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ONU se declara "horrorizada" com operação israelense dentro do hospital al-Shifa, em Gaza

Forças Armadas do país dizem que soldados entraram em "parte determinada" do complexo, e dizem ter "feito esforços" para retirar civis do local

Criança chega ao hospital Al-Shifa, em GazaCriança chega ao hospital Al-Shifa, em Gaza - Foto: Dawood NEMER / AFP

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O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários afirmou que está "horrorizado" com a operação militar de Israel no hospital al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, como parte da guerra contra o movimento islamista palestino Hamas. A ação — que ocorre desde a madrugada desta quarta-feira, após o Exército israelense anunciar que entraria em parte do complexo, onde alegam que o Hamas mantém um centro de comando — também foi condenada por outras entidades internacionais, como a OMS e a Cruz Vermelha.

"Estou horrorizado com as informações sobre operações militares no hospital al-Shifa de Gaza. A proteção dos recém-nascidos, pacientes, profissionais da saúde e de todos os civis deve ter precedência sobre todas as outras questões", escreveu Martin Griffiths, diretor do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), na rede social X (antigo Twitter). "Compreendo a preocupação dos israelenses em tentar encontrar a liderança do Hamas. Esse não é o nosso problema. O nosso problema é proteger o povo de Gaza do que está sendo feito com ele", acrescentou.

Por sua vez, o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, concordou que "os relatos de incursão militar no hospital al-Shifa são profundamente preocupantes". Ele alertou que a agência de saúde da ONU "perdeu novamente contato com o pessoal de saúde do hospital", escreveu na rede social. "Estamos extremamente preocupados com a segurança deles e de seus pacientes", finalizou.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha também afirmou em um comunicado que "está extremamente preocupado com o impacto para os pacientes e feridos, profissionais da saúde e civis". "Todas as medidas para evitar quaisquer consequências sobre eles devem ser tomadas", afirmou, acrescentando que está "em contato com todas as autoridades envolvidas" e que continua "monitorando de perto a situação".

O Ministério das Relações Exteriores da Jordânia também condenou a entrada das forças israelenses no al-Shifa como uma violação do direito internacional, especialmente da Convenção de Genebra, responsabilizando Israel pela segurança dos civis e do pessoal do hospital.

"Operação precisa e direcionada"
Com as comunicações interrompidas na região, ainda não há detalhes sobre a extensão da incursão terrestre, tampouco se há combates dentro do complexo hospitalar, onde há, segundo a ONU, cerca de 2.300 pessoas — entre pacientes, profissionais da saúde e moradores deslocados pelo conflito — que podem não conseguir escapar devido aos ataques no entorno.

O que se sabe até o momento é que o Exército de Israel disse ter lançado "uma operação precisa e direcionada contra o Hamas numa área específica" do complexo, acrescentando que o objetivo não era prejudicar civis e que enviou incubadoras, falantes de árabe e pessoal médico para se juntarem à incursão.

Testemunhas descreveram nos últimos dias condições horríveis dentro do complexo, com procedimentos médicos, incluindo partos, realizados sem anestesia, famílias com escassez de comida ou água vivendo nos corredores e o fedor de cadáveres em decomposição enchendo o ar. Uma vala comum foi aberta no hospital, onde já foram enterrados 179 corpos, informou na terça-feira o diretor do hospital, o médico Mohammed Abu Salmiya.

Ao menos nove bebês prematuros morreram depois que foram retirados de suas incubadoras por falta de energia elétrica, consequência do cerco imposto por Israel desde 9 de outubro. Além disso, 27 pacientes que estavam no CTI também morreram porque não tinham um respirador operacional, segundo o Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas.

Troca de acusações
Durante anos, Israel afirma que o Hamas construiu um centro de comando militar por baixo do hospital, transformando os seus pacientes em escudos humanos. A Casa Branca destacou que fontes do serviço de inteligência americano corroboraram a afirmação israelense. Contudo, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, disse na terça-feira que os EUA — o aliado mais próximo de Israel — não queriam ver "um tiroteio num hospital onde pessoas inocentes, pessoas indefesas, pessoas doentes que tentam obter cuidados médicos que merecem sejam apanhadas no fogo cruzado".

Para os palestinos, contudo, o centro é uma instituição civil, e qualquer papel como base militar foi veementemente negado tanto pela liderança do hospital, quanto pelo Hamas, que já pediu visitas de comissões de investigação internacionais.

O governo do movimento islamista palestino acusa o Exército israelense de cometer "um crime de guerra e um crime contra a Humanidade". Em um comunicado nesta quarta, o Hamas disse ainda que "considera a ocupação [de Israel] e o presidente [Joe] Biden totalmente responsáveis pelo ataque do Exército israelense ao complexo médico de al-Shifa".

Para os críticos de Israel, o foco do país no hospital, que nas últimas semanas também tem sido um refúgio para milhares de moradores de Gaza deslocados, além de pessoas gravemente doentes, demonstra o que consideram ser um desrespeito pela vida palestina.

No dia 7 de outubro, o Hamas executou um ataque surpresa no sul de Israel que matou 1.200 pessoas, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses. Desde então, o Exército israelense bombardeia a Faixa de Gaza diariamente. Mais de 11 mil palestinos morreram nos ataques, segundo o Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas.

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