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OPINIÃO

Crise, sucessão e renovação: os desafios políticos de 2025

O ano de 2025 inaugura um período em que a política brasileira se assemelha a uma partida de poker em um cassino barulhento, onde a habilidade de blefar conta tanto quanto a sorte de receber a mão certa. Nesse ambiente de incertezas, os jogadores agem com cautela, sem saber ao certo se devem avançar, recuar ou simplesmente esperar pelo próximo embaralhamento. O ambiente político de 2026 será definido não apenas pela competência em jogar, mas também pela forma como o acaso (a partir de decisões do STF, ou das mazelas da economia, por exemplo) reorganizará a disputa.

O ponto de partida desta análise é o fim turbulento de 2024, cujo símbolo mais eloquente foi a internação do presidente Lula em São Paulo. Uma cirurgia delicada, e, sobretudo, a idade avançada do mandatário – ele completará 81 anos quando os brasileiros forem às urnas em 2026 – lançam sombras sobre a possibilidade de uma nova candidatura. 

A cena de Lula convalescente, sem transmissão formal do cargo ao vice-presidente Geraldo Alckmin e sem a presença simbólica deste último no hospital, gerou ruídos difíceis de ignorar. Não foram apenas eventos isolados, mas sim sinais de um desconforto político mais profundo, onde Alckmin, a despeito de ocupar o segundo posto mais importante da República, parece uma presença desconvidada nos círculos mais íntimos do presidente.

No entanto, seria um erro prematuro considerar o vice-presidente carta fora do baralho. Alckmin, sobrevivente político e pragmático nato, permanece como uma alternativa no caso de Lula não disputar a reeleição. A incógnita, porém, reside na escolha do seu campo de batalha: o centro onde sempre se sentiu à vontade? A centro-direita?

Ou mesmo um ousado flerte com a centro-esquerda, que o abrigou na aliança vitoriosa de 2022? O caminho de Alckmin dependerá tanto das movimentações internas do PT, que o enxerga como um aliado conveniente, mas desconfortável, quanto das articulações do centrão, cujos interesses no Congresso funcionam como um pêndulo: ora no governo, ora em oposição velada.

Enquanto o governo, sem força no Congresso, lida com seus próprios dilemas, a economia produz cenários dramáticos. O dólar, que ultrapassou a simbólica marca de R$ 6 em 2024, projeta uma inflação severa para 2025, com impactos imediatos sobre os mais pobres. A questão fiscal, por sua vez, continua a ser o calcanhar de Aquiles de uma gestão que, apesar de elevar a arrecadação em 9% no último ano, viu as despesas públicas subirem vertiginosamente em 16%. O déficit, aliado a uma Selic implacável de 14,25%, formará um ambiente de crédito caro e consumo retraído, reduzindo a capacidade de investimento e crescimento econômico.

Esses números fragilizam o ministro Fernando Haddad, figura central na tentativa de reconstrução da imagem econômica do governo e, por tabela, possível sucessor de Lula. Haddad, no entanto, parece encurralado entre as exigências do mercado, o crescimento desmedido do gasto público e as resistências de setores do próprio governo, incluindo o próprio presidente, que sabotam sua agenda. Sem uma economia minimamente estável, qualquer tentativa de transformar Haddad em um nome competitivo para 2026 terá chances diminutas de sucesso.

Do outro lado do espectro político, o horizonte da oposição é igualmente nebuloso. Jair Bolsonaro, certamente, continuará inelegível. Sua estratégia, se é que há uma clara, parece ser a de controlar o timing da sucessão, preservar o espaço político da família Bolsonaro e evitar a ascensão de um sucessor precoce. Embora tenha comemorado resultados favoráveis nas eleições municipais de 2024, o desgaste das investigações sobre os acontecimentos de 8 de janeiro, aliado à prisão de figuras próximas, minam sua capacidade de influência. O enfraquecimento de Bolsonaro não apenas desorganiza a oposição, mas deixa um vácuo que poucos se arriscam a preencher.

Entre as poucas figuras que despontam, o governador Tarcísio de Freitas emerge de modo consistente, mas mantém um discurso reservado, fiel à promessa de buscar a reeleição em São Paulo. Sua posição prudente é um reflexo da realidade: um passo precipitado, contrariando Bolsonaro, poderia ser fatal em um campo político tão volátil. Além de Tarcísio, há um deserto de lideranças com articulação nacional ou capacidade de mobilização, o que torna a oposição, de hoje, mais frágil do que a que enfrentou Lula, sem sucesso, nos seus dois primeiros mandatos (2003 – 2010).

O ano de 2025, portanto, não será apenas um período de transição, mas um verdadeiro campo de provas para os que aspiram ocupar a cadeira presidencial em 2026. O governo Lula enfrenta desafios estruturais e a pressão de um tempo que corre contra ele. A oposição, por sua vez, para ter qualquer chance, precisa encontrar um nome e um discurso que ressoe com o eleitorado moderado, ao mesmo tempo, mantendo a base de Bolsonaro. 

Entre a possível saída de cena de Lula e Bolsonaro, o jogo político brasileiro abre-se como poucas vezes na história recente. 

Será 2026 um ano de uma renovação de atores, e de pautas? Essa é a grande interrogação que o calendário político, de 2025, nos reserva.


* Ph.D em Ciência Política e doutor em Direito.

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