A democracia começa com a inclusão
A inclusão social é um dos pilares de uma sociedade igualitária. Para pessoas com deficiência (PCD), a reabilitação desempenha um papel crucial nesse processo, abrindo caminhos para a autonomia, o empoderamento e a participação plena na comunidade. Infelizmente, esse discurso muitas vezes ocorre somente nas redes sociais – na prática, dos mais de 18 milhões de deficientes no país, apenas 3% conseguem se inserir no mercado de trabalho.
Essa realidade persiste mesmo com a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (Lei 8.213/1991), que completou mais de 30 anos. A legislação exige que empresas com 100 ou mais empregados destinem de 2% a 5% de suas vagas para pessoas com deficiência.
Apesar disso, muitas organizações não cumprem integralmente a lei ou encaram o processo de contratação apenas como uma obrigatoriedade jurídica, e não como uma oportunidade de transformação social. O problema vai além do descumprimento legal: envolve preconceito, falta de acessibilidade e escassez de políticas efetivas de inclusão.
A falta de acessibilidade, em particular, é um dos maiores desafios. Empresas que não adaptam seus ambientes de trabalho para receber pessoas com deficiência criam barreiras físicas e sociais que limitam o desempenho e a integração dos profissionais.
Além disso, há uma percepção equivocada de que contratar PCDs aumenta custos ou requer mudanças drásticas. Na verdade, estudos mostram que a diversidade nas equipes gera inovação e produtividade, trazendo benefícios a longo prazo.
Outro aspecto crítico é a formação profissional. Muitas pessoas com deficiência não têm acesso a programas educacionais inclusivos, o que dificulta sua qualificação para o mercado de trabalho. Essa lacuna na educação gera um ciclo de exclusão: sem acesso ao ensino e à capacitação, as PCDs encontram dificuldades para competir por vagas, perpetuando a sub-representação em empregos formais.
Mudar essa realidade é uma pauta urgente que deveria ser cobrada tanto através da iniciativa pública quanto privada. Engana-se quem acha que a deficiência é exclusivamente hereditária. Ela pode acontecer de diversas formas, com qualquer um. Talvez hoje olhemos para esse grupo de forma distante, mas amanhã podemos fazer parte dele.
* Advogado e presidente da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação.
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