Condenado ao silêncio
Surgindo no apogeu dos sofistas, Sócrates foi confundido como um deles. Porém, aos poucos se viu que a pedagogia socrática era diferente. Enquanto os sofistas utilizavam o método tecnicista, Sócrates era audacioso, procurando refutar metodologias que engessassem o aprendizado.
Não por acaso, se valeu da ironia e da maiêutica. Os mestres da retórica eram relativistas, Sócrates um ávido pela verdade. Com efeito, a revolução pedagógica causada pelo ensino libertário de Sócrates causou-lhe grandes problemas, imputando-lhe a pecha de um professor que por intermédio dos ensinamentos pervertia os jovens e desrespeitava os deuses.
Conclui-se que os maiores problemas estavam centrados no financeiro e no religioso, demonstrando que os mesmos eram as principais preocupações das lideranças atenienses.
Depois de fazerem malabarismo para imputarem crime a Sócrates, levaram-lhe à condenação, aplicando-lhe a pena capital. Na verdade, o caminho que encontraram para castrarem sua voz foi tirando-lhe a vida.
No mundo atual, infelizmente, não é difícil encontrar casos semelhantes. É bem verdade que as pessoas não são condenadas a beberem Sicuta, mas a penalidade aplicada se “modernizou”. Imputa-se a “pena” do ostracismo, castrando qualquer possibilidade da liberdade de expressão.
Afinal de contas, a liberdade se restringe ao que Milton Nascimento cantarolou na música Olha. Assim diz a canção: “Tu clamas por liberdade, mas só aquela que te convém”. O discurso que agrada é o do status quo. Assim, nutrem-se da cegueira social promovendo cada vez mais o crescimento de asseclas que apenas repetem o que escutam.
Na verdade, estão condenados à alienação, mas acreditam que possuem a verdade, afinal, sentem-se proprietários do que acreditam que lhes fora revelado. E em nome da suposta revelação, sentem-se no direito de se apresentarem como paladinos da história, mas na verdade são papagaios mediáticos, alinhados ao que possa sustentar suas idiossincrasias.
Feliz Ano Novo!
* Cientista político.
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