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A vida que se vive e a vida que se espera

A expectativa de vida dos brasileiros, segundo os dados mais recentes do IBGE, divulgados em dezembro de 2024, atingiu 77,5 anos. Um número que parece sólido, mas que, como tudo no Brasil, carrega uma pluralidade de histórias, desafios e desigualdades. Viver mais não é apenas uma questão de tempo no relógio; é sobre o que se faz, ou não se pode fazer, com ele.

Esses 77,5 anos, na média, são um mosaico. Nas grandes cidades, em bairros bem estruturados, há quem já ultrapasse tranquilamente os 80. No interior profundo, onde a saúde pública é sonho distante e saneamento básico um luxo, a conta não fecha. O número cai, se desmonta, como uma promessa não cumprida. Não há apenas uma expectativa de vida no Brasil; há várias, cada uma com suas próprias regras.

A medicina avança, é verdade. Vacinas nos protegem de velhos inimigos, tratamentos mais sofisticados garantem que doenças antes fatais sejam hoje controladas. Mas o que adianta curar o corpo se a mente se desgasta pela insegurança, pela falta de perspectivas? O envelhecimento saudável, como dizem os especialistas, vai além do físico: é sobre o que se come, onde se vive, como se sonha.

Há um contraste gritante entre os brasileiros que conseguem envelhecer com dignidade e os que simplesmente sobrevivem. Para uns, os 77,5 anos representam qualidade de vida, tempo para aproveitar netos, realizar viagens ou ler os livros acumulados ao longo da juventude. Para outros, é o prolongamento de uma batalha diária, onde a aposentadoria mal cobre o básico e o sistema de saúde pública é um labirinto. A aposentadoria vem com hora-extra e é preciso deixar para anos à frente o descanso sonhado na juventude.

E o que dizer das diferenças entre homens e mulheres? Elas, como sempre, lideram a estatística, vivendo cerca de sete anos a mais que eles. A explicação está em fatores biológicos, mas também em comportamentos: os homens morrem mais cedo por acidentes, violência e doenças cardiovasculares, muitas vezes agravadas por falta de cuidados preventivos.

Então, o que nos dizem esses 77,5 anos? Que há avanços, sim, mas também tarefas pendentes. É preciso investir mais em educação para a saúde, em saneamento básico, em segurança pública. É necessário que os brasileiros possam não apenas viver mais, mas viver melhor.

Porque a vida, mais do que números, é sobre o que se sente, o que se compartilha, o que se deixa de legado. Longa ou curta, ela precisa valer a pena. Que nossos 77,5 anos sejam, enfim, um tempo de qualidade, e não apenas um dado estatístico. Que possamos, como povo, esperar não só mais vida, mas mais vida em cada ano que nos é dado viver.


* Jornalista, radialista, filósofo.

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