Acessibilidade: estamos prontos?
Quando pensamos em acessibilidade, associamos a rampa, elevadores, ampliação de calçadas, criação de piso tátil, aumento da quantidade de calçadas, sinalização com sons de semáforos ou outras adaptações físicas. O objetivo da acessibilidade é garantir que todos tenham autonomia para executar tarefas simples do dia a dia. Construir rampas ao lado de escadas é garantir acessibilidade a quem necessita de cadeira de rodas.
O envelhecimento da população também traz desafios para acessibilidade, mas ela vai muito além do que os olhos conseguem ver. Um exemplo disso, foi uma situação que ocorreu em uma empresa que contratou uma equipe especializada em arquitetar todo o ambiente do banheiro da empresa para cadeirantes.
Assim que recebeu o funcionário cadeirante, ele solicitou apoio, relatando que o banheiro não estava adequado às suas necessidades. Todos se surpreenderam com a situação, afinal o banheiro estava adaptado! Mas o rapaz, utilizava fralda e necessitava de um trocador para seu apoio. Uma situação individual que a empresa de arquitetura não pode prever.
O primeiro passo para se tornar um ambiente acessível é entender que a busca pela acessibilidade começa antes de qualquer intervenção física ou técnica. Ela inicia com o reconhecimento da diversidade humana e a percepção de que cada pessoa pode ter necessidades diferentes.
Quando buscamos a acessibilidade, estamos, na verdade, nos perguntando: como posso criar um espaço onde todos possam participar plenamente, independentemente das suas condições físicas, sensoriais ou cognitivas? Hoje, já temos muitas informações sobre as necessidades básicas de acessibilidades, como foi relatado acima, mas teremos muitos casos de adaptações, que só poderemos realizar, seja em uma escola ou em um ambiente de trabalho, quando conhecemos o indivíduo e personalizamos o acesso.
Buscar a acessibilidade não deve ser um ato isolado, mas uma ação contínua, que precisa ser incorporada no cotidiano de forma reflexiva e sensível. E isso só acontece, de fato, quando há um processo genuíno de acolhimento, entendimento e adaptação. Acessibilidade, para ser efetiva, não ocorre de forma automática. Ela é um processo que exige acolhimento.
E esse acolhimento começa pela empatia, por se colocar no lugar do outro e buscar entender suas necessidades. Para que um ambiente se torne verdadeiramente acessível, é necessário, inicialmente, ouvir. É preciso conhecer as condições e os desafios de cada indivíduo para, então, adaptar o ambiente ou a situação para que ele se torne realmente inclusivo.
Muitas vezes, não paramos para pensar na possibilidade de um espaço ser diferente, porque não temos o treino mental em pensar no outro que é diferente. Essa reflexão não acontece apenas quando alguém nos pede ajuda ou quando a legislação exige. A acessibilidade deve ser considerada desde o início de qualquer planejamento, seja em uma arquitetura de um prédio, no desenvolvimento de um software ou na estruturação de um evento. É a conscientização de que a sociedade é diversa, e que, por isso, cada pessoa merece ter acesso e participação igualitária.
Assim, a acessibilidade não é algo que ocorre "apenas na prática", mas é um processo que envolve planejamento, reflexão e, principalmente, a atitude de estar aberto a aprender e mudar. É resultado de uma mentalidade inclusiva, que envolve mudanças nas atitudes e na forma de interagir com as pessoas, garantindo que cada indivíduo se sinta respeitado e compreendido. Portanto, o processo de acessibilidade é uma jornada contínua que vai desde a escuta até a ação, passando pelo conhecimento profundo das necessidades e a capacidade de adaptação dos espaços, das atitudes e das práticas.
Em resumo, a acessibilidade é um processo de acolhimento que começa com a empatia, o conhecimento das diferenças e a adaptação de acordo com as mudanças que vem acontecendo em cada cultura. O fato de hoje termos uma população mais velha, mais ativa, que viaja e participativa, influencia muito nos projetos de acessibilidade.
Temos que deixar claro que a acessibilidade é, antes de tudo, um compromisso com a inclusão, que deve ser praticado não só no momento da intervenção, mas de forma constante, refletindo o respeito e a dignidade de cada ser humano. Preparados, não estamos! Mas precisamos estar atentos, ativos, interessados e treinados mentalmente para querer fazer e nos preparar quando houver a necessidade de mudanças.
* Coordenadora do Programa de Inclusão do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília.
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