A galinha e os ovos
Antes mesmo de Noé embarcar os animais na sua arca, já havia uma discussão sobre quem teria nascido primeiro: a galinha ou o ovo. Noé, sábio, já sabia a resposta, mas estava tão atarefado com os preparativos, com a organização dos animais (quem vai, quem fica) que deixou o assunto passar. Fez um cadastramento e, a seguir, distribuiu crachás com a identificação dos pares. Foi pior a emenda que o soneto.
Falsificaram crachás; disseram que foram os macacos. Um sobrinho de Noé entrou na lista de suspeitos. O que se sabe é que alguns animais que não estavam na lista conseguiram entrar, como: pernilongos, baratas, percevejos, piolhos, carrapatos, maruins, tuins, moscas, barbeiros, taturanas e mais uma centena de outros.
A seleção para entrada na arca foi complexa, porque só podia entrar um casal de cada espécie, embora, em alguns casos, a permissão aumentou para sete. Peixes ficaram de fora e os cupins, estes por razões óbvias. A distribuição ficou assim: 130 tipos de mamíferos, 30 espécies de cobras, 150 espécies de pássaros, inclusive o corvo. E houve proibição taxativa em relação a unicórnios, quimeras, grifos, pégasos, sereias, centauros, anfisbenas, esfinges, dragões e orcos.
O estresse de Noé e da “diretoria” estava em grau máximo: o tempo corria e ainda havia muito o que fazer, como organizar o estoque da alimentação por prazo imprevisível, cuidados para não juntar predadores perto de animais que poderiam servir de refeição para eles. Os depósitos de alimentos foram a 2a maior preocupação, para não se consumir além da conta (a arca ficou 375 dias sobre as águas) com vigilância reforçada 24 h/dia.
Mesmo assim, contam que circulava comida no câmbio negro a preço de ouro. O macaco – ele, de novo – era um dos suspeitos.
Noé já tinha seiscentos anos quando iniciou a jornada. Seus filhos - Sem, Cam e Jafé - foram nomeados para os cargos mais importantes: alimentação, segurança (disciplina, cumprimento de regras) e entretenimento. Eram permitidas sessões de canto, jogos que não fossem considerados de azar; peças de teatro, após prévio exame; músicas – as mesmas, que ninguém aguentava mais ouvir; álcool, só em cerimônias religiosas.
O Regimento não impediu que um ou outro tentasse quebrar as regras. Quem fez, foi punido severamente para não incentivar outros.
Nesse período, prosseguiram as especulações sobre quem nascera primeiro: a galinha ou o ovo. Depois de 375 dias, não houve consenso e todos que estavam ali queriam mais sair da arca e pisar em terra firme. Mesmo com a segurança tentando impor a ordem, houve correria, tumulto e atropelamentos na descida. Um dos últimos a sair (não há registro se foi Noé ou não), gritou, com voz fraca e cansada: - foi o galo!
EPÍLOGO: Mesmo sem registro de que os fatos aconteceram como está narrado, não é demais afirmar que foi similar (ou pior) em relação ao ocorrido. Podemos pegar o case e comparar com o nosso país de hoje: muito parecido com o Brasil: zorra total. Gente enganando gente, falsificação de ingressos (e dinheiro); golpes de toda ordem; troca de vantagens (toma lá dá cá), lobos com pele de cordeiro etc. Tudo igual. O tempo passa, o tempo voa...
Executivo do segmento shopping centers ([email protected]).
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