Opinião

Afinal. Quem mandou matar Marielle?

Há uma pergunta que ainda ressoa decorridos cinco anos do assassinato de Marielle Francisco da Silva, conhecida como Marielle Franco, essa carioca nascida no Complexo da Maré, subúrbio do Rio de Janeiro, em 1979 e assassinada no dia 14 de março de 2018, na mesma cidade que lhe serviu de berço. A sua infância foi semelhante a de tantas outras crianças negras e pobres nascidas em uma favela. Ainda na primeira infância trabalhou com os pais, camelôs, amealhando dinheiro para garantir os estudos. Ao atingir a maioridade tornou-se professora em uma creche, sem esquecer que antes foi bailarina do grupo musical Funk Furacão 2000. Tudo com ela aconteceu muito rápido como se fosse antevisão da vida breve. Sem querer dizer que as condições ambientais acendraram a formação de sua consciência existencial e já dizendo, o fato é que Marielle Franco assimilou os conflitos que lhe propiciaram a militância. Mulher homoafetiva, mãe de Luyara, filha única, no mesmo ano do nascimento da filha iniciou os preparativos para o pré-vestibular. Ingressou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, graduando-se em ciências sociais. Em seguida fez mestrado em administração pública pela Universidade Federal Fluminense. Sua tese: “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança do Estado do Rio de Janeiro. Foi eleita vereadora em 2018 pelo PSOL com expressiva votação, ultrapassou 46 mil votos. A segunda vereadora mais votada do país. Conhecedora das graves circunstâncias do seu meio, seu desempenho parlamentar foi extraordinário: combate a violência contra as mulheres: garantia do aborto nos casos previstos em lei e empenho para que as mulheres fossem partícipes das decisões políticas, além de manter intensa e intransigente defesa de todas as minorias. Não parou por aí. As milícias cariocas que se expandiram assombrosamente na Cidade Maravilhosa encontraram em Marielle terrível e corajosa combatente que a tornou vulnerável ao crime organizado com suas múltiplas facções e coberturas políticas evidentes. Finalmente, com a mudança de Governo, o Ministro da Justiça Flávio Dino chamou para si a responsabilidade, considerando “ponto de honra” a elucidação completa dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, seu motorista. A vida é o bem mais precioso e relevante, considerando-se o principal objeto da tutela penal e consequentemente do Estado. O que resta esclarecer? Quem mandou matar Marielle?  O crime imotivado é uma abstração, resta explicar também os motivos. O país espera uma resposta.

*Procurador de Justiça do Ministério Público de Pernambuco. Diretor Consultivo e Fiscal da Associação do Ministério Público de Pernambuco. Ex- repórter do jornal Correio da Manhã (RJ).

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