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Operação militar de Israel no norte de Gaza leva a escassez de recursos e de serviços essenciais

Região do país que foi foco de primeira ofensiva israelense voltou a ser alvo de uma operação direcionada e enfrenta crise humanitária

Crianças brincam juntas na poeira perto de barracos em Khan Yunis, no sul da Faixa de GazaCrianças brincam juntas na poeira perto de barracos em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza - Foto: Eyad Baba / AFP

Enquanto a comunidade internacional tenta pressionar Israel a aceitar acordos de cessar-fogo que encerrem as hostilidades e diminuam as tensões no Oriente Médio, a crise humanitária se agrava no norte da Faixa de Gaza.

Sob intensa pressão militar israelense nas últimas semanas, desde que o Exército anunciou uma nova ofensiva contra um suposto reagrupamento de homens do Hamas na área, a região está cada vez mais isolada, sofrendo com escassez de recursos, pessoal e informação.

Principal alvo das operações terrestres de Israel logo após o atentado de 7 de outubro de 2023, o norte de Gaza voltou a entrar na lista das prioridades militares no começo deste mês, quando acusações de que um reagrupamento de células armadas estaria ocorrendo na região surgiram.

Na mesma medida em que a pressão militar aumentou, os serviços de emergência e a imprensa em solo relataram um declínio na capacidade de continuar realizando suas atividades.

Pouco após um bombardeio que atingiu um edifício residencial em Beit Lahia, na madrugada de terça-feira (noite de segunda no Brasil), matando 93 pessoas e ferindo outras 40, o diretor do Hospital Kamal Adwan, Husam Abu Safia, para onde parte dos feridos foram levados, afirmou que o centro médico não tinha condições de oferecer nada além de primeiros-socorros, diante da prisão de parte dos profissionais de saúde na sexta-feira passada. Ao todo, 44 dos 70 integrantes da equipe médica do hospital teriam sido presos.

Se no hospital, apenas serviços de primeiros-socorros estão disponíveis em certas condições, a Defesa Civil de Gaza afirmou na quinta-feira da semana passada que não tinha mais como realizar atendimentos primários nos locais atingidos por Israel, acusando os militares do Estado judeu de matar e bombardear suas equipes.

— Não podemos fornecer serviços humanitários aos cidadãos na província do norte da Faixa de Gaza devido às ameaças das forças de ocupação israelenses [como o Hamas se refere a Israel], que ameaçaram matar e bombardear nossas equipes se elas permanecerem dentro do campo de Jabalia — disse Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil, referindo-se a um dos alvos de operações israelenses nas últimas semanas.

Todos os serviços oferecidos à população em Gaza se tornaram ainda mais dependentes da ajuda enviada pela comunidade internacional após o início da guerra em Gaza.

Mesmo com denúncias de dificuldades impostas por autoridades israelenses para o livre trânsito de carregamentos de produtos essenciais, um novo sinal de alerta foi acendido com a aprovação em Israel, na segunda-feira, de uma lei que proíbe a atuação da Agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) no Estado judeu — o que poderia virtualmente inviabilizar toda a operação da agência.

Após uma forte reação da comunidade internacional na segunda e na terça-feira, o Conselho de Segurança da ONU se manifestou por unanumidade nesta quarta, instando Israel a cumprir as suas obrigações internacionais e a respeitar o mandato da UNRWA.

"Qualquer tentativa de desmantelamento ou redução das operações” e "qualquer interrupção ou suspensão deste trabalho teria graves consequências humanitárias para milhões de refugiados palestinos" e "implicações para a região", advertem.

Deserto informativo
A escassez de recursos enfrentada pela região palestina e a crescente intensidade das operações militares também está diminuindo a quantidade de informações apuradas por jornalistas dentro do território.

Ao menos 170 jornalistas foram mortas e 86 instalações de produção de conteúdo foram destruídas desde o começo da guerra em Gaza, segundo um balanço do Centro Palestino para os Direitos Humanos.

Repórteres em Gaza têm sofrido com as mesmas violências enfrentadas pela população civil palestina em meio ao conflito entre Israel e Hamas, desde os bombardeios até outras situações, como apagões e queda de serviços de comunicações, muitas vezes impossibilitando relatos precisos nas regiões mais atingidas.

— Está havendo uma tentativa sistemática de Israel de interromper a cobertura da mídia sobre Gaza e impedir que essas histórias se espalhem, mais obviamente matando jornalistas — afirmou Fiona O’Brien, diretora da Repórteres Sem Fronteiras no Reino Unido, em entrevista ao jornal The Guardian.

— Nossas investigações mostram que pelo menos 32 foram alvos por causa de seu trabalho.

Pouco após um bombardeio israelense na quinta-feira passada em Jabalia, o jornalista Anas al-Sharif, da rede catari Al-Jazeera ( acusada por Israel de ser uma organização terrorista) começou a transmitir pelas redes sociais o impacto do ataque, perto da rua onde mora.

Com a atividade militar intensa, nenhum outro repórter ou autoridade conseguiu chegar ao local imediatamente.

— Ninguém está vindo para salvá-los — afirmou o repórter.

Cerca de 400 mil pessoas permanecem no norte de Gaza, segundo uma estimativa da UNRWA, incluindo a Cidade de Gaza. O órgão do Ministério da Defesa israelense que administra os assuntos civis nos territórios palestinos, COGAT, diz que 250.000 pessoas permanecem no norte de Gaza. (Com AFP)

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