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Políticas sobre as mulheres

ONU preside reunião sobre Afeganistão no Catar, sem o governo talibã

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, convocou à capital catari 25 países e organizações

António GuterresAntónio Guterres - Foto: Fabrice Coffrini/AFP

O governo talibã é o grande ausente de uma reunião sobre o Afeganistão organizada pela ONU, que acontece a partir desta segunda-feira (1º), no Catar, e tem como objetivo principal fazer com que as autoridades afegãs flexibilizem suas políticas sobre as mulheres.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, convocou à capital catari 25 países e organizações, incluindo enviados especiais de Estados Unidos, China e Rússia.

O governo talibã não foi convidado a participar do encontro, que começou na tarde desta segunda-feira e terminará na terça.

O reconhecimento do regime talibã "não está na ordem do dia desta reunião", declarou Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres, ao anunciar que as discussões estavam começando, a portas fechadas.

O objetivo desta reunião é "chegar a um entendimento comum dentro da comunidade internacional sobre como abordar com os talibãs" temas como os direitos das mulheres e das meninas, a luta contra o terrorismo e o tráfico de drogas, assinalou Dujarric.

"Qualquer reconhecimento dos talibãs está totalmente fora de questão", insistiu, na semana passada, o porta-voz da diplomacia americana, Vedant Patel.

No sábado, um grupo de mulheres se manifestou na capital afegã contra o eventual reconhecimento internacional do governo talibã.

Além disso, em uma carta aberta divulgada no domingo, uma coalizão de grupos de mulheres expressou sua "indignação" com o fato de que qualquer país se propusesse a estabelecer relações formais com as autoridades afegãs.

Contudo, Bilal Karimi, porta-voz dos talibãs, declarou que os direitos das mulheres no Afeganistão é um "assunto interno".

Dilema da ONU
Em entrevista à AFP em Cabul, Karimi assinalou que o governo talibã "deseja um compromisso positivo com o mundo", mas as "questões internas", como as restrições impostas às mulheres, não devem influenciar nas decisões sobre o compromisso diplomático.

"Não devem ser usadas como instrumentos políticos", frisou.

Os talibãs retomaram o poder em agosto de 2021, duas décadas depois de terem sido depostos. Desde então, voltaram a impor no Afeganistão uma versão ultra-rigorosa da lei islâmica, tachada pela ONU de "apartheid de gênero".

As meninas e as mulheres foram excluídas dos ensinos médio e superior. As mulheres tampouco podem trabalhar no serviço público, nem em ONGs ou agências da ONU.

Os 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas votaram na quinta-feira uma resolução, na qual condenaram as restrições impostas no Afeganistão e exortaram todos os países a trabalharem para "inverter com urgência" essas políticas.

Após essa votação, o Ministério de Relações Exteriores do Afeganistão declarou que "a diversidade deveria ser respeitada, e não politizada".

Segundo diplomatas e especialistas, a reunião em Doha evidencia o dilema que a comunidade internacional enfrenta sobre o Afeganistão, que sofre uma das crises humanitárias mais graves do mundo.

Segundo a vice-secretária-geral das Nações Unidas, Amina Mohamed, está "claro" que os talibãs querem ser reconhecidos.

Uma normalização das relações com a ONU lhes permitiria, por exemplo, recuperar os bilhões de dólares bloqueados no exterior, após sua chegada ao poder.

Diplomatas de vários países participantes disseram que um reconhecimento não seria colocado sobre a mesa até que Cabul revisasse suas políticas sobre as mulheres.

Segundo diplomatas, Guterres fará, em Doha, uma análise das operações da ONU no Afeganistão, depois que os talibãs proibiram as mulheres afegãs de trabalharem em agências da ONU.

As Nações Unidas, que consideram que as mulheres são cruciais em suas operações no Afeganistão, dizem enfrentar um "dilema terrível": continuar ou não com suas atividades no país de 38 milhões de habitantes.

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