Da linha de código à inteligência artificial: o novo perfil do desenvolvedor
Já se perguntou como será o trabalho de um desenvolvedor nos próximos 5 ou 10 anos? É fácil deixar a imaginação fluir para cenários dignos de ficção científica, repletos de hologramas e interfaces neurais. Contudo, a verdade pode ser ainda mais fascinante. À medida que a inteligência artificial avança, transformando processos e ampliando as capacidades humanas, o futuro do desenvolvimento de software está se configurando de maneiras surpreendentes e acessíveis, prometendo um cenário muito mais tangível do que muitos poderiam supor.
O papel do desenvolvedor está em constante evolução, como sempre foi. Desde o surgimento de linguagens modernas e uma infinidade de frameworks até a revolução da computação em nuvem, estamos agora à beira de uma nova era no desenvolvimento de software. E qual é o catalisador dessa transformação? O hype dos últimos anos, a inteligência artificial.
Um receio comum nesse contexto é a ideia de que a IA possa substituir os desenvolvedores. No entanto, o que temos observado é que a inteligência artificial está se tornando uma aliada poderosa, potencializando as habilidades humanas. Imagine contar com um assistente incansável, capaz de sugerir código, identificar erros e até gerar testes automaticamente.
Muitos desenvolvedores que leem este texto provavelmente não precisam imaginar; eles já estão vivenciando essa transformação em sua rotina. Ferramentas como GitHub Copilot, Claude da Anthropic, ChatGPT e Cursor estão tornando isso uma realidade, escrevendo até 46% do código produzido por seus usuários. Além disso, a qualidade desses modelos continua a evoluir a passos largos, mês após mês.
No entanto, a revolução vai além disso. O conceito de "1 bilhão de desenvolvedores", promovido por gigantes como GitHub e apoiado por investidores como a Sequoia Capital, não é apenas uma meta ambiciosa — é uma visão de um futuro em que o desenvolvimento de software se torna acessível a uma parcela significativamente maior da população. Essa mudança promete democratizar a criação de tecnologia, permitindo que pessoas de diversas formações e experiências contribuam para a inovação e o avanço da sociedade.
Mas como seria possível alcançar um número tão colossal? Essas empresas estão propondo várias frentes para tornar essa visão realidade:
No-code e low-code: usuários de plataformas que permitem criar aplicações complexas com pouco ou nenhum conhecimento de programação tradicional.
IA generativa: usuários de assistentes capazes de transformar descrições em linguagem natural em código funcional;
Citizen developers: profissionais de outras áreas que, empoderados por essas novas ferramentas, conseguem criar soluções tecnológicas de forma independente;
Democratização do conhecimento: Recursos educacionais cada vez mais acessíveis e eficientes para aprender programação.
A empresa Gartner já reconhece o fenômeno do "Citizen Developer" como uma tendência significativa. Esses profissionais, mesmo sem formação tradicional em TI, conseguem criar aplicações e automações para suas áreas de negócio.
Embora essa prática traga desafios — como a manutenção de código legado e possíveis conflitos com equipes de TI tradicionais — ela também abre um vasto leque de possibilidades. Ao capacitar colaboradores de diferentes áreas a desenvolver soluções, as empresas podem acelerar a inovação e a eficiência, aproveitando o conhecimento específico de seus profissionais para atender às necessidades reais do negócio.
E onde ficam os desenvolvedores "tradicionais" nesse novo cenário? Longe de serem substituídos, eles se tornarão ainda mais valiosos. Com a inteligência artificial assumindo tarefas repetitivas e "boilerplate", os desenvolvedores poderão concentrar-se em problemas mais complexos, na arquitetura de sistemas e na inovação.
Essa mudança representa uma evolução natural do conceito de "Profissional em T", que tanto defendemos: aqueles que têm conhecimento abrangente e especialidades profundas, prontos para enfrentar os desafios de um ambiente tecnológico em constante transformação.
Talvez a meta de 1 bilhão de desenvolvedores seja apenas uma hipérbole, mas o que realmente importa é que o futuro do desenvolvimento de software é colaborativo, criativo e amplificado pela inteligência artificial.
Estamos caminhando para um cenário onde as barreiras de entrada são menores, mas o potencial de impacto é maior do que nunca. Um futuro em que um adolescente pode desenvolver um aplicativo em poucos dias e em que profissionais experientes conseguem resolver problemas que antes pareciam extremamente complexos com muito mais facilidade.
Estamos à beira de uma nova era para o desenvolvimento de software, onde a criatividade humana se combina com o poder da inteligência artificial para gerar soluções que podem transformar todos os aspectos de nossas vidas. Essa sinergia promete não apenas impulsionar a inovação, mas também democratizar o acesso à tecnologia, tornando possível que mais pessoas contribuam para moldar o futuro.
* Program Manager da Alura e autor de IA.
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