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OPINIÃO

As Fernandas no Cinema Brasileiro

Poucas figuras no cinema brasileiro sintetizam tão bem a riqueza de nossa arte quanto Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. Mãe e filha, essas gigantes da dramaturgia não apenas simbolizam o talento e a força do cinema nacional, mas também representam um legado que transcende gerações. Esse legado ganhou um novo e emocionante capítulo quando Fernanda Torres foi premiada com o Globo de Ouro de Melhor Atriz em 2025, 27 anos após sua mãe conquistar o mesmo reconhecimento por Central do Brasil.

O clássico de 1998, dirigido por Walter Salles, consolidou o nome de Fernanda Montenegro no cenário internacional. Sua atuação como Dora, uma mulher solitária que reencontra a compaixão ao ajudar o jovem Josué (Vinícius de Oliveira), é até hoje considerada uma das maiores da história do cinema. A indicação ao Oscar foi um marco histórico para o Brasil. Agora, mais de duas décadas depois, Fernanda Torres resgata esse protagonismo global ao interpretar Eunice Paiva em Ainda Estou Aqui, também dirigido por Salles.

A premiação de Fernanda Torres no Globo de Ouro tem uma carga simbólica tão marcante quanto a vitória de sua mãe em 1998. Primeiro, porque reafirma a relevância atemporal de Central do Brasil. Segundo, porque une, em um ciclo artístico impressionante, duas gerações de Fernandas (mãe e filha) no centro das atenções do cinema mundial. Fernanda Torres, que já tinha uma trajetória consagrada, encontrou em Ainda Estou Aqui uma nova oportunidade de se reinventar, trazendo ao mundo uma personagem carregada de emoção e história.

Ao longo de sua carreira, Torres demonstrou uma versatilidade impressionante, transitando com maestria entre o drama e a comédia. Premiada em Cannes, sua consagração no Globo de Ouro de 2025 representa um novo ápice. Sua interpretação de Eunice Paiva é descrita como visceral, revelando nuances que ampliam a complexidade dessa personagem. É instigante perceber como duas atrizes de gerações diferentes, mas de talentos complementares, conseguem explorar, cada uma a seu modo, camadas profundas de humanidade nas obras que protagonizam.

Walter Salles, o visionário por trás de ambos os filmes, merece destaque. Sua habilidade em transformar narrativas profundamente brasileiras em histórias universais é única. Ainda Estou Aquidialoga com o passado de Central do Brasil de maneira criativa e sensível, mostrando que o cinema pode conectar diferentes tempos e emoções. Sua parceria com as Fernandas prova que, em sua direção, o talento encontra o espaço perfeito para brilhar.

A vitória de Fernanda Torres também reacende a esperança no impacto do cinema brasileiro no cenário mundial. É um lembrete poderoso de que nosso talento pode atravessar fronteiras e ser reconhecido, mesmo em meio às dificuldades enfrentadas pela indústria cinematográfica nacional. Mais do que isso, essa conquista renova os sonhos de um Oscar, isto é, ainda inédito para o Brasil, como uma possibilidade cada vez mais concreta. Seria essa vitória um sinal de que Hollywood está pronta para fazer justiça ao talento brasileiro?

Fernanda Montenegro, por sua vez, permanece como a pedra fundamental desse reconhecimento. Sua atuação em Central do Brasil abriu caminhos que agora sua filha trilha com maestria, reforçando o impacto duradouro da família Torres no cinema nacional e internacional. É uma celebração de um legado compartilhado, que não se limita às premiações, mas que inspira gerações de artistas e espectadores.

As Fernandas mostram que o cinema brasileiro é mais do que entretenimento: é arte, memória e emoção. A conquista de Fernanda Torres é, também, uma vitória de Montenegro, de Walter Salles, de Vinícius de Oliveira e de todos que acreditam no poder transformador de nossas histórias. É uma reafirmação de que nossas vozes merecem ser ouvidas e de que temos muito a oferecer ao mundo.

Que essa vitória seja o ponto de partida para novas conquistas. Que o talento de Fernanda Torres continue a encantar o mundo, assim como o de sua mãe, e que o cinema brasileiro conquiste cada vez mais espaços. Afinal, as Fernandas (Montenegro e Torres) não são apenas grandes atrizes: elas são o próprio coração do cinema brasileiro, pulsando com brilho, intensidade e uma paixão que atravessa gerações. E, quem sabe, em breve, o Brasil finalmente verá seu nome anunciado no palco do Oscar, coroando, de vez, nossa grandeza artística.


* Articulista, flósofo, pedagogo, teólogo ([email protected]).

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