A criação de faculdades de medicina e a urgência de uma Prova Nacional para médicos
O crescimento exponencial das faculdades de medicina no Brasil tem sido uma pauta de extrema relevância nos últimos anos. A proliferação dessas instituições, majoritariamente privadas e impulsionadas pelo programa de financiamento estudantil (FIES), trouxe à tona um debate necessário: a qualidade do ensino médico e a formação dos futuros profissionais da saúde.
Hoje, muitos alunos entram em faculdades de medicina sem a garantia de receber um ensino de excelência. A realidade é que, em muitas dessas instituições, falta estrutura, corpo docente qualificado e, principalmente, uma abordagem prática que prepare o estudante para os desafios reais da profissão. Não é raro ver recém-formados que saem das universidades sem o preparo técnico, sem experiência em estágios clínicos adequados e, pior, sem a realização de uma residência médica que complemente a formação básica.
Paralelamente, surge uma outra problemática: o peso financeiro. Muitos desses estudantes, ao final de sua jornada, encontram-se endividados, com cifras astronômicas acumuladas no FIES – algumas vezes ultrapassando um milhão de reais. Uma dívida que não só sufoca o jovem profissional, mas também recai sobre suas famílias, muitas delas sem condições de arcar com tal compromisso. Essa situação chegou ao ponto de gerar uma dívida de R$ 54 bilhões ao governo, agravada pela anistia dos juros promovida em gestões anteriores.
Diante desse cenário preocupante, o projeto do senador Marcos Pontes, que propõe a implementação de uma prova nacional de capacidade para médicos recém-formados, surge como um alento. Assim como a OAB avalia os bacharéis em direito antes que possam exercer a advocacia, a ideia de uma avaliação obrigatória para médicos é mais do que necessária: é urgente.
Essa prova serviria como um filtro indispensável para assegurar que apenas aqueles com o preparo técnico e teórico adequado possam exercer uma profissão tão essencial e sensível como a medicina. Afinal, o médico não lida apenas com diagnósticos e tratamentos – ele lida com vidas. A responsabilidade que recai sobre os ombros desse profissional exige um padrão de qualidade que não pode ser negligenciado.
O senador Marcos Pontes, com sua visão futurista e comprometida, merece aplausos por essa iniciativa. Seu projeto não apenas busca elevar o nível da prática médica no Brasil, mas também protege a sociedade de eventuais danos causados por profissionais mal preparados. Além disso, essa medida pode servir como um incentivo para que as faculdades de medicina – especialmente as particulares – melhorem suas estruturas, repensem suas metodologias e priorizem a qualidade em detrimento da quantidade de alunos.
O desafio, no entanto, não termina com a criação da prova. É preciso também repensar a forma como o FIES é gerido, garantindo que o financiamento educacional seja acessível, mas sem comprometer a estabilidade financeira dos estudantes e do próprio país. Assim, podemos evitar que jovens talentosos sejam esmagados por dívidas que jamais conseguirão quitar e, ao mesmo tempo, assegurar que a medicina brasileira continue sendo referência de qualidade.
Portanto, o projeto do senador Marcos Pontes não deve ser apenas debatido, mas implementado com urgência. Somente assim conseguiremos resgatar a essência do que significa ser médico no Brasil – não apenas um título, mas um compromisso inalienável com a vida e o bem-estar da sociedade.
*Médico, empresário, escritor
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