Opinião

E chega o Carnaval de outrora 

Assim se começa o Carnaval em “1900-e-me-esqueci”: Sob os aplausos da multidão, os arlequins e foliões frevavam ao som do batuque ritmado da orquestra que varava pelas ruas iniciando o Sábado de Zé Pereira. “Oh quanta alegria, mais de mil palhaços na folia”. Sem intervalo, sem hora a seguir, tudo era só a alegria contagiante, num prenúncio do que seria os dias seguintes. Muito colorido, muito passo a fazer. 

Em um dia de prosa, minha avó materna me contou como eram seus carnavais juvenis: não havia festa nas cidades vizinhas que “empareasse” com aquela pujança de Afogados da Ingazeira. O frevo ecoava pelas ruas que cercavam as praças e, entre a saudade que lhe queimava os olhos e a realidade que aguçava sua memória, ela alimentou meu espírito para o tempo em que ela foi uma linda foliã no Sertão do Pajeú. 

Contou-me que nos carnavais afogadenses as jovens ajudavam suas mães fazendo “limas”, as quais eram à base de velas, no formato de cajus, limas, cabaças e maçãs. As velas eram derretidas e colocadas nas formas de madeira e, para solidificar aquele líquido quente, eram colocadas em água fria. As duas metades eram ajuntadas e coladas com um pouco de vela derretida. Assim, as jovens faziam pequeno furo por onde colocavam um perfume, feito com água e a essência do aroma “flor de amor”. Enchiam as bolas, coladas com pena de galinha, que molhavam na parafina quente. Mergulhavam as limas, ou cajus, na água perfumada e depois fechavam o pequeno furo para que a água não entrasse nas limas mergulhadas n’água. 

Daí, quando essas jovens avistavam outros rapazes, elas pegavam as limas perfumadas e escondiam nas costas. Felizes, aproximavam-se deles e atiravam as limas nas pessoas, que eram molhadas com a água perfumada. Não havia nenhuma reclamação, só o perfume que se esparramava nos corpos dos carnavalescos incautos. 
Assim eram os carnavais da minha avó no sertão de Pernambuco no início do século 20.

Em Orlando (Estados Unidos), 01/02/2024.

*Maria Lúcia de Araújo Nogueira é advogada.

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