pessoas "cruzaram o limiar da fome" em Tigré, mas a ajuda humanitária que chega à região é muito escassa.