OPINIÃO

Alfabetização na idade certa: construindo um futuro digno para nossas crianças

A alfabetização na idade certa é fundamental para o desenvolvimento pleno de um ser humano. No Recife, apesar dos avanços recentes, quase 40% das crianças ainda não estão alfabetizadas na idade adequada. Tal fato constitui grave violação de um direito fundamental, acarretando um enorme prejuízo para a sociedade.

No último dia 29 de maio, o Ministério da Educação (MEC) publicou o ranking nacional de alfabetização na idade certa, Recife atingiu a 6ª posição entre as capitais brasileiras, com 62,39% das crianças alfabetizadas até os sete anos.  Em 2021, Recife estava no 21º lugar. Nesta edição as primeiras colocadas foram Fortaleza, com 74,03%, Curitiba, com 70,41%, Goiânia, com 66,56%, Vitória, com 65,88%, e Porto Velho, com 65,06%. 

No entanto, estamos distantes de qualquer motivo para comemorações. Outras experiências exitosas indicam que poderíamos ter alcançado melhores resultados. Fortaleza, por exemplo, destaca-se nacionalmente, liderando o ranking de alfabetização. Aliás, o Ceará, com o Programa Alfabetização na Idade Certa, iniciado em 2007, tornou-se referência nacional ao estabelecer um pacto de colaboração entre governo estadual e municípios, otimizando investimentos em educação.

O fato de que quase 40% das crianças em Recife não estejam alfabetizadas na idade correta compromete seriamente seu futuro educacional. Crianças que não leem e escrevem adequadamente até o final do 2º ano enfrentam dificuldades acadêmicas. A falta de uma base sólida em leitura e escrita pode levar a um ciclo danoso de fracasso escolar, inclusive, de evasão.

Para contextualizarmos melhor o quadro, devemos reconhecer que a situação nacional da alfabetização é dramática quando comparado com países que mais cuidam da educação. Em nações como Finlândia, Japão e Coreia do Sul, a alfabetização na idade correta é praticamente universal, refletindo um compromisso sério com a educação desde as primeiras fases escolares. Esses países investem fortemente em formação de professores, ambientes de aprendizagem de excelência e envolvimento comunitário. O Brasil, com índices de alfabetização ainda baixos, precisa adotar medidas urgentes para não ficar ainda mais atrás no cenário global.

Olhar para as experiências internacionais é fundamental. A International Literacy Association (ILA) recomenda diretrizes factíveis e necessárias:

a) Início Precoce e Consistente: Começar a alfabetização cedo, com exposição constante a livros e materiais de leitura apropriados.
b) Instrução de Alta Qualidade: Professores bem formados e capacitados em métodos de alfabetização baseados em evidências.
c) Engajamento Familiar e Comunitário: Envolver famílias e comunidade no processo de alfabetização.
d) Avaliações Contínuas: Monitorar o progresso e ajustar a instrução conforme necessário.
e) Ambientes de Aprendizagem Ricos: Criar ambientes de leitura que incentivem o amor pelos livros.

Em conclusão, o recente resultado do Recife quanto à alfabetização na idade certa é significativo e merece nosso reconhecimento. No entanto, ainda há muito a fazer. Olhando para o relativo sucesso de Fortaleza e práticas internacionais, o Recife pode obter melhores resultados, atingindo a universalização ao término da próxima gestão municipal. A educação é a base para um futuro próspero e digno para todos. É imperativo garantir que todas as crianças sejam alfabetizadas na idade certa, cumprindo assim a obrigação constitucional de garantir educação de qualidade. Da alfabetização na idade certa, virá a leitura, e dela, o combustível necessário para o desenvolvimento pleno de nossas crianças. No futuro, colheremos os frutos. O Recife precisa e merece.

*Professor da UFPE e ex-vereador do Recife

 

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